“Mutilação genital não é cultura, é violência”, diz ativista africana

Leyla Hussein sofreu com a violência aos sete anos e hoje luta pela causa. No documentário “Cruel Cut” ela faz campanha anti-mutilação e mostra como a prática ainda é assustadoramente aceita pelas pessoas em comunidades de imigrantes africanos do Reino Unido.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 140 milhões de meninas e mulheres no mundo vivem atualmente com as consequências da mutilação genital feminina e outras 30 milhões ainda correm o risco de serem obrigadas a isso. Leyla Hussein, de 32 anos, passou por isso quando tinha sete anos e morava na Somália. Atualmente, ela é ativista, psicoterapeuta e fundadora da instituição de caridade Filhas de Eva, dedicada à luta pela causa anti-mutilação.

No documentário “Cruel Cut”, que será exibido na rede de TV inglesa Channel 4, ela faz campanha contra a mutilação genital feminina e mostra cenas chocantes gravadas nas ruas de Northampton, no Reino Unido. Nas imagens, ela se passa por uma assistente social que pede para as pessoas assinarem uma petição de apoio à mutilação. Para seu espanto, várias delas concordaram e assinaram. “Continuei usando repetidamente a frase ‘é apenas uma mutilação. E eles concordavam dizendo “sim, você está certa”. Como alguém pode pensar que está tudo bem com isso?“, diz Leyla, revoltada, em cena do documentário. Dezenove pessoas assinaram a petição falsa e, sem saber, deram seu apoio à causa que Leyla combate.

“Mutilação genital não é cultura, é violência”, diz ativista africana

É inacreditável que cidadãos do Reino Unido assinem uma petição apoiando o abuso de crianças“, disse o diretor de Advocacia da Equality Now, Efua Dorkenoo, em entrevista ao jornal “Daily Mail”. “Está na hora de todo mundo parar de se preocupar em ser visto como racista ou pisando em “ovos” culturalmente falando. Quando, na realidade, não fazer nada para proteger as meninas em risco de mutilação é o que é realmente racista”. Leyla agora é responsável por assumir a elaboração de um plano de ação contra a mutilação, em parceria com o governo britânico e o Ministério da Saúde e Educação, o Ministério da Justiça e o orgão Crown Prosecution Service.

A prática, comum em diversas comunidades africanas (e de imigrantes da mesma origem), principalmente muçulmanas, é considerada uma iniciação à vida adulta e uma maneira de manter as meninas “puras”, garantindo que elas consigam casar. Segundo dados da UNICEF, no Reino Unido atualmente cerca de 66 mil mulheres já foram submetidas ao processo e outras 24 mil meninas correm o risco de ainda passarem por isso. Para Leyla, isso é revoltante: “Parem de usar a palavra cultura. Isso está acontecendo com as crianças. Somos seres humanos, não podemos assistir crianças que estão sendo cortadas, não importa a cultura a qual pertençam. Isso não é cultura, é violência”. Em “Cruel Cut”, Leyla entrevista pessoas envolvidas no assunto e confronta a própria mãe sobre como ela deixou que a filha fosse mutilada. “Quatro mulheres me seguraram e cortaram o meu clitóris. Eu senti cada corte. Estava gritando muito e acabei desmaiando de tanta dor”, relembra.

 

Fonte: Marie Clarie

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