Mulheres negras no cotidiano da cidade de salvador no século XIX

Vocês já pararam para pensar sobre as experiências sociais das mulheres no passado? Esse texto convida a refletir a esse respeito, incorporando ao nosso repertório de conhecimentos histórias sobre mulheres negras no cotidiano da Bahia do século XIX.

Por Valdineia Oliveira, do O Preofessor Web

Mulher negra na Bahia. 1885. Por: Marc Ferrez

A família e a sociedade no Brasil são temas comumente pensados a partir dos pressupostos teóricos de Gilberto Freyre, na obra Casa Grande & Senzala (1933). Em seus escritos, as mulheres negras comparecem na condição de escravas a serviço da lavoura e da casa grande. É importante que professores e estudantes não se acostumem a pensar em um Brasil constituído assim, sob essa hierarquia estática e imutável. A realidade social é bem mais fluida e dinâmica e a historiografia tem sido acrescida de pesquisas que descrevem trajetórias de mulheres negras que tiveram um papel social mais amplo do que apenas escravas. É importante que professores e estudantes pesquisem e conheçam outras faces do cotidiano feminino no período oitocentista, para não incorrer no equívoco de pensar que apenas homens brancos fizeram história.

Como exemplo desse acréscimo de pesquisas, temos as discussões da  antropóloga Cecília Moreira Soares (1994) sobre como as mulheres negras tiveram um papel destacado no mercado de trabalho urbano, tanto como escravas de ganho quanto como mulheres livres e libertas, sublinhando que no espaço da rua elas tinham possibilidade de ter uma posição mais autônoma. Elas circulavam na cidade com seus tabuleiros, gamelas e cestas, ocupando ruas, praças e mercados. É preciso conhecer essas novas pesquisas que dão visibilidade às experiências sociais das mulheres negras. Jane de Jesus Soares (2009) pesquisou arranjos familiares na cidade de Salvador, reconstituindo a geografia da freguesia da Sé no século XIX e constatou que mulheres negras assumiam a posição de chefes de família na Salvador oitocentista. Adriana Dantas Reis Alves traz como objeto de sua tese a escrava jeje Luzia Gomes de Azevedo, que teve seis filhos com o senhor de Engenho Manoel de Oliveira Barroso, morador da freguesia de Paripe. O que chama a atenção na trajetória de vida dessa escrava é o fato de que os seis filhos foram legitimados pelo capitão e reconhecidos como seus herdeiros.

Esse é uma pequeno ensaio que tem por fim trazer um recorte da área de pesquisa sobre mulheres negras na Bahia, mostrando como esse tema é profícuo e importante para toda a comunidade escolar.

FONTES:

ALVES, Adriana Dantas Reis. As Mulheres Negras por Cima O Caso de Luzia Jeje: escravidão, Família e Mobilidade Social – Bahia, 1780 -1830. (Tese de doutorado) UFF, 2010.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Editora Record, Rio de Janeiro, 1998,  34ª edição.

SOARES, Cecília Moreira. Mulher Negra na Bahia do Século XIX. (dissertação de mestrado) UFBA, Salvador 1994.

SOARES, Jane de Jesus. Mulheres Chefes de Família, Maternidade e Cor na Bahia do Século XIX. Feira de Santana, UEFS, 2009.

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