Mulheres compram mais carros, mas Salão ainda é pensado para homens

Um grupo de homens se aglomerava em frente a um estande no Salão do Automóvel, em São Paulo, na quarta-feira (5). Com os celulares levantados, tiravam fotos, mas as telas não mostravam um esportivo de luxo.

Por INGRID FAGUNDEZ

As imagens retratavam uma loira de macacão colado.

Uma senhora tentava ultrapassar a multidão e reclamou para o marido, que não desviou a cabeça: “Que babões!”.

Hoje, as brasileiras são responsáveis por 40% das compras de veículos no país, segundo montadoras. Além disso, influenciam 70% das vendas, o que vai da escolha do modelo ao modo de pagar.

“Elas têm um papel essencial. Interferem na decisão do marido e dos filhos, fora as compras que fazem por elas mesmas”, diz o gerente de marketing da Volkswagen, Henrique Sampaio.

Apesar da relevância do público feminino para o mercado automotivo, um dos principais eventos do setor, o Salão do Automóvel, tem ações de divulgação voltadas sobretudo para os homens.

Modelos com roupas curtas e sensuais, presentes na maioria dos estandes, são exemplos clássicos disso.

Neste ano, a organização pretende ultrapassar os 220 mil visitantes. O número vem crescendo e deve passar de 25% do público total em 2010 para 33% em 2014.

No entanto, as montadoras não acompanharam de perto essa mudança de perfil. Apesar de os uniformes estarem mais discretos, ainda mostram bastante, e não são muitos os modelos homens e instrutoras mulheres.
Para o professor de estratégia de marketing da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) George Rossi, tal descompasso pode afastar o público feminino.

O BONITO ATRAI

“O bonito atrai, é natural. Mas a geração feminina atual, criada a partir dos anos 1970, é mais independente, escolarizada, e acha estranho outra mulher aparecer como um objeto para vender carro.”

Segundo Rossi, a divisão entre modelos e instrutores é outro agravante. Isso porque fica ainda mais claro que o objetivo é expor o corpo para promover a marca.

“Se a modelo falar sobre o veículo e estiver vestida profissionalmente, funciona para os dois lados.”

CARAS BABANDO

Os trajes das moças -e o assédio que eles provocaram- incomodaram a administradora Claúdia Lazar, 45. Ela foi ao evento com uma amiga, cena rara de ver no local, e se surpreendeu com as cantadas e abordagens.

“Quero ir a um estande, mas os caras estão babando lá. É legal ter mulher bonita, mas fico sem graça, eu me ponho no lugar da menina.”

Se as roupas sensuais podem afastar algumas mulheres, elas não são o principal atrativo para os homens.

As quatros montadoras ouvidas pela reportagem (Fiat, Volkswagen, Ford e GM) reconhecem que o primeiro motivo pelo qual os homens vão ao Salão são os carros.

“São raros os que vão só pelas moças”, diz André Beer, consultor do setor.

Dada essa motivação, Rossi diz que manter uma modelo sexy ao lado do veículo tira a atenção do possível comprador. “A moça fica mais importante do que o carro”, diz.

FASHION WEEK

As empresas apontam razões distintas para manter essa estratégia de divulgação.

A Ford diz que o uso das modelos continua porque não se pensou em uma forma alternativa para destacar os veículos no evento.

A Volkswagen, por sua vez, não vê um salão essencialmente masculino. A montadora tem um espaço para mulheres no local e diz que isso o torna mais igualitário. Lá, uma consultora relaciona o estilo da cliente com o modelo ideal para ela.

A General Motors não comentou o assunto.

Já a Fiat pensa que o evento é, sim, voltado ao público masculino. “É um momento de celebração, não é uma extensão da concessionária, para venda. A indústria faz uma leitura do tipo ‘máquinas e máquinas’. É um Fashion Week”, diz Malu Antônio, gerente de publicidade da Fiat.

SALÃO DE SÃO PAULO
HORÁRIOS neste sábado: das 13h às 22h (entrada até 21h);
Neste domingo: das 11h às 19h (entrada até 17h).
PREÇOS ingressos na bilheteria R$ 80 (inteira),
R$ 40 (meia) e R$ 64 (seguidores do Facebook)

 

Fonte: Folha de São Paulo

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