#meuprofessorracista: Nova hashtag relata racismo de professores

(Foto: Alberto Marques/AT)

Foto: Reprodução/Facebook

No início desta semana, a hashtag #meuprofessorracista se popularizou em redes sociais como o Facebook e o Twitter.

A movimentação virtual surgiu a partir de um episódio ocorrido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Em carta aberta, o coletivo Ocupação Preta relata que, durante uma discussão em aula, uma professora da faculdade teria abordado com chacota assuntos como marchinhas racistas e a questão racial na obra do escritor Monteiro Lobato.

no Desabafo Social

“Carta Aberta da Ocupação Preta

No dia 20 de março, durante uma discussão na aula de Teorias do Texto na FFLCH – USP, a temática voltou-se para o debate racial no momento em que os assuntos “marchinhas racistas” e “o racismo de Monteiro Lobato” ganharam um tom de chacota dado pela então professora que ministrava a aula, o que acarretou em uma discussão levada por uma aluna no dia 27 de março e que foi abafada aos gritos pela docente.

Hoje, 3 de abril, a Ocupação Preta entrou em sala de aula para suscitar uma retomada histórica contida no debate racial que permeia as obras escritas por Monteiro Lobato, apresentando suas posturas muito bem documentadas e acessíveis até mesmo na internet.

A Professora em questão trouxe trechos de um livro que reforçava a teoria de que Monteiro não foi racista, o que intensifica dogmas da cultura racista ainda existentes no Brasil e no mundo. Entendemos nitidamente que o papel acadêmico do pesquisador é o de conhecer os diferentes pontos de vista de quaisquer discussões.

Questionamos a professora sobre o fato de vir a sala de aula sem preparar previamente, no mínimo, uma análise do autor e sua postura em relação as suas obras, bem como seu contexto e sua participação na sociedade brasileira. Analogicamente aprofundamos a discussão contando à professora o quão grave seria se trouxéssemos qualquer material que fizesse relação entre alguma minoria a ratos, por exemplo – considerando o uso de ideais pejorativos – sem sequer utilizar um contraponto discursivo. Levantamos o debate sobre o Negro no Brasil atual, porque sabemos que a população ainda é estereotipada e marginalizada nos dias de hoje.

Estamos falando do quão grave é apresentar e analisar como exemplo a construção da imagem de “Tia Anastácia” ignorando as discussões já existentes sobre como a personagem e sua caracterização de “a serva boa e fiel” têm como função narrativa e ideológica a suavização das relações de poder interraciais e o reforço da servidão como espaço reservado ao negro, se encaixando como um grande exemplo do estereótipo das Mammies norte-americanas e das Mães-pretas brasileiras.

A problemática sobre a obra de Monteiro Lobato está longe de ser um assunto de debate apenas entre movimentos negros brasileiros. Já é um consenso entre estudiosos de áreas diversas das ciências humanas que Monteiro Lobato e sua literatura tiveram um papel importante na disseminação das ideologias eugênicas e no avanço de um cientificismo racista que influenciou políticas sanitaristas do Estado durante o início do século XX, infelizmente com desdobramentos que seguem atuais. Ainda que o desenvolvimento da obra de Lobato possa incluir a presença do negro como protagonista, o faz de uma maneira totalmente equivocada e racista, que há tempos é questionada não só por militantes mas também por uma intelectualidade interessada no debate sobre as ideologias que dominaram o Brasil em épocas passadas.

Ainda assim, sabendo que se perpetua nas universidades uma diretriz e um embasamento teórico pertencente à branquitude, levantamos a necessidade de que a professora conheça, discuta ou ao menos escute o que os alunos têm a dizer, abandonando seu posto de superioridade.

É importante que a população em geral, e especialmente a negra, tenha conhecimento de uma série de leis que servem para responsabilizar diversos tipos de discriminação de quaisquer naturezas.

Por fim, repudiamos a postura da professora que exigiu que fôssemos retirados pela segurança do Campus, e que ousou dizer que conhece um professor universitário que, conforme sua fala, “é mais negro que todos nós” alunas e alunos que estávamos presente na aula. Esse tipo de postura mostra o quanto temos professores que necessitam urgentemente de formação acadêmica em conformidade com a Lei 10.639/03 sobre o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, já que são responsáveis pela formação acadêmica de futuros professores.

CONVIDAMOS TODOS AS ALUNAS E ALUNOS NEGROS DAS UNIVERSIDADES E FACULDADES DO BRASIL A PARTICIPAREM DA CAMPANHA VIRTUAL #MeuProfessorRacista
“Seu silêncio não vai te proteger!”

Confira os relatos abaixo:

-+=
Sair da versão mobile