Movimento ‘Quem ama não mata’ completa 40 anos e protesta contra feminicídio; veja vídeo

Marcado na história mineira, o movimento feminista “Quem Ama Não Mata (QANM)” lançou nesta terça-feira (18) um vídeo relembrando o ato da escadaria da Igreja São José, no Centro de Belo Horizonte, ocorrido há 40 anos. Líderes do movimento se juntaram para protestar contra a violência doméstica e o feminicídio, chamando a atenção para um novo tipo de crime, que, em 1980, ainda não era falado.

De uma forma atemporal, essas mesmas mulheres fazem um registro poético em vídeo, dirigido por Papoula Bicalho, que, em fragmentos, mostram a beleza do corpo feminino de todas as idades e alertam para a importância da discussão de pautas feministas.

“Antes da pandemia, pensamos diversas vezes como faríamos nossa comemoração. Iríamos fazer seminários para discutir pautas feministas como o feminicídio. Foi nosso ato que colocou a violência contra a mulher na agenda nacional. Não existiam números, dados e não existia uma delegacia para a mulher. Não é vaidade, é uma data que marcou, que foi histórica e precisa ser comemorada”, afirma Mirian Chrystus, coordenadora do QANM.

“Por isso fizemos o vídeo, que é poético e segue a temporalidade do Instagram. A tensão é fluida. São corpos de diferentes idades e todos belos. A intenção é mostrar que é essa beleza que é retirada, esfaqueada e agredida”, explica.

No vídeo, além das imagens gravadas pelas integrantes do movimento,  dados ilustram uma violência cruel: mais de 66 mil estupros em 2019, a metade de meninas até 13 anos. “A vida é bem diferente dos anúncios de margarina. É no espaço doméstico que as mulheres são mais abusadas, espancadas, estupradas e finalmente mortas”, lamenta a coordenadora.

Violência

De acordo com o Mapa da Violência Contra a Mulher de 2019, cerca de 50% dos estupros são cometidos por companheiros (namorados, maridos etc.) e familiares. Conhecidos da família representam mais de 15% dos algozes de mulheres. Os vizinhos representam 3,7% dos agressores. Os estupradores são desconhecidos pela vítima em 31% dos episódios de violência sexual.
Entre janeiro e novembro de 2018 (dados mais recentes), a imprensa brasileira noticiou 14.796 casos de violência doméstica em todas os estados. Os maiores agressores das mulheres ainda são os companheiros (namorados, ex, esposos) correspondendo a 58% dos casos de agressão. Os outros 42% ficam na conta dos pais, avôs, tios e padrastos. A maioria das vítimas (83,7%) tem entre 18 e 59 anos de idade, sendo que a faixa que mais concentra a idade das vítimas é entre 24 e 36 anos.

2020

Trancadas em casa com seus agressores por causa da pandemia do novo coronavírus, mulheres e crianças estão ainda mais expostas à violência. Nos últimos dias, o caso da menina de 10 anos estuprada e engravidada pelo tio tomou as manchetes do país.

“Uma casa não é mais um lar. Tornou-se local preferencial para mais violências. É repugnante. Eu não sou uma pessoa triste ou depressiva, mas quando vejo uma notícia dessas sinto que o país acabou. Não adianta a cultura da felicidade e samba no pé quando essas coisas estão acontecendo”, diz Mírian.

Ao falar sobre a evolução do feminismo, a ativista e jornalista ressalta a mudança do movimento através dos anos. “Hoje, o movimento se fundiu em diversas pautas. É importante até mesmo ressaltar o protagonismo da mulher negra. Mesmo todas vertentes tem um ideal parecido”, explica.

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Geledés Instituto da Mulher Negra
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