A nomeação do deputado Feliciano como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e a luta pela sua demissão do cargo mostram que a homofobia e outros preconceitos viraram um fato político, que encontra embasamento ideológico em formulações supostamente acordes com preceitos religiosos.
Por Michelle Fraga*
“Não existe ordem cromossômica homossexual. Existe a ordem cromossômica de macho e fêmea”.
Pastor, teria sido excelente se a cadeia natural da humanidade fosse assim, homens, mulheres e ponto final. Mas as coisas não caminharam bem para esse lado. O mundo enlouqueceu!
Existem homens que gostam de mulheres, mulheres que gostam de homens e,acredite, homens que gostam de homens e mulheres que gostam de mulheres. O que fazer com esse grupo que resolveu fugir à regra, enquanto a ciência e a igreja não se entendem?
Sinceramente, eu não tenho a menor ideia, mas vou te contar o que as pessoas normais (homens e mulheres heterossexuais) andam fazendo com eles.
Que tal tratá-los como pessoas normais? Isso mesmo. Parece estranho, né? Mas tem dado certo. Tão certo que começaram a pesquisar que diabos é essa tal de homossexualidade.
Alguns acham que se trata de um terceiro sexo e superior aos dois já existentes e sabe por quê? Porque um homossexual não tem vergonha de gostar de verdade de um amigo por ficar preocupado com o que as pessoas vão achar ou comentar. Ah, e o senhor já viu homossexual sofrendo por amor (sim, eles sempre sofrem por amor simplesmente porque nunca param de amar)? Nem te conto, é uma tristeza. Acha que eles ficam indiferentes, ou agem de forma madura? Que nada. Eles colocam uma música bem triste pra terminar de acabar com tudo, falam que vão se matar e nunca mais vão abrir o coração pra ninguém… e não é que dá certo? Eles se recuperam que é uma beleza.
“Se eu tomar um tapa na cara é igual um homossexual tomar tapa na cara, se alguém me xingar é igual. A lei tá igualzinha pra eles se alguém xingar eles também”.
Pastor, eu não sei por aí onde o senhor mora. Por aqui não é bem assim não.
Fui à delegacia dá queixa quando tive minha casa invadida por um ladrão. Chegando lá, havia um rapaz na minha frente, todo machucado que foi agredido porque era homossexual. Fiquei assustada, vou explicar. Dizem que mulher que gosta de mulher parece homem… ah, o senhor precisa ver algumas mulheres quando brigam. Viram bicho, ninguém as segura.
Já imaginou uma mulher que brigou com o marido saindo por aí com cara de homem? Meu Deus, que risco. O mundo lá fora realmente está uma loucura.
Mas vamos voltar ao assunto da delegacia, então… o policial falou “deixa eu atender a senhora primeiro, porque briga de viado eu resolvo depois”. Aí eu me preocupei mais ainda.
Se eu brigar com meu marido, vou apanhar na rua e ainda vou ficar no fim da fila pra ser atendida na delegacia.
Vai ver que é por isso (agressões, discriminações e até mesmo assassinatos) que os homossexuais precisam de uma legislação especifica, né?
“Eu não acredito que dois homens possam criar uma criança perfeita”
Eu também não! O senhor está coberto de razão.
Fui a uma reunião de pais e mestres na escola do meu filho e fiquei horrorizada quando dois pais se apresentaram como pais da mesma criança. Sim, eles eram casados. Mas não foi isso que me impressionou. O filho deles era o mais educado, o que sempre estava com a tarefa em dia, o que tinha o uniforme mais limpinho e um dos poucos que tinha sua agenda assinada pelos pais diariamente e eu, mãe, heterossexual, ainda estou no estágio de tentar entender como funciona a agenda escolar.
Me deu vontade de beliscar aquela criança para ver se era de verdade, ela não gritava, não mostrava nenhum sinal de perturbação e só levava lanches saudáveis, dá pra acreditar?
Eu, na verdade, sou uma mãe que administra o caos. Meus filhos não me obedecem, brigam entre si o tempo todo, estudam quando querem e a internet e o vídeogame são seus melhores amigos… mas peraí… eu sou mulher, o pai das crianças é um homem, somos um casal heterossexual e também não conseguimos criar crianças perfeitas… Melhor a gente pular essa parte, né?
“A autoridade não é pra julgar pessoa, a autoridade é pra condenar o pecado”
Exato! Corretíssimo! Esplêndido!
Ninguém tem autoridade para julgar ninguém. Ninguém tem o direito de diminuir outra pessoa a um ser com “problemas psicológicos” por ter uma opção sexual diferente da nossa. Ninguém tem o direito de humilhar, condenar, apontar na rua, fazer comentários, agredir e até mesmo levar a óbito um ser humano de orientação sexual fora dos padrões exigidos pela sociedade somente porque o evangelho e a ciência até hoje não conseguiram se entender.
Porque o que a sua igreja não te avisou é que pecado é deixar uma criança na fila de adoção porque os pais que querem adotá-la são gays, pecado é uma mulher só conseguir se livrar do marido agressor depois de morta de tanta porrada porque a sua igreja condena o divórcio, pecado é fechar os olhos para todos os homossexuais agredidos e assassinados porque a sua igreja acha que eles não precisam de legislação em sua defesa.
Da próxima vez, pensa melhor antes de falar tanta besteira, pastor.
*Michelle Fraga é publicitária
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Fonte: Vermelho