Mulheres da Independência: 3 mulheres são heroínas do 2 de Julho

Costureiras, esposas, mães, filhas, negras ganhadeiras que trabalhavam para libertar seus maridos e filhos são exemplos de mulheres anônimas que participaram das lutas pela independência da Bahia.

por Maria Felipa, Joana Angélica e Maria Quitéria,

Apenas três dessas heroínas baianas entraram para a história e são símbolos da resistência que culminou no 2 de julho: Joana Angélica, Maria Quitéria e a negra Maria Felipa.

Maria Felipa
A história de Maria Felipa, presente na cultura e no imaginário popular da Ilha de Itaparica, foi citada pela primeira vez em 1905, em um documento do historiador Ubaldo Osório, avô do escritor João Ubaldo Ribeiro.

Trabalhadora braçal, pescadora e marisqueira, a negra liderou outras mulheres negras, índios tupinambás e tapuias em batalhas contra os portugueses que atacavam a Ilha de Itaparica, a partir de 1822. Um dos feitos do grupo de Maria Felipa foi ter queimado 40 embarcações portuguesas que estavam próximas à Ilha.

Conhecida por ser uma mulher muito alta, de grande força física, Maria Felipa teria liderado um grupo de 200 pessoas, que usavam facas de cortar baleia, peixeiras, pedaços de pau e galhos com espinhos como armas.
“As mulheres seduziam os portugueses, levavam pra uma praia, faziam com que eles bebessem, os despiam e davam uma surra de cansanção”, conta a pesquisadora de patrimônio cultural e histórico Eny Kleyde Farias, autora do livro “Maria Felipa de Oliveira: heroína da independência da Bahia”, lançado em 2010.

Mesmo após a independência, Maria Felipa continuou exercendo sua liderança sobre a população pobre da Ilha de Itaparica. Na primeira cerimônia de hasteamento da bandeira do Brasil na Fortaleza de São Lourenço, na Ponta das Baleias, Felipa e seu grupo invadiram a armação de pesca de um português rico e surraram um vigia, o que demonstra que as hostilidades entre portugueses e brasileiros, principalmente os pobres, não terminaram no 2 de julho.

É neste episódio que fica registrado o canto de Maria Felipa: “havemos de comer marotos com pão, dar-lhes uma surra de bem cansanção, fazer as marotas morrer de paixão”.

Joana Angélica
Nos primeiros dias de insegurança e medo que tomaram conta da cidade da Bahia, em fevereiro de 1822, a abadessa Joana Angélica se tornou a primeira heroína e mártir da independência.

O general português Madeira de Melo enfrentava a oposição do comando dos militares brasileiros com violência. Durante o ataque ao quartel da Mouraria, os soldados portugueses tentavam invadir o Convento da Lapa em busca de armas e inimigos supostamente escondidos.

Já com 60 anos e pela segunda vez na direção do Convento, a religiosa tentou impedir a entrada de soldados no ambiente feminino. Recebeu golpes de baioneta como resposta e faleceu no dia seguinte, em 20 de fevereiro de 1822.

Na época, seu assassinato serviu como um dos estopins para o início da revolta dos brasileiros. Atualmente, Joana Angélica dá nome à avenida principal do bairro de Nazaré, onde fica o Convento da Lapa.

Maria Quitéria
Ao fugir de casa para lutar pela Bahia, Maria Quitéria provavelmente não imaginou que se tornaria uma das principais personagens da independência. Com grande habilidade no manejo de armas e parente de militares, ela não se contentou em assumir o papel normalmente reservado às mulheres no século 19.

Usando o uniforme de seu cunhado, Maria Quitéria entra para o Batalhão dos Periquitos, assim apelidado popularmente pelo uso de mangas e golas verdes, e passa a se chamar soldado Medeiros. Combate na Bahia de Todos os Santos, em Ilha de Maré, Barra do Paraguaçu e na cidade de Salvador, na estrada da Pituba, Itapuã, e Conceição.

Por causa da sua coragem em fingir ser um homem para combater, o general Labatut lhe deu honras de Primeiro Cadete e um decreto imperial lhe conferiu as honras de Alferes de Linha.

Em 28 de julho de 1996, foi reconhecida como Patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Atualmente, por determinação ministerial, sua imagem deve estar em todos os quartéis do país.

Em Salvador, uma estátua foi erguida em 1953, ano do centenário de sua morte, no Bairro da Liberdade.

 

Fonte: Tribuna Bahia

+ sobre o tema

10 artistas feministas que devemos celebrar

A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie se preocupa com...

Stephanie Ribeiro: Nossa apatia também colocou o nazismo nas ruas

Colunista de Marie Claire, Stephanie Ribeiro compara os ataques...

VI BrazilFoundation Gala São Paulo – Celebrando Mulheres Notáveis

O VI BrazilFoundation Gala São Paulo celebrou o trabalho...

Sou contra o aborto.

Sou contra o aborto. Mas sou contra a criminalização...

para lembrar

A Verdade Secreta é que a família brasileira não liga para abuso

Faz tempo quero escrever sobre essa nova novela, porque...

Porto Alegre terá seminário da SEPPIR sobre ‘Oportunidades para a Juventude Negra’ nesta sexta

  Evento acontece nesta sexta, 24, no Auditório da Empresa...

Amo a maternidade, mas ela não me ama

"Amo a maternidade, mas a maternidade não me ama." Poer Erica...

Feminismo muçulmano. O que o Islã realmente diz sobre as mulheres

Jovem médica e ativista de causas humanitárias, sobretudo as...
spot_imgspot_img

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a advogada Vera Lúcia Santana Araújo, 64 anos, é...

Ela me largou

Dia de feira. Feita a pesquisa simbólica de preços, compraria nas bancas costumeiras. Escolhi as raríssimas que tinham mulheres negras trabalhando, depois as de...
-+=