MPL: Manifestações livres sobre qualquer assunto – Por: Leno F. Silva

Depois da decisão histórica do município e do governo do estado de São Paulo que, após das manifestações populares da semana passada, revogaram os aumentos das passagens do transporte coletivo, o poder de mobilização da sociedade ganhou uma nova configuração. Convém ressaltar também que o crescimento das passeatas por todo o país, o aumento das insatisfações, a violência exacerbada em alguns casos e até a ameaça da FIFA em cancelar a Copa das Confederações, levaram a presidente Dilma a convocar uma reunião de emergência e a fazer um pronunciamento em rede nacional no dia 21 de junho.

Antes de redigir esta crônica revi o primeiro bloco do Programa Roda Viva, da TV Cultura, que entrevistou dois líderes do Movimento Passe Livre (MPL): Nina Cappello e Lucas Monteiro de Oliveira. Com clareza, objetividade, conhecimento do tema, espírito público e sem qualquer vaidade, os dois jovens deram um baile na equipe de entrevistadores. E a partir do que assisti compreendi melhor porque essa iniciativa popular foi tão bem-sucedida.

Destaco apenas dois pontos. O primeiro é que todas as lideranças do MPL conhecem profundamente a problemática e dispõem de informações e dados que, a meu ver, os gestores municipais não sabem ou preferem ignorar, considerando que a lógica que define o transporte coletivo já está estabelecida e inexiste motivação para alterá-la. Soma-se ao domínio do tema um acúmulo e um amadurecimento da reivindicação, construídos desde 2008, ano em que a organização foi criada, por meio de estudos, reflexões, debates dentre outros instrumentos de apropriação daquilo que o movimento defende.

Agora que a população de São Paulo conquistou a redução nos preços do transporte, está aberto o caminho para reivindicar a melhoria de qualidade da educação, da saúde, do saneamento, da moradia, dentre outros tantos serviços que atendam as demandas da sociedade. Esse episódio nos ensina que quando a reivindicação tem consistência, é em prol do bem comum e consegue a adesão dos cidadãos, os gestores aceitam negociar e reveem suas posições.

Sob pressão os governos fizeram o que deveria ser natural: atenderam a uma demanda justa da população. Tomara que possamos em um futuro breve estabelecer processos de diálogo entre nós todos, os quais nos permitam participar dos processos de planejamento e das instâncias de decisão para que façamos as escolhas que melhor atendam aos interesses da coletividade. Se isso não ocorrer, já sabemos que uma pressão bem fundamentada e com grande adesão popular, dá resultado. Por aqui, fico. Até a próxima.

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