Jogadoras Cubanas do time de vôlei do Usiminas foram chamadas de negras de merda por um torcedor do Rio do Sul, time de vôlei de Santa Catarina, durante uma partida entre as duas equipes naquela cidade. Uma funcionária da rede Subway no Rio de Janeiro teve sua foto divulgada nas redes sociais enquanto fazia a limpeza de um balcão, com a legenda “Escrava Isaura”. A foto foi postada pela própria gerente da loja na qual ela trabalhava. Ao reclamar do desrespeito e exposição da sua imagem, ouviu do dono da loja que tudo não passou de um elogio e que ela estava sendo comparada a uma atriz. Deveria se sentir honrada. Justificativa natural vinda de um racista. Eles acham que todo preto é burro mesmo, né?
Por NÊGGO TOM, do Brasil 247
Vai começar o vitimismo! Diriam os menos incomodados com a causa. O que é, até certo ponto, compreensível. Afinal, se eu não sofro racismo por que deveria me importar com quem sofre? A dor não é minha. Eu não sou preto. Eu realmente acredito que estou livre de todo e qualquer tipo de preconceito ou de retaliação por ser branco. Tenho a cor da pele igual a dos colonizadores e isso me permite até ser confundido com um rico ou com alguém bem letrado, mesmo que eu seja pobre e analfabeto. Dificilmente vão imaginar que eu seja o segurança do local ou a tia do café, só porque estou vestindo um terno preto ou um usando um lenço com costumes afros para compor o visual.
É inegável que branco não sofre racismo só porque é branco, embora alguns não sintam nenhum constrangimento em dizer que já foi chamado de branco azedo e até de macarrão sem molho em algum momento de sua existência. Cruel demais! Traumatizante! Alguns até viciaram-se em catchup durante o período de depressão. E olha que eles ouviram isso sem estarem imersos em água fervente ou sendo chicoteados no tronco. De qualquer forma isso deve ter abalado muito a autoestima deles e eu não quero parecer insensível a ponto de não me solidarizar com todos os brancos que já se sentiram vítimas de racismo reverso (Risos. Muitos risos. Perdoem-me! Não pude me conter) algum dia. Como alguns gostam de dizer: Não está sendo fácil ser branco (racista) hoje em dia. Eu concordo. Principalmente porque os neg ros de hoje não são mais os mesmos de ontem.
Há um despertar do estado letárgico de subserviência, outrora imposto como lei pelos coronéis e atualmente instituído com sutileza pelo novo sistema escravocrata democrático. Sutilezas essas que tentam fazer jus a capacidade de raciocínio superior que alguns atribuem a si mesmos sobre os demais. Como se os demais fossem todos idiotas e incapazes de compreender a linguagem codificada da casa grande. Tolinhos! Eu fico imaginando como deve ser uma reunião corporativa em algumas empresas e instituições que em nome da tradição, fazem de tudo para manter a linhagem ariana em seus quadros, mas precisa abrir um processo seletivo para novas contratações. Ou não existem empresas com essa “filosofia”? Ah! Para! Isso é coisa da minha cabeça. Vivemos numa meritocracia e em pleno regime de igualdade de direitos. Isso n&atil de;o existe! Mas suponhamos que existisse?
Eles precisam se certificar de que não vai aparecer nenhum preto concorrendo à vaga, para depois não ficar de mi mi mi dizendo que não foi escolhido só porque era preto. Mas como impedir isso? Alguém sugere: “Coloca no anúncio que tem que ter boa aparência. Eles já vão se tocar” Outro, um pouco menos obtuso questiona: “Mas existem negros de boa aparência também. São raros, mas existem.” Alguém dá outra sugestão: “Coloca que tem que ter nível superior”. Outro rebate: “Mas tem preto aí que já tem até doutorado.” Outro mais indignado reclama: “Tá ficando difícil sustentar a seletividade. Culpa dessa esquerda de merda. Chama o Frederico do marketing. Ele tem boas ideias de exclusão.” E assim seguiram a reunião traçan do o perfil ideal para os novos contratados. Frequentador do Jóquei Club do RJ, admiradores de Hitler, membros da Ku Klux Klan, cantor de sertanejo universitário e ex-paquita, foram os requisitos que decidiram colocar no anúncio. Agora não tem erro! Duvido aparecer um preto na seleção.
Navegando ainda pelas sutilezas do racismo nosso de cada dia, nos deparamos com um preto na fila do cliente especial de uma agência bancária, o que faz um racista desavisado imaginar que está na fila errada. Alguns até perguntam para se certificar. Essa ainda é a fila do cliente especial? Ao ouvir que sim, não podem deixar de dar aquela olhada básica de baixo pra cima. Na linguagem codificada dos racistas isso quer dizer: Que crioulo abusado! Numa loja de grife espere para ser atendido quando algum vendedor decidir notar a sua presença. Mesmo a maioria deles sendo pobres e assalariados, ou seja, também vítimas de preconceito, eles não podem deixar de seguir o script. Principalmente se não forem negros. Talvez não conheçam a frase do filósofo popular Dicró, que dizia: “No Brasil, branco pobre é preto” Chupa!< /p>
O racismo segue sutil ou escancarado, sob lei ou sob medida provisória, empanado ou ao molho pardo. Sempre haverá uma maneira de mantê-lo perpetuado na sociedade. Chega a ser uma questão de sustentabilidade econômica e manutenção de empregos. Por exemplo, qual função teria a equipe de segurança de um shopping se não seguir o preto que acaba de passar pela porta de entrada? Os seus rádios comunicadores ficariam sem utilidade. A principal finalidade deles entre os seguranças é avisar que acabou de entrar um suspeito. Preto, é claro! Na escuta? Positivo! Ele está no meu corredor. A curiosidade é que a maioria dos seguranças de shopping é negra, e mesmo assim absorvem a perversidade sistemática da estereotipação e do rótulo. Isso até eles decidirem passear no shopping no dia de folg a e sentirem literalmente na pele, que também são negros. Papo doido esse, hein?
Normal. O racismo enlouquece mesmo as pessoas, lhes tirando a razão e o bom senso. O que não pode deixar de haver são maneiras para combatê-lo. A resistência não deve ser sutil e muito menos servil ao padrão de protesto que querem nos impor. É comum vermos pessoas dizendo que não é assim ou que não é assado que vamos acabar com o racismo e com o preconceito de um modo geral, mas quem decide como lidar com a injúria sofrida é você. Se a sua honra foi ferida cabe a você defendê-la. Se a sua dignidade foi atingida cabe a você lutar por ela. Não se cale! Nunca! E que a sua resposta não seja tão sutil quanto o racismo que você sofreu.
Hey, black! Viva a resistência!