Na sala de aula te acorrentam com olhares, como na escravidão

Fico me perguntando, quando um professor fala sobre escravidão, ou cita algo sobre um acontecimento ou movimento que envolve negros, seu olhar pousa sem pausa no aluno negro, ou a sala te olha descaradamente, esperando que você levante o punho para o alto. Ou que comece uma discussão, corrigindo o que o professor diz. Mas, não! Simplesmente, só quero ouvir, sobre a matéria e não precisar me distrair, com olhares que se fixam em mim. E, ficar oprimida por que, parece que estão falando dos meus parentes. Talvez, ancestrais. Desde o ensino fundamental, sofri com tudo isso, o assunto sempre era escravidão, e nunca sobre como Martin Luther King Jr. foi importante, nem como Dandara foi uma mulher forte, Mandiba? Somente escravidão.

por Taynara Ferreira via Guest Post para o Portal Geledés

JEAN-BAPTISTE DEBRET

Em algumas vezes, fingia me ocupar com algo para que a professora não ficasse constrangida, por não conseguir parar de olhar, para mim. Colocar o fone, para não ouvir piadinhas sobre “Estão falando de negros, ouve.”, “Olha, alguém da sua família no livro de história.”. Na escola, somente escravidão. Se eu, quisesse saber sobre cultura negra, teria que me deslocar por conta própria. Foi bom, descobrir sozinha mas, quando um professor te apresenta a cultura, filmes, músicas é como se você descobrisse, que não é só você que se questiona, o porquê de algumas coisas, serem como são. Sinceramente, já estava  cansada de ver tantos filmes de gente branca, sobre senadores e presidentes brancos, que meus professores brancos recomendavam.

Mil vezes, quis perguntar sobre o assunto, mas a sala toda reagiria como um tiro. Não estou sendo dramática, somente no ensino médio que pude ter um pouco mais de segurança. Desde o ensino fundamental estava pronta para ouvir sobre personalidades negras, sobre tudo o que envolvia, quem não estava pronto, eram meus professores e colegas de sala, e claro o planejamento de aula que nunca tinha, esse tipo de conteúdo. Falem de Hitler, que foi super importante. Mas, deixem Malcolm X fora disso. Durante o terceiro ano, minha professora de inglês, estava lendo no livro sobre Mandela, foi a primeira vez que um professor, não pesou o olhar em cima de mim, e me ameaçou com o seu próprio medo de dizer algo errado, por estar falando sobre alguém importante e negro. Respondi a pergunta, para ela. Logo depois, sabe o que eu fiz? Agradeci, a ela por não me acorrentar com o olhar. Não se pode criar negros, inseguros e alienados, que só manifestam seu interesse por sua cultura quando as brancas, usarem turbante e tranças, porque está na moda.

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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