Museu Afrobrasileiro, São Paulo/SP
Fundação: 2004
Localização: São Paulo
Tipo: Artes, História, Etnologia
Curador: Emanoel Araújo
Website: www.museuafrobrasil.com.br
O Museu Afro Brasil é um museu histórico, artístico e etnológico, voltado à pesquisa, conservação e exposição de objetos relacionados ao universo cultural do negro no Brasil. Localiza-se no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, no “Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega” – edifício integrante do conjunto arquitetônico do parque projetado por Oscar Niemeyer na década de 50. Inaugurado em 2004, o Museu Afro Brasil é uma instituição pública, subordinada à Secretaria Municipal de Cultura e administrada por uma organização da sociedade civil.
Conserva um acervo de aproximadamente 4 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XV e os dias de hoje. O acervo abarca diversas facetas dos universos culturais africano e afro-brasileiro, abordando temas como a religião, o trabalho, a arte, a diáspora africana e a escravidão, e registrando a trajetória histórica e as influências africanas na construção da sociedade brasileira. O museu também oferece diversas atividades culturais e didáticas, exposições temporárias, conta com um teatro e uma biblioteca especializada.
Histórico
O Museu Afro Brasil nasceu por iniciativa de Emanoel Araújo, artista plástico baiano, ex-curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo e atual curador do museu. Ao longo de duas décadas, Emanoel Araújo realizou uma série de pesquisas, publicações e exposições relacionadas à herança histórica, cultural e artística do negro no Brasil. A partir da década de 1990, o artista plástico organizou importantes mostras sobre o tema, em diversas cidades do Brasil e em alguns países europeus, culminando com duas mega-exposições: Negro de Corpo e Alma, apresentada durante a “Mostra do Redescobrimento”, em 2000, e Brazil: Body and Soul, no Museu Guggenheim de Nova Iorque, em 2001. Durante esse tempo, Emanoel Araújo também amealhou uma valiosa coleção particular, com mais de 5 mil obras referentes ao universo cultural afro-brasileiro.
Em 2004, Araújo – que já tentara frustradamente viabilizar a criação de uma instituição voltada ao estudo das contribuições africanas à cultura nacional – apresentou a proposta museológica à então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Encampada a idéia pelo poder público municipal, iniciou-se o projeto de implementação do museu. Foram utilizados recursos advindos de patrocínio da Petrobrás e do Ministério da Cultura (Lei Rouanet). A gestão do projeto museológico ficou a cargo do Instituto Florestan Fernandes. Para formar o acervo inicial, Emanoel Araújo cedeu 1100 peças de sua coleção particular em regime de comodato. Ficou decidido que o museu seria instalado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega. O edifício, pertencente à prefeitura, encontrava-se cedido ao Governo do Estado desde 1992 e abrigou por um tempo uma extensão da Pinacoteca do Estado. Em 2004, retornou à administração municipal e passou por adaptações para receber o museu. A 23 de outubro desse mesmo ano, o Museu Afro Brasil foi inaugurado, na presença do Presidente Luís Inácio Lula da Silva e de outras autoridades.
Vitrine com máscaras africanas no Museu Afro Brasil.
O Museu Afro Brasil se propõe a tratar da contribuição do homem negro no Brasil por meio de três vertentes: memória, história e arte. O objetivo da instituição é utilizar seu acervo etnográfico, histórico e artístico para embasar a criação de um centro de reflexões sobre a cultura afro-brasileira, que envolva também as suas decorrências imateriais e a necessidade de preservar a consciência histórica. Visando a formação do público, o museu mantém uma eclética agenda cultural, oferece palestras e cursos e diversas exposições temporárias ligadas ao tema da produção cultural afro-brasileira e do resgate da memória do universo negro. O museu tem conseguido ampliar consideravelmente seu acervo, por meio de aquisições, doações e empréstimos de colecionadores particulares e de outras instituições. Em 2005, o museu inaugurou a “Biblioteca Carolina Maria de Jesus”. Formado a partir da coleção particular de Emanoel Araújo, o acervo da biblioteca foi recentemente magistralmente ampliado por meio da doação da Biblioteca Escravidão – Tráfico – Abolição, o mais importante e raro acervo de títulos sobre o tema existente no país, oferecido à instituição por Ruy Souza e Silva e Leonardo Kossoy.
O Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega
O Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, originalmente denominado Palácio das Nações, é um dos edifícios integrantes do conjunto arquitetônico do Parque do Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer para as comemorações oficiais do IV Centenário da Cidade de São Paulo. O projeto, encomendado ao arquiteto por Ciccillo Matarazzo, pretendia transformar o novo parque da cidade em um centro irradiador de arte e cultura. Além do Palácio das Nações, compõem o conjunto o Palácio dos Estados (sede da PRODAM), o Palácio das Indústrias (Pavilhão da Bienal), o Palácio das Exposições (Oca), o Palácio da Agricultura (sede do DETRAN) e o auditório (construído recentemente). O conjunto é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O Palácio das Nações, foi inaugurado em dezembro de 1953. Nesse mesmo ano, divide com o Palácio das Indústrias a função de sede da histórica II Bienal Internacional de São Paulo, abrigando parte das 3.374 obras expostas nessa edição, dentre as quais, 74 telas de Pablo Picasso, incluindo a célebre Guernica. Os dois pavilhões também sediaram a III edição da Bienal, em 1955. Entre 1961 e 1991, o edifício, já rebatizado como “Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega”, abrigou a prefeitura de São Paulo. Com a transferência do executivo municipal para o Palácio das Indústrias, o edifício foi cedido ao Governo do Estado em 1992, e passou a ser utilizado como extensão da Pinacoteca do Estado. Em 2004, o pavilhão retornou à administração municipal, tornando-se sede do Museu Afro Brasil.
O edifício possui 11 mil metros quadrados de área construída, divididos em três pavimentos. Além dos espaços expositivos, áreas de atuação didática, reserva técnica e escritórios administrativos, abriga a Biblioteca Carolina Maria de Jesus e o Teatro Ruth de Souza.
Máscara Egbo Ekoi. Grupo étnico Ekoi, Nigéria/Camarões (séc. XIX).
África, o núcleo do acervo dedicado à história, cultura e arte da África conserva um grande número de objetos, das mais diversas concepções estéticas e funcionalidades, produzidos, majoritariamente, por grupos étnicos das nações subsaarianas, entre os séculos XV e XX. Há obras de uso ritual, mágico ou religioso (representações de deuses e outras entidades divinas, figuras maternas ligadas a rituais de fertilidade, estatuetas investidas de poder medicinal, etc.) e artefatos de uso cotidiano (cachimbos de procissão, pentes, relicários e elementos do mobiliário).
Deusa Attie. Grupo étnico Attie, Costa do Marfim (séc. XIX).
Os materiais utilizados (madeira, marfim, terracota, tecidos, contas etc.) variam de acordo com a proveniência. Diversos grupos culturais e países estão representados: Attie (Costa do Marfim), Bamileque (Camarões), Yombe, Luba (Rep. Democrática do Congo), Iorubás (Nigéria), entre muitos outros. Destaca-se a rica coleção de máscaras africanas, composta por peças de admirável senso estético e imbuídas de diversas simbologias, utilizadas em cultos e ritos ancestrais e como instrumentos de controle e regulamentação da ordem social em inúmeros grupos étnicos (Iorubás, Ekoi, Bobo, Gueledé, etc.).
O núcleo também abarca uma série de obras produzidas por artistas europeus, abordando aspectos importantes da historiografia africana. Há mapas holandeses do século XVII, reproduzindo o território africano, litografias de cunho etnológico produzidas por Rugendas, gravuras e fotografias retratando poderosas figuras dos reinos africanos do passado.
Trabalho e escravidão
Jacques Ettiene Arago. Castigo de Escravo (1839). Litografia colorida à mão.
Esse núcleo trata do papel dos africanos escravizados e seus descendentes na construção da sociedade brasileira, como mão-de-obra fundamental em todos os ciclos de desenvolvimento econômico do país. Conserva documentos iconográficos que atestam tanto a brutalidade desse processo quanto a assimilação gradual e silenciosa por parte da sociedade dos valores e costumes africanos advindos com a diáspora. Há várias litografias de Debret e Rugendas, registrando os castigos aplicados aos escravos por seus senhores, as viagens nos porões dos navios negreiros e o trabalho forçado nos engenhos de açúcar.
O núcleo conserva diversas ferramentas de marcenaria, carpintaria e outros instrumentos de trabalho utilizados por escravos, além de uma série de instrumentos de tortura e castigo, como gargalheiras, palmatórias e vira-mundos. O núcleo também abarca uma série de fotografias, de autores como Marc Ferrez, Victor Frond e Virgílio Calegari, registrando negros escravos e libertos em seus ofícios.
Outra coleção importante desse núcleo é composta por documentos relacionados à resistência africana à escravidão e a participação dos negros nos movimentos de independência do Brasil. Há mapas de quilombos do século XVIII, anúncios de recompensas pela captura de escravos fugidos, representações artísticas de líderes da resistência negra e personalidades ligadas ao movimento abolicionista, como Zumbi dos Palmares e José do Patrocínio, executadas por artistas como Alípio Dutra e Antônio Parreiras.
Sagrado e profano
Nesse núcleo são conservadas obras relacionadas à imposição da fé cristã sobre os negros cativos, documentando amplamente o subseqüente sincretismo religioso que marca a sociedade brasileira. As celebrações festivas católicas – vistas no período colonial como grandes acontecimentos cívicos e importantes instrumentos para a difusão da doutrina cristã – forneceram espaços sociais para que os escravos africanos e seus descendentes se apropriassem dessas festividades, muitas vezes adaptando a simbologia católica aos referenciais de suas culturas e ritos de origem.
Destaca-se no acervo um grande número de gravuras, aquarelas e fotografias, documentando tanto festas religiosas do catolicismo popular e das confrarias afro-brasileiras (festas de Nossa Senhora do Rosário, do Divino e da Irmandade da Boa Morte) quanto celebrações “folclóricas” de influência negra (congadas, maracatu, bumba-meu-boi, coroação dos reis negros, etc.), além dos adornos, máscaras, objetos e vestimentas utilizados nessas festividades. O culto a santos negros, como Santo Elesbão, Santa Ifigênia e São Benedito, está representado por meio de uma seleção de imaginária do período colonial. É importante também a ampla coleção de ex-votos – imaginária imbuída de intenção votiva, quer mágica, quer religiosa, amplamente produzida no Brasil Colônia.
Religiosidade Afro-Brasileira
Ibejis e Iemanjá (séc. XIX).
Além da apropriação e reinterpretação de elementos presentes nas festividades católicas, a escravidão forçou o contato e a convivência entre religiões de distintos povos africanos, resultando em uma múltipla assimilação de elementos semelhantes de suas culturas. Dessa forma, fundiram-se divindades, ritos e cultos de origens distintas em uma amálgama comum, de que resultaram as religiões afro-brasileiras. Neste núcleo são conservadas peças relacionadas a essas religiões, seus personagens e ritos, compreendendo desde esculturas e fotografias até vestimentas e altares, datados do período colonial aos dias de hoje.
Destacam-se as várias peças relativas ao Quimbanda, ao Xangô e, principalmente, ao Candomblé – religião de origem Iorubá, bastante difundida em todo o território brasileiro -, como estatuetas de Iemanjá, Ibejis e objetos rituais de orixás, produzidos no Brasil e na África, em suas mais diversas vertentes (Kekes, Jejes, Angola, etc.). Há vários exemplares de balangandãs, jóias e amuletos utilizados por baianas em ocasiões festivas e rituais. Há também um importante conjunto de fotografias de artistas como Pierre Verger, Mário Cravo Neto, Maureen Bisilliat e Adenor Gondim, documentando ritos religiosos afro-brasileiros.
João Ferreira Villela Artur Gomes Leal com a ama-de-leite Mônica. (1860).
História e Memória
No núcleo dedicado à história e à memória, a preocupação maior encontra-se em resgatar e recordar os grandes expoentes negros e mulatos que se destacaram em diversas áreas, desde o período colonial até os dias de hoje. Assim, conservam-se pinturas, fotografias, esculturas, gravuras e documentos relacionados a personalidades históricas (Zumbi dos Palmares, Henrique Dias, José do Patrocínio), escritores e jornalistas (Luís Gama, Antônio Gonçalves Crespo, Cruz e Souza, Machado de Assis), engenheiros (André Rebouças, Teodoro Sampaio), médicos (Juliano Moreira), artistas (Ruth de Souza) e intelectuais em geral (Milton Santos, Manuel Querino, etc.).
O núcleo também é composto testemunhos materiais da evolução histórica do negro no Brasil. Há objetos e documentos que relatam o envolvimento dos negros em episódios históricos como a Batalha dos Guararapes, o Levante dos Malês, a Guerra do Paraguai, a Revolta da Chibata e a Revolução de 1932. Há uma vasta iconografia acerca do movimento abolicionista do século XIX, além de uma significativa mostra de ensaios e periódicos produzidos pela imprensa negra do Brasil nos séculos XIX e XX (coleções de jornais como A Liberdade, A Voz da Raça e O Clarim d’Alvorada, entre outros).
Arte
Joaquim José da Natividade. Bandeira de Procissão da Paixão de Cristo, Minas Gerais, século XVIII
Este núcleo conserva importantes exemplares da presença negra ao longo de toda a evolução das artes no Brasil. Conserva sobretudo obras de arte executadas por artistas negros e mulatos, mas também abarca peças que possuam o universo negro como tema. É perceptível e bem documentada a forte presença de artistas negros durante o período colonial, que acabaria por marcar de forma definitiva a arte brasileira. No inventário de preciosidades do museu, conservam-se esculturas de Aleijadinho e Mestre Valentim, e pinturas de José Teófilo de Jesus, Frei Jesuíno do Monte Carmelo, Veríssimo de Freitas e Joaquim José da Natividade.
Artur Timóteo da Costa. Estudo de Cabeças, século XIX.
Com a instituição do ensino oficial pela Academia Imperial de Belas Artes (intimamente associado à formação da elite econômica do país) diminui sensivelmente a contribuição negra à arte nacional. Mesmo assim, conservam-se importantes exemplares dessa corrente, representada no acervo pelas naturezas-mortas de Estêvão Silva, nos retratos realizados por Antônio Rafael Pinto Bandeira e Emmanuel Zamor, nas paisagens de Antônio Firmino Monteiro e no vasto conjunto de pinturas executadas pelos irmãos João e Artur Timóteo da Costa (auto-retratos e retratos de negros, marinhas, paisagens e estudos de nus, entre outros).
No segmento referente à arte do século XX, há um conjunto de telas de Benedito José Tobias, várias serigrafias e esculturas de Rubem Valentim, e outras obras de Heitor dos Prazeres, Ronaldo Rêgo, Octávio Araújo, Manuel Messias, Caetano Dias, José Igino, Tibério, Jorge Luís dos Anjos, entre outros. Por fim, há conjuntos representativos de arte popular afro-brasileira, onde se destacam as obras de Mestre Didi, e uma coleção de fotografias artísticas, de nomes como Madalena Schwartz, André Vilaron, Eustáquio Neves e Walter Firmo, entre outros.
Museu Afro Brasileiro, Salvador/ Bahia
O Museu Afro-Brasileiro de Salvador foi inaugurado em 7 de janeiro de 1982, pela então Diretora do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), Drª Yeda Pessoa de Castro, através de um acordo entre os Ministérios das Relações Exteriores e da Educação e Cultura do Brasil, o governo da Bahia, a prefeitura da cidade do Salvador e a Universidade Federal da Bahia.
Trata-se de uma instituição que se propõe defender, estudar e divulgar tudo o que se relacione com temas afro-brasileiros. Para esse fim, dispõe de uma coleção de peças de origem ou inspiração africana, ligadas quer ao trabalho e à tecnologia, quer à arte e às religiões. Neste campo, há também lugar a objetos de origem brasileira, relacionados com a religião afro-brasileira da Bahia, incluindo um conjunto de talhas em cedro de autoria de Carybé, 27 painéis representando os orixás do candomblé da Bahia.
O museu, que foi primeiro organizado por Pierre Verger, está instalado no edifício da primeira escola de medicina do Brasil, que hoje é propriedade da Universidade Federal da Bahia e localizada no Terreiro de Jesus, Centro Histórico de Salvador.
Museu Afro Brasileiro, Sergipe/ Laranjeiras
Fundação: 1976
Estilo: com predominância do Neoclássico
Localizado: num casarão do século XIX denominado Desembargador Acciles Ribeiro, preserva e expõe peças ligadas à cultura afro-brasileira e sua influência no sincretismo religioso do nosso povo.
Traços: da História e da vida econômica do Sergipe colonial são aqui registrados em objetos de culto, fotográficas, telas e documentos.
Museu Afro Brasileiro, Recife/Pernambuco(Museu da Abolição)
Histórico
Assim como a história da cultura Afro-Brasileira, que tem na resistência um dos seus maiores expoentes, o Museu da Abolição – Centro de Referência da Cultura Afro-Brasileira vinculado à 5ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, vem resistindo aos obstáculos, através dos anos. Da sua criação em 1957, por Decreto Lei Federal nº 3.357, à sua inauguração em 13 de Maio de 1983, passaram-se 26 anos. Instalado no Sobrado Grande da Madalena, sede do engenho Madalena e depois residência do Conselheiro João Alfredo, presidente do Conselho, que em 1888 extinguiu o sistema escravocrata no País.
Fechado em março de 1990, o Museu da Abolição – Centro de Referência da Cultura Afro-Brasileira, foi reaberto para visitação pública em 17 de Setembro de 1996, no dia do Patrimônio Cultural, instituído pela comunidade do Mercosul como o “Dia das Portas Abertas”. A reabertura foi o início de um processo de restruturação que se pretende cumprir em várias etapas, em parceria com os diversos segmentos e entidades do movimento afro-brasileiro.
O Museu que estamos restruturando, enquadra-se dentro de uma nova concepção museológica, onde se acredita que a cultura material, expressa nos objetos expostos, é válida como portadora e transmissora da memória de uma sociedade. São estes objetos, que devem permitir ao visitante, uma compreensão ampla das relações de poder da sociedade que os criou, ou seja, uma releitura do momento histórico, político-social e econômico, possibilitando formar uma consciência crítica do passado e relacioná-la com o presente.
Atualmente, o Museu dispõe de uma sala de exposição permanente denominada “Memorial”, ondeestão expostas 39 peças do cotidiano dos senhores e dos escravos, que vai do Sincretismo religioso aos objetos utilizados no trafico dos negros e outros objetos, que fazem parte do acervo, propiciando ao espectador um encontro com os símbolos do processo de formação da cultura brasileira. Mais do que contar a história, a sala do “Memorial” é um espaço de emoção/reflexão, que provoca associações e evoca situações do passado e do presente. Indagações e questionamentos a respeito da Escravidão, Abolição, Racismo, Violência, Diversidades Culturais, Identidade Brasileira e Cidadania, são apresentados.
A sala de exposições temporárias destina-se à divulgação de “Expressões Contemporâneas Afro-Brasileiras”, propostas pela comunidade, permitindo uma maior participação da mesma nas ações do Museu.
O Mini-Auditório, com capacidade para 50 pessoas, propicia a realização de seminários, cursos, palestras e debates, lançamentos de livros e outros eventos propostos pelo Museu ou em parceria com a comunidade.
No centro de documentação e pesquisa, os historiadores, estudantes e pesquisadores dispõem de uma biblioteca informatizada e especializada na temática afro-brasileira e museologia, com cerca de 800 exemplares, 194 periódicos e uma hemeroteca com aproximadamente 6.500 recortes de jornais e revistas, além de um arquivo documental, com 34 documentos de época.
A área externa possui um anfiteatro, jardins que viabilizam o desenvolvimento de atividades educativas e culturais, tais como: oficinas, cursos, apresentações de grupos de dança, música, teatro entre outras expressões da cultura Afro-Brasileira.
Atualmente, o Museu da Abolição – Centro de Referência da Cultura Afro-Brasileira, vem desenvolvendo uma série de atividades que fazem parte de um projeto de revitalização, proposto em parceria com a comunidade afro-pernambucana. A característica que está imbuída no seu nome faz do Museu um espaço potencial de questionamento, troca de idéias, afirmação da cidadania do brasileiro que é expoente da mistura de raças, fator principal da sua formação.
5ª Superintendência Regional do IPHAN
Dr. Roberto Hollanda
Superintendente Regional
Endereço: Rua Benfica, 1.150 – Madalena
Cep. 50.720 – 001
Recife-PE
Fone: 81 2283011
Visitação: De segunda a sexta-feira
Horário: 9h às 12h – 14h às 17h.
As origens da história da arte africana está situada muito antes da história registrada. A arte africana em rocha no Saara, em Níger, conserva entalhes de 6000 anos.[1] As esculturas mais antigas conhecidas são dos Nok cultura da Nigéria, feitas por volta 500 d.C.. Junto com a África Subsariana, as artes culturais das tribos ocidentais, artefatos do Egito antigo, e artesanatos indígenas do sul também contribuíram grandemente para a arte africana. Muitas vezes, representando a abundância da natureza circundante, a arte foi muitas vezes interpretações abstratas de animais, vida vegetal, ou desenhos naturais e formas.
Métodos mais complexos de produção de arte foram desenvolvidos na África Subsariana, por volta do século X, alguns dos mais notáveis avanços incluem o trabalho de bronze do Igbo Ukwu e a terracota e trabalhos em metal de Ile Ife fundição em Bronze e latão , muitas vezes ornamentados com marfim e pedras preciosas, tornou-se altamente prestigiado, em grande parte de África Ocidental, às vezes sendo limitado ao trabalho dos artesãos e identificado com a realeza, como aconteceu com os bronzes do Benin.
Arte Africana na Atualidade
Muitas das chamadas artes tradicionais da África estão sendo ainda trabalhadas, entalhadas e usadas dentro de contextos tradicionais. Mas, como em todos os períodos da arte, importantes inovações também têm sido assimiladas, havendo uma coexistência dos estilos e modos de expressão já estabelecidos com essas inovações que surgem. Nos últimos anos, com o desenvolvimento dos transportes e das comunicações dentro do continente, um grande número de formas de arte tem sido disseminado por entre as diversas culturas africanas.
Além das próprias influências africanas, algumas mudanças têm sua origem em outras civilizações. Por exemplo, a arquitetura e as formas islâmicas podem ser vistas hoje em algumas regiões da Nigéria, em Mali, Burkina Faso e Niger. Alguns desenhos e pinturas do leste indiano têm bastante similaridade em suas formas com as esculturas e máscaras de artistas dos povos Dibibio e Efik que se estabelecem ao sul da Nigéria. Temas cristãos também tem sido observados nos trabalhos de artistas contemporâneos, principalmente em igrejas e catedrais africanas. Vê-se ainda na África, nos últimos anos, um desenvolvimento de formas e estruturas ocidentais modernas, como bancos, etabelecimentos comerciais e sedes governamentais.
Os turistas também têm sido responsáveis por uma nova demanda das artes, particularmente por máscaras decorativas e esculturas africanas feitas de marfim e ébano. O desenvolvimento das escolas de arte e arquitetura em cidades africanas, tem incentivado os artistas a trabalhar com novos meios, tais como cimento, óleo, pedras, alumínio, com uma utilização de diferentes cores e desenhos. Ashira Olatunde da Nigéria e Nicholas Mukomberanwa de Zimbábue estão entre os maiores patrocinadores desse novo tipo de arte na África.
As formas de arte africana
A pintura é empregada na decoração das paredes dos palácios reais, celeiros, das choupas sagradas. Seus motivos, muito variados, vão desde formas essencialmente geométricas até a reprodução de cenas de caça e guerra. Serve também para o acabamento das máscaras e para os adornos corporais. A mais importante manifestação da arte africana é, porém, a escultura. A madeira é um dos materiais preferidos. Ao trabalhá-la, o escultor associa outras técnicas (cestaria, pintura, colagem de tecidos). As “máscaras” são as formas mais conhecidas da plástica africana. Constituem síntese de elementos simbólicos mais variados se convertendo em expressões da vontade criadora do africano.
Foram os objetos que mais impressionaram os povos europeus desde as primeiras exposições em museus do Velho Mundo, através de milhares de peças saqueadas do patrimônio cultural da África, embora sem reconhecimento de seu significado simbólico.
A máscara transforma o corpo do bailarino que conserva sua individualidade e, servindo-se dele como se fosse um suporte vivo e animado, encarna a outro ser; gênio, animal mítico que é representando assim momentaneamente. Uma máscara é um ser que protege quem a carrega. Está destinada a captar a força vital que escapa de um ser humano ou de um animal, no momento de sua morte. A energia captada na máscara é controlada e posteriormente redistribuída em benefício da coletividade. Como exemplo dessas máscaras destacamos as Epa e as Gueledeé ou Gelede [1][2][3]
As civilizações africanas tem uma visão holística e simbólica da vida. Cada indivíduo é parte de um todo, ligados, todos em função do cosmos em uma eterna busca pela harmonia e de equilíbrio. Outro conceito fundamental na filosofia da existência africana é a importância do grupo, para que a comunidade viva, cada fiel deve participar seguindo o papel que lhe pertence em nível espiritual e terreno.
Principais Religiões
As únicas religiões que tem relação com a arte africana no Brasil, são o Candomblé, e o Culto aos Egungun efetivamente de origem africana.
O Culto de Ifá em menor número no Brasil é o maior responsável pela divulgação da Yoruba Art em todo mundo, Estados Unidos, Cuba, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, são os países onde o maior número de peças podem ser encontradas, em museus e coleções particulares.
Dança Africana
Na dança africana, cada parte do corpo movimenta-se com um ritmo diferente. Os pés seguem a base musical, acompanhados pelos braços que equilibram o balanço dos pés. O corpo pode ser comparado a uma orquestra que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia. Outra característica fundamental é o policentrismo que indica a existência no corpo e na música de vários centros energéticos, assim como acontece no cosmo. A dança africana é um texto formado por várias camadas de sentidos. Esta dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimir através e para todos os sentidos. No momento que a sacerdotisa dança para Oxum, ela está criando a água doce não só através do movimento, mas através de todo o aparelho sensorial. A memória é o aspeto ontológico da estética africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e do antigo equilíbrio da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação entre o mundo dos seres humanos e os dos deuses.
A repetição do padrão-musical manifesta a energia que os fieis estão invocando. A repetição dos movimentos produz o efeito de transe que leva ao encontro com a divindade, muito usado em rituais. O mesmo ato ou gesto é praticado num número infinito de vezes, para dar à ação um caráter de atemporalidade, de continuação e de criação continua. Nas danças africanas o contato contínuo dos pés nus com a terra é fundamental para absorver as energias que deste lugar se propagam e para enfatizar a vida que tem que ser vivida agora e neste lugar, ao contrario das danças ocidentais performadas sobre as pontas a testemunhar a vontade de deixar este mundo para alcançar um outro.
Existem várias danças. Entre elas destacam-se: lundu, batuque, Ijexá, capoeira, coco, congadas e jongo.
Tipos de Danças Africanas Menos Comuns
Kizomba: Ritmo quente, originário de Angola, não pára de conquistar cada vez mais praticantes. É uma das danças sempre tocadas nas discotecas, não só africanas. Quente, suave, apaixonante… Vários estilos, técnicas, influencias. Toda variedade e diversidade de Kizomba.
Semba: É uma dança de salão angolana urbana. Dançada a pares, com passadas distintas dos cavalheiros, seguidas pelas damas em passos totalmente largos onde o malabarismo dos cavalheiros conta muito a nível de improvisação. O Semba caracteriza-se como uma dança de passadas. Não é ritual nem guerreira, mas sim dança de divertimento principalmente em festas, dançada ao som do Semba.
Danças Caboverdianas: Toda a variedade de ritmos originários de Cabo Verde: Funána, Mazurka, Morna, Coladera, Batuque.
Danças Tribais: Uma forte característica trazida para o Estilo Tribal das danças tribais é a coletividade. Não há performances solos no Estilo Tribal. As bailarinas, como numa tribo, celebram a vida e a dança em grupo. Dentre as várias disposições cênicas do Estilo Tribal estão a roda e a meia lua. No grande círculo, as bailarinas têm a oportunidade de se comunicarem visualmente, de dançarem umas para as outras, de manterem o vínculo que as une como trupe. Da meia lua, surgem duetos, trios, quartetos, pequenos grupos que se destacam para levar até o público esta interatividade.
Esculturas em marfim
A produção em madeira com marfim incrustado. Em menor quantidade estão os objetos esculpidos em pedra dura.
Esculturas em madeira
A escultura em madeira é a fabricação de múltiplas figuras que servem de atributo às divindades, podendo ser cabeças de animais, figuras alusivas a acontecimentos, fatos circunstanciais pessoais que o homem coloca frente às forças. Existem também objetos que denotam poder, como insígnias, espadas e lanças com ricas esculturas em madeira recoberta por lâminas de ouro sempre denotando um motivo alusivo à figura dos dignitários. Os utensílios de uso cotidiano, portas e portais para suas casas, cadeiras e utensílios diversos sempre repetindo os mesmo desenhos estilísticos.
Esculturas em outros materiais
Tecido Kente do Gana
Além das esculturas em madeira existem os objetos confeccionados com fragmentos de vidro das mais variadas cores, colocados em gorros, possuindo uma gama de figuras humanas e de animais, feitas com fio de algodão que passam por todo o tecido, colocados sempre em combinação vertical. As pedras podem ser alternadas por Cowrys, canudilhos metálicos ou de seda e algodão.
Os tecidos são lisos ou estampados, os bordados são rebordados com linhas e com pedras de vidro. Confeccionam roupas longas e gorros. A inventividade do bordado com pedras de vidro está muito espalhada nas populações da República da Nigéria. Os suportes para abanos, crinas e rabos de animais, também decoram com pedras de vidro, canudilhos e cauris.
Os tecidos e o vestuário chegaram a um desenvolvimento plástico considerável em zona de sultura urbana, assimilando muitos elementos da indumentária islâmica e outros introduzidos pelos europeus colonialistas. O tear horizontal, permitiu a confecção variada de tiras que posteriormente se juntam longitudinalmente para formar tecidos maiores. Deste tipo de confecção o mais característico é o chamado Kente, entre os Ashanti. Ainda entre estes tecidos está o estampado chamado Denkira, com figuras diferentes que se combinam para estruturar um desenho ou determinar um motivo fundamental. Os desenhos são imersos em uma tintura vegetal e impressos em tecido branco estendido em uma almofada.
O Alaká africano, conhecido como pano da costa no Brasil é produzido por tecelãs do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, no espaço chamado de Casa do Alaká.
Materiais usados
Ferro
O ferro é utilizado à partir de uma prancha fundida mediante pressão e calor. São confeccionados muitos atributos em várias formas pelos Abomei, de quem é a imagem da entidade Gu, dono do ferro representado por uma figura antropomorfa. Com a mesma técnica são encontrados vários atributos a variadas entidades e também vários instrumentos musicais.
Nestas, os detalhes da figura humana estão um pouco resumidos, destacando algumas marcas regionais, e nisto, assim como nas proporções gerais, diferem das de Ifé, nas que se percebe a procura dos modelos anatômicos, como se fossem retratos, dentro de um tamanho menor. As cabeças de bronze apresentam variedades de caracteres faciais, presos em detalhes sutis que permitem apreciar diferentes expressões nos rostos e até incluem algumas deformações anatômicas.
Picasso e a África
Pablo Picasso (1881-1973), mesmo nunca tendo ido a África, produzia obras com máscaras e estátuas que ele tinha com ele enquanto trabalhava. Picasso dizia que o “vírus” da arte africana o tinha contagiado.
{gallery}artes/museus{/gallery}
Referências
↑ “New” Giraffe Engravings Found. The 153 Club. Página visitada em 31-05-2007.
Ver também
Susanne Wenger
Templo de Osun
Albano Langa – Blanga
Ligações externas
O Wikimedia Commons possui multimedia sobre Arte de África
Abomey Historical Museum
Yoruba Art & Culture
Galeria de Arte Africana Contemporânea localizada em Lisboa
Susan Wenger
Arte Africana Moderna
Fotos da África
Artesanato Africano Online
Ile-Ona (Museum of Arts and Archival Materials)
Museu Afro-Brasileiro
Casa do alaká arte africana feita no Brasil
Obtido em Wikipedia, a enciclopédia livre
Pesquisa e seleção de imagens:Carlos Eugênio Marcondes de Moura
Imagens obtidas em Google Imagens