Se você esperava mais um texto meloso ou um pseudo feminista sobre como certas mulheres são mais interessantes que outras, sinto muito desapontá-los. O texto é exatamente o oposto disso.
Por Valeska Pereira Do Portal Fórum
Todos os dias vemos textos, tweets, imagens engraçadinhas de Facebook dizendo“namore uma mulher que goste disso e não daquilo” ou “se ela tem mais livros que sapatos, case com ela”, tudo isso supostamente combatendo essa “futilidade” associada ao gênero feminino. E vejo várias mulheres, compartilhando e achando o máximo esse tipo de segregação.
Oras, isso não é muito diferente do que o machismo já faz há tempos. Quando instituíram que mulheres deveriam ser delicadas, femininas, sensíveis, gostar de maquiagem, perfume, roupas, serem exímias donas de casa, sendo então consideradas “mulheres de verdade”. Bom, infelizmente ou felizmente, nem todas se encaixavam ou queriam se encaixar nesse padrão pré-fabricado. O feminismo veio para questionar esse papel que nos era imposto e claro, para desconstruir esse padrão que nos aprisionava e restringia nossa colocação na sociedade.
E hoje nos é permitido fazer e gostar de “coisas de menino”. Esportes, matemática, engenharias, cerveja, entre outras coisas. Mas olha, quem disse que isso são coisas que só meninos fazem? Adivinhem? O machismo, claro. Assim como o feminino foi construído, o masculino também foi. Não é por nascer com um pênis que automaticamente você passa a amar futebol e ser louco por seu time. Não é por nascer mulher que você nasce com um dom e talento para se maquiar como uma Kim Kardashian da vida. Não. Mas desde pequenos meninos são criados de um jeito e meninas de outro. A velha história do quarto rosa x quarto azul.
E se hoje podemos escolher entre gostar de de maquiagem ou gostar de futebol e cerveja, ótimo. Maravilhoso que possamos ter maior liberdade de construir nossos gostos, sem que sejamos párias na sociedade por gostarmos mais de azul do que de rosa. Ou de cerveja em vez de maquiagem.
Mas então, qual o problema dos textos, tweets e imagens?
Simples. Numa tentativa de desconstruir essa obrigatoriedade do que é feminino, muitas pessoas estão julgando e segregando, quem, por inúmeras e desconhecidas razões, se aproxima desse ideal de gênero. É como se por gostar mais de “coisas de menino” você se tornasse uma mulher muito mais legal que as outras. E isso nada mais é do que uma releitura daquela velha divisão de “mulher pra comer” x “mulher pra casar”, que já se fazia há muito tempo atrás. Fora que continua perpetuando a ideia de que tudo e qualquer coisa associada culturalmente ao feminino tem menos valor, é menos interessante. Ou seja, a única forma de uma mulher agora receber a aprovação é se ela romper com o que se espera culturalmente de uma mulher e se aproximar do que se espera de um homem. Continua sendo machismo.
E é mais uma manobra pra manter o machismo vivo por aí, sabe? Conquista várias mulheres que acham que ganharam o ticket que vai lhes incluir no Clube do Bolinha. Mas amigas, vocês até podem ter um discurso recheado de ideias machistas, vocês podem até ser consideradas “um dos caras” no seu grupo de amigos, mas lembre-se: você ainda é mulher. E mesmo que um pequeno grupo aceite você como membro, para o resto dos homens, você ainda será alvo das mesmas coisas que as outras mulheres passam.
E só pra informar a todos vocês: não existem coisas de meninos ou de meninas. A não ser em termos biológicos. Então, dá pra ter uma coleção de sapatos e ler mil livros; dá pra gostar de maquiagem e cerveja; dá pra gostar de futebol e de roupas. O mais legal é que uma coisa não anula a outra. E gostar de uma ou de outra, ou de ambas não te faz mais legal ou melhor partido do que a coleguinha que não.