MP diz que operação sobre racismo contra Maju é ‘ponta de iceberg’

Suspeitos foram levados até Promotoria, onde foram ouvidos nesta quinta. Apresentadora da TV Globo foi alvo de ataques racistas na internet em julho.

Do G1

O Ministério Público de São Paulo acredita que a operação em oito estados para apreender provas por crimes de racismo contra a jornalista Maria Julia Coutinho, a Maju, é “a ponta do iceberg” em relação a grupos em redes sociais que fazem ameaças contra negros. A Promotoria diz que a “situação é ainda mais grave”. Nesta quinta-feira (10), os suspeitos foram levados até o MP de cada região, onde foram ouvidos.

O crime aconteceu em julho deste ano. A apresentadora foi alvo de ataques racistas nas redes sociais. À época, no Jornal Nacional, Maju falou sobre a importância de combater o preconceito e agradeceu os apoios que recebeu. “Eu falei isso: os preconceituosos passam e a Majuzinha passa”, afirmou. William Bonner acrescentou: “Somos todos Maju, né, Renata?”. A apresentadora Renata Vasconcellos completou: “Somos todos Maju. Hoje e sempre”.

Na manhã desta quinta-feira (10), um dos investigados pela participação dos ataques racistas que prestaram depoimento foi o auxiliar de produção Kaique Batista, de 21 anos. O MP, com o apoio da Polícia Militar, foram à cada dele, na Zona Norte de São Paulo, para buscá-lo e apreenderam também um computador.

Kaique disse que não publicou nada no seu perfil em uma rede social. “Não, meu grupo não. Agora, o grupo que publicou, eu sei quem foi. E eu vou falar”, disse o jovem. Questionado se iria entregar quem cometeu os crimes, disse: “Lógico. Não vou segurar o rojão de ninguém.” Durante o depoimento, com duração de quatro horas, ele apontou os grupos que escrevem mensagens racistas.

O promotor Christiano Jorge Santos confirmou que é possível o envolvimento de mais pessoas e que outros suspeitos foram identificados pelo MP. “Nós estamos detectando existência de grupos que não só fazem ataques virtuais, mas também se organizam para realização de atos de violência física, ataques a pessoas negras, ataques a homossexuais, e a membros de grupos rivais”.

Mesmo prestando depoimento, Kaique Batista continua sendo investigado pela Promotoria sobre as ameaças racistas. Ele disse que, na internet, as pessoas se envolvem nesses crimes porque consideram a rede uma terra sem lei. Já o promotor discorda e explica que, identificados, os agressores deverão responder pelos crimes de injúria,  racismo e organização criminosa.

“Podemos pensar em penas que vão variar de dois a cinco anos no caso de racismo, de um a cinco anos no caso de injúria, um a três anos  no caso de organização criminosa. E as penas vão sendo somadas”, disse o promotor Christiano Santos.

Operação nacional
Os grupos investigados por ataques racistas na internet são grandes, de acordo com o Ministério Público. Só nessa fase, a Justiça determinou 25 mandados de busca e apreensão em oito estados: além de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Ceará e Amazonas.

Em Fortaleza foram apreendidos quatro celulares e um notebook. O suspeito foi convidado a prestar esclarecimentos, mas se recusou e agora vai ser notificado formalmente para conversar com os promotores. O perfil era falso e foi apagado.

“Logo em seguida a injúria que o caso veio à tona, o perfil foi desativado. Mas isso não impede, evidentemente, de se chegar, de se identificar a localização exata de onde saiu essa mensagem criminosa”, afirmou o promotor Manoel Epaminondas.

Um dos líderes dos ataques foi encontrado em sua casa, em Sorocaba, no interior de São Paulo. No celular dele os promotores encontraram outros grupos com mensagens racistas.

A polícia de Rio Verde, interior de Goiás, também cumpriu na manhã um mandado de busca e apreensão na casa de um adolescente de 16 anos. Como colaborou com as investigações e permitiu que os agentes acessassem o computador, o menor não chegou a ser apreendido.

De acordo com o delegado Adelson Vandeo, que acompanhou a operação, foram analisadas postagens feitas pelo adolescente no Facebook dele, que é privado, e ele negou que seja o autor de ofensas.

“Ele simplesmente disse que fazia parte de um grupo, que teria algumas pessoas que faziam trabalhos com áreas de tecnologia, supostamente hackers. Com isso, ele cedeu alguns dados pessoais dele e de familiares para que fosse formado um outro grupo, que foi o que acabou fazendo ofensas a algumas pessoas e instituições. Em seguida, esse grupo foi extinto”, explicou Vandeo.

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