Museus: Crise de identidade

Da sacada no primeiro andar, avista-se a Avenida Caxangá. Mas as janelas têm permanecido fechadas. Desde o dia 25 de fevereiro, a população não tem mais acesso ao prédio do Museu da Abolição, que fica no Sobrado Grande da Madalena, no bairro de mesmo nome. Não é a primeira vez que o museu – que se dedicaria ao resgate e valorização dos patrimônios materiais e imateriais vinculados aos afrodescendentes – é fechado. Na realidade, parece que, desde a sua criação, o museu já prenunciava os problemas que iria enfrentar: a sua instituição, por decreto lei federal, foi em 1957; mas só 26 anos depois, em 1983, o museu foi entregue à cidade.
 

Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press

Em 1990, a instituição fechou as portas; reabriu seis anos mais tarde. A mesma crise veio em 2005; em 2008 foi a reabertura. "Entre 2005 e 2008 realizamos várias reuniões para discutir o futuro do museu. Foi um momento de questionamentos: será que esse museu tem sentido? Como a cidade enxerga essa instituição e o que ela espera que seja feito aqui?", avalia Adolfo Nobre, atual diretor do Museu da Abolição e presidente do Fórum dos Museus de Pernambuco. 

Outro impasse no funcionamento do Museu é que a 5ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que funcionava no mesmo prédio, desocupou o local no fim do ano passado. "Desde 2007 o Iphan estava para sair, mas isso nunca acontecia. De certa forma foi uma surpresa quando aconteceu", complementa o diretor.

E então? O que fazer com uma casa de 1.200 metros quadrados? "Primeiro nós vamos realizar um levantamento arquitetônico para planejar uma reforma. Os problemas não são estruturais, mas a casa tem avariações. Precisamos ver iluminação, fiação, pintura", diz. O projeto deve ser feito este ano para que a reforma comece em 2011.

Até lá, o diretor promete que a casa não ficará fechada. A expectativa é que o museu seja reaberto no mês de maio com duas exposições: Relíquias de Buda (que ficará em cartaz só por três dias) e Oriki (que são formas decontar lendas africanas; essa estará aberta a visitação durante três meses). Em setembro, está prevista uma exposição 'interventiva' para contar a história da casa e do negro. "Mais do que apertar um botão, como nas mostras interativas, o público poderá participar ativamente. Disso depende o futuro do museu", explica.

Para montar a exposição de setembro o diretor deve lidar com a falta de acervo da casa e de pessoal. Atualmente, há apenas três funcionários trabalhando na administração da casa. Já a coleção do museu está guardada em dois armários. Há também algumas poucas peças de mobiliário, entre elas uma liteira emprestada do Museu Histórico Nacional. "Só para devolver essa liteira vamos gastar cerca de R$ 15 mil", diz. O diretor não avalia como negativa a ausência de um acervo. "Raro, exclusivo, valioso, autêntico. Esses não são os únicos critérios para que os objetos estejam no museu. Qualquer objeto pode ser isolado e visto com um olhar museológico. Não queremos um museu que só fale do negro como escravo, que só tenha instrumentos de tortura; ou só dos aspectos culturais, como a religião", complementa. 

Ibram – Em todo o Nordeste, o Instituto Brasileiro de Museu (Ibram) é responsável pela gestão de apenas dois museus: um deles fica em Alcântara, no Maranhão, e outro é o Museu da Abolição. "A nossa função não é trabalhar com unidades em si, mas estimular e facilitar a melhoria dos museus. É no âmbito da política pública que trabalhamos", esclarece. O órgão, que foi criado ano passado, ainda está se estruturando. Um concurso público, inclusive com vagas para Pernambuco, será realizado neste domingo.

Fonte: Diário Pernambucano

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