Mulheres voltam para casa com compromisso de cobrar ações

No último dia da 3ª Conferência Nacional das Mulheres, que acontece em Brasília, as delegadas já se preparam para voltar aos seus estados de origem. Na bagagem, que carregam pelos corredores do grande Centro de Convenções, além de publicações sobre os diversos assuntos discutidos, o compromisso de reproduzir por todo o Brasil os debates e ações aprovadas no evento.

Para Liége Rocha, secretária nacional da Mulher do PCdoB, “o movimento deve cobrar e exigir as implementações das políticas públicas para que de fato as mulheres ampliem sua luta pela igualdade entre homens e mulheres”.

A opinião de Liége é compartilhada pelas outras delegadas, como Lúcia Rincon, do Fórum Nacional de Mulheres do PCdoB e Elza Maria Campos, coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM). “O fundamental é as mulheres – com sua unidade, sua generosidade, sua solidariedade – sair dessa conferência com perspectivas avançadas e levar para os nossos estados e locais mais longínquos o que foi aprovado aqui para colocar em prática. E construir um Brasil para todas e todos”, afirma Elza Maria.

As mulheres avaliam que, apesar do avanço nos debates políticos desde a primeira Conferência Nacional, ainda persistem desafios, e o maior deles é a implementação das políticas públicas adotadas para garantir mais igualdade entre homens e mulheres. Lúcia Rincon, que participou de todas as três conferências, comemora a evolução do processo de discussão, destacando que neste evento existe número maior de municípios, de mulheres e de instituições criadas – secretarias, assessorias etc.

“Além disso, os objetivos demonstram que o movimento de formulação de políticas públicas evolui. A discussão não parte mais só da demanda do movimento, mas de politicas públicas já aplicadas. O nosso ministério, que foi reafirmado, porque ao longo do processo se impôs como gestor dessas políticas na transversalidade de todas as ações e todos os ministérios, representa salto, já que estão apontando ações que possam avançar”.

Mais recursos

Mas ela, a exemplo das outras companheiras, se queixa de uma menor efetivação das políticas públicas, que considera reflexo da crise econômica que reduziu o orçamento para essas políticas públicas.

Elza Maria Campos se une à Liége Rocha nas críticas ao fato de ainda hoje as mulheres precisarem discutir a implementação da Lei Maria da Penha, que já tem cinco anos de existência e ainda sofre dificuldades em sua aplicação. Para elas, o desafio é garantir orçamento para a efetivação dessas políticas públicas. “O desafio é fortalecer o ministério das mulheres (Secretaria Especial de Política para as Mulheres – SPM) e garantir orçamento”, enfatiza Elza Maria.

Elas citam como outro exemplo de desafio a participação política da mulher. “O projeto nacional de desenvolvimento do Brasil tem que contar com a participação das mulheres”, lembra Elza Maria.

Liége Rocha, que acompanhou a discussão sobre reforma politica, destaca que “é pauta de maior interesse para nós que queremos financiamento público de campanha e lista preordenada”. Segundo ela, essas medidas garantirão maior participação das mulheres na vida político-eleitoral do país.

Mais poder

A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), que participou do evento, em discurso no Plenário da Câmara, repercutiu os debates da Conferência Nacional. Ela destacou que “as mulheres brasileiras querem mais espaço no poder, equidade no trabalho, autonomia na família e inclusão no desenvolvimento. Por que insistimos nesses quatro eixos como perspectiva, porque a sociedade humana só se realiza, só se desenvolve, só se constrói de uma forma progressista se as mulheres estiverem incorporadas em todas essas dimensões”.

“Há um desafio muito grande: a legislação política eleitoral deste País serve às elites, aos que têm o poder econômico e, em torno disso, nós não temos representação de trabalhadores, nem de camponeses, nem de negros nem de mulheres”, avalia a parlamentar.

Para ele, o desafio é “fazer uma reforma política que, efetivamente, retire e desmonte o maior eleitor deste País, que é o poder econômico, e construa listas fechadas, preordenadas, financiamento público, para que as mulheres possam, como os trabalhadores, os negros, os camponeses, participarem do debate político neste poder”.

Fonte: UbMulheres

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