“Não consigo respirar”: Após cinco anos, policial é demitido por matar Eric Garner asfixiado

Caso originou os protestos conhecidos como Black Lives Matter, que exigiam responsabilidade de policiais por mortes de negros desarmados

no Metropoles

Foto: PBS

Depois de cinco anos de investigações e protestos, o Departamento de Polícia de Nova York destituiu o agente acusado de aplicar um golpe proibido e matar por asfixia um cidadão negro cujos gritos de que “não conseguia respirar” provocaram um debate nacional sobre o uso da força policial nos EUA.

O caso originou os protestos conhecidos como Black Lives Matter (As vidas negras importam), que exigiam que os policiais fossem responsabilizados pelas mortes de cidadãos negros desarmados em custódia ou no momento de uma prisão.

O comissário da Polícia de Nova York, James O’Neill, disse à imprensa que o agente Daniel Pantaleo foi demitido da instituição pela morte do vendedor ambulante Eric Garner, ocorrida durante uma abordagem em 2014.

A demissão de Pantaleo ocorre após a juíza administrativa da polícia Rosemarie Maldonado ter recomendado há algumas semanas a demissão do oficial.

Pantaleo foi suspenso de suas funções enquanto aguardava a decisão de O’Neill, que tinha a última palavra sobre o futuro profissional do agente. “Está claro que Daniel Pantaleo já não pode servir como oficial da polícia de Nova York”, disse O’Neill.

Ele garantiu que foi uma decisão muito difícil de tomar – e certamente alguns oficiais estão “zangados” com ele – mas ele tem certeza de que era o certo a se fazer.

“Isso foi uma tragédia para a família Garner. Eu compreendo perfeitamente isso. O sr. Garner era filho de alguém, pai de alguém. Todos no Departamento de Polícia de Nova York entendem isso”, disse ele.

Vislumbre de justiça

Quatro oficiais tentaram prender Garner, de 43 anos, por suspeitas de vender ilegalmente cigarros numa rua em Staten Island no dia 17 de julho de 2014.

Em um vídeo gravado por uma testemunha, que foi publicado na internet e se tornou viral, é possível ver como Pantaleo força seu braço em volta do pescoço de Garner e o joga na calçada antes de liberá-lo. Enquanto isso, um segundo agente pressionava a cabeça do suspeito contra o chão.

Garner, que resistiu à prisão mas não estava armado, falou 11 vezes que não conseguia respirar – uma frase que se tornou slogan dos protestos.

Aos 43 anos e pai de seis filhos, Garner perdeu a consciência e, em seguida, e foi levado a um hospital onde foi declarado morto

Segundo o legista, a manobra do policial contribuiu para a morte de Garner por asfixia, mas sua obesidade, pressão alta e asma também foram fatores importantes.

Em 16 de julho, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos determinou que Pantaleo não enfrentaria acusações criminais, decisão que a família de Garner recebeu como “insulto”.

Essa decisão foi tomada depois que a família da vítima pediu ao Departamento de Justiça para considerar se acusações criminais ou civis poderiam ser aplicadas a um ou mais dos agentes envolvidos.

Trabalho administrativo


Em dezembro de 2014, quatro meses após a morte de Garner, um grande júri decidiu que o caso não tinha elementos suficientes para culpar Pantaleo. O policial foi transferido para trabalhos administrativos, mas ainda pertencia à Polícia de Nova York.

A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, disse que a decisão de O’Neill de demitir Pantaleo traria um pouco de alívio à família de Garner.

“Por cinco anos, a família Garner e as comunidades em todo o país esperam justiça pela morte de Eric Garner”, disse James em um comunicado. “Embora nunca possamos mudar os eventos ou trazer o sr. Garner de volta, hoje, finalmente, houve um toque de justiça”, acrescentou.

Em um comunicado, o líder do maior sindicato da polícia de Nova York denunciou a decisão, dizendo que O’Neil tinha se curvado aos “extremistas anti-polícia” e a demissão de Pantaleo envia uma mensagem de que a cidade não apoia seus policiais quando eles fazem prisões.

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