MPT e ONU chamam jovens negros para evento gratuito de inclusão no mercado

Enviado por / FonteExame, por Luísa Granato

Como avançar no debate sobre diversidade e promover a inclusão de jovens negras e negros no mercado? O Ministério Público do Trabalho quer acelerar essa transformação com o evento online Afropresença, que ocorre entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro.

Realizado junto com o Pacto Global da ONU, o evento será gratuito e focado no público de jovens negras e negros matriculados em universidades. Para o encontro de três dias, eles trarão grandes empresas, universidades, movimentos sociais e especialistas para debater temas de empregabilidade, diversidade, inclusão e carreira.

Serão oficinas, painéis e palestras focadas na inserção do público universitário no mercado formal de trabalho. Quem se inscrever pelo site do evento também terá acesso a vagas de emprego e poderá compartilhar seu currículo.

A pandemia foi um obstáculo para o evento já planejado para ser presencial em São Paulo. Ao ser adaptado para o virtual, o desafio virou uma oportunidade para conversar com um público mais amplo.

Entre as empresas apoiando o evento, estão Itaú, Bradesco, Ambev, JP Morgan, Anima, YDUQS, Belgo, Santander, Febraban, Bayer, John Deere, Totvs, EF, Natura, Unilever, White Martins, Vivo e TIM.

Nas palestras, presidentes e executivos das companhias vão dividir o “palco” com especialistas, sempre com a preocupação de equilibrar o gênero e raça dos representantes.

O evento terá três vertentes com programações consecutivas: de sociedade, mercado e carreira. As mesas ocorrem em salas virtuais diferentes, mas a abertura e encerramentos de cada dia são unificados.

Esse movimento nasceu de uma inquietação e anos de trabalho sobre o tema no MPT. A procuradora do trabalho Valdirene Assis notou uma realidade alarmante: o ingresso de pretos e pardos em cursos de ensino superior crescia, mas isso não se traduzia em mais contratações ou ascensão dos formados nas empresas.

Enquanto os negros representam 55,9% de toda a população brasileira, uma pesquisa do Instituto Ethos divulgada em 2016 mostrou que somente 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas brasileiras são ocupados por eles. E mulheres negras estão em apenas 0,4% desses cargos.

Também coordenadora da Coordigualdade do MPTSP e o Projeto Nacional de Inclusão de Jovens Negras e Negros do MPT, a procuradora trabalha há 20 anos com direitos humanos e o enfretamento do racismo estrutural.

Após ouvir diversas vozes do mercado, universidades e movimentos sociais, o plano para avançar na equidade racial no trabalho passa por três frentes.

“O primeiro é a advocacia. Quando falamos com as empresas sobre programas de diversidade, elas vão necessariamente precisar de assessoria jurídica. Se grandes escritórios não entenderem do tema, temos um problema. E menos de 1% dos profissionais nos maiores escritórios são pessoas negras. Então, o setor é estratégico para discutir a política étnico racial”, comenta ela.

Depois, entra a área de publicidade. Também com baixa representatividade (3%) de profissionais negros, essa área tem grande poder para mudar a estereótipos sobre população negra e promover uma comunicação mais plural.

O terceiro fator para a mudança serão as empresas. “Precisamos falar com todos os setores empresariais, com os grandes empregadores do mercado”, explica a procuradora.

O que as empresas podem fazer contra o racismo?

A força que as empresas podem ter para o debate ficou clara com o anúncio de dois programas de trainee com vagas exclusivas para negros.

As iniciativas de recrutamento do Magazine Luiza e da Bayer criaram uma polêmica nas redes sociais sobre ações afirmativas de recrutamento, e se há discriminação ao limitar uma seleção de vagas a um certo grupo.

E não há. Na verdade, a prática é uma das ações que empresas podem fazer para ajudar na busca por igualdade de oportunidades, segundo recomendação do MPT. O próprio presidente do Magalu, Frederico Trajano, comentou que em 15 anos do programa, a companhia formou cerca de 250 trainees e somente 10 eram negros.

“O processo seletivo é central e precisa ser diverso. Na iniciativa privada, as ações afirmativas precisam ter um olhar dirigido para a busca ativa por esses profissionais. E considerar o histórico de sofrimentos e frustrações que os levam a sentir que não pertencem dentro do ambiente da empresa. Você precisa garantir que ao longo do processo pessoas negras estejam participando e assegurar a neutralidade dele”, comenta a procuradora.

Para guiar a reflexão sobre o papel das empresas no tema, Valdirene Assis resumiu os pontos essenciais para companhias privadas.

Veja os oito passos que ajudam a combater o racismo no mercado de trabalho.

1. Busca ativa dos candidatos negras e negros: Garantir a existência desses candidatos em todas as etapas dos processos seletivos

2. Parcerias com entidades que facilitem as estratégias de equidade racial das empresas.

3. Participação de profissionais negras e negros em todas as etapas dos processos seletivos, desde a operação até tomadas de decisão.

4. Manutenção de instâncias internas dedicadas à estruturação/coordenação/execução da política de equidade étnico-racial da empresa, com a participação de pessoas negras.

5. Investimento na contratação e progressão na carreira de jovens negras e negros universitários.

6. Conscientização de gestores, RH e de seu quadro funcional sobre o valor da diversidade racial.

7. Envolvimento da direção e alta liderança na realização da política de igualdade racial.

8. Realizar contratações de estagiários, trainees e cargos efetivos.

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