Na África, pesquisador da Unesp critica “estrangeirização” da terra

O geógrafo Bernardo Mançano Fernandes, professor do Câmpus de Presidente Prudente, foi um dos três pesquisadores brasileiros na 13ª Assembleia Geral do Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciência Sociais em África, realizada de 5 a 9 de dezembro de 2011, na cidade de Rabat, capital do Marrocos. Um dos principais temas tratados foi a estrangeirização da terra, o processo de aquisição de propriedades rurais por empresários não-nacionais.

Especialista no tema, Mançano está a frente de uma pesquisa sobre estrangeirização de Terras no Brasil e na África com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele é coordenador da Cátedra Unesco de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial, vinculada ao Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (Ippri).

Segundo o professor, a política de estrangeirização da terra — land grabbing ou acaparamiento — promove o que ele define como um “desenvolvimento perverso, em que os camponeses pobres são expropriados de suas terras para que países ricos produzam commodities para abastecer seus mercados”.

Durante o debate no Marrocos, o foco das discussões foi a ação da China na compra e arrendamento de terras em vários países africanos, asiáticos e latino-americanos, incluindo o Brasil. O estudioso destaca ainda Emirados Árabes Unidos, Bahrain, Arábia Saudita e Qatar como nações que também usam esse método.

“O Brasil também é autor dessa política nefasta, comprando terras no Zimbabwe e em Moçambique”, afirma o pesquisador. “Essa prática só é possível por causa do interesse dos governos desses países que preferem trazer investimentos externos a investir em seu povo e em seu território.”

Uma das consequências mais imediatas desse processo de estrangeirização é a insegurança alimentar. Isso porque, conforme explica o professor, essas regiões passam a produzir alimentos apenas para a exportação, tornando os produtos agrícolas inacessíveis para a população local e impedindo a existência da agricultura familiar.

RELATÓRIO

A Assembleia também serviu de palco para um debate sobre o Relatório Mundial de Ciência Social da Unesco. Entre os temas mais polêmicos e que gerou mais protestos entre os participantes, está a influência das ciências sociais dos EUA no pensamento dos cientistas do hemisfério Sul. Essa interferência foi reconhecida e questionada pelos que defendiam um pensamento africano (“africologia”).

Muitos participantes defenderam a construção do pensamento crítico e autônomo, rompendo com o pensamento colonizador. “Na América Latina, África e Ásia já são vários os pensadores que contestam a simples aplicação de teorias em artigos enfadonhos de revisão da literatura que pouco contribuem para entender a realidade”, diz Mançano. Para ele, nesse movimento, as ciências sociais criaram novas referencias teóricas para explicar os confrontos de diferentes modelos de desenvolvimento que têm aumentado o consumo e a pobreza.

Depois dos países africanos, os EUA aparecem como o país com maior número de participantes na Assembléia, seguido pelos europeus (França, Inglaterra, Holanda, Suécia, Itália, Espanha e Portugal) e pela China. Da América Latina, somente o Brasil esteve presente com três professores. “Esses números confirmam que temos ainda um longo caminho a construir para rompermos com a supremacia Norte-Sul”, conclui o professor.

ASSENTADOS COM DIPLOMA

O evento em Rabat também permitiu a realização de um colóquio entre cientistas militantes do desenvolvimento. A denominação criada com a ajuda de Mançano se refere a estudiosos (geógrafos, sociólogos, economistas, historiadores, pedagogos, entre outros) que produzem ensaios teóricos integrados com políticas públicas para promover a inclusão e emancipação socioterritorial.

No colóquio, o professor da Unesp falou sobre o projeto de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe, que será criado na Cátedra Unesco de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial do Ippri.

Ele também apresentou os resultados do curso especial de graduação em Geografia para assentados rurais oferecido pela Unesp, em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A ação formou este ano 46 geógrafos e professores de geografia que já estão atuando nos territórios camponeses.

“As iniciativas inovadoras da Unesp são referência para universidades da América Latina e da África”, diz o professor. “No colóquio, surgiram várias propostas de aproximação para o intercâmbio dessas experiências.”

 

FONTE

Universidade Estadual Paulista
Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp
Telefone: (11) 5627-0329
E-mail: [email protected]


Links referenciados

13ª Assembleia Geral do Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciência Sociais em África
www.codesria.org/spip.php?article1321&la
ng=pt

Cátedra Unesco de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial
www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-thi
s-office/single-view/news/unesco_chair_i
n_territorial_development_and_education_
for_the_countryside

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
www.cnpq.br

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
www.incra.gov.br

Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp
www.unesp.br/aci/

[email protected]
[email protected]

Câmpus de Presidente Prudente
www.fct.unesp.br

Universidade Estadual Paulista
www.unesp.br

Bernardo Mançano Fernandes
lattes.cnpq.br/2836764800084585

Marrocos
pt.wikipedia.org/wiki/Marrocos

Unesco
www.unesco.org.br

Unesp
www.unesp.br

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