Marchando contra um Estado racista e que massacra a juventude negra, o movimento negro se organizou diante da indignação coletiva contra a chacina ocorrida no Rio de Janeiro (RJ) e foi às ruas exigir uma cidadania que verdadeiramente contemple a todos. Na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), o ato reuniu mais de 5 mil pessoas nesta sexta-feira (31). Os manifestantes reivindicaram a punição dos responsáveis pela maior chacina da história da capital fluminense e ações de amparo às famílias das vítimas.
No dia 28 de outubro, sob o pretexto de combater o crime organizado, as forças de segurança pública do estado do Rio de Janeiro promoveram o massacre de 121 pessoas nos Complexos do Alemão e da Penha. Dentre as vítimas da chamada Operação Contenção estavam 4 policiais e dezenas de jovens negros e periféricos.

Diante disso, a Coalizão Negra por Direitos organizou atos em todo o país, a fim de exigir dignidade à população negra. “Hoje, o movimento negro da uma resposta para esse massacre promovido pelo Cláudio Castro, governador do Rio. Existe uma parte importante da sociedade brasileira que discorda que um governador possa decidir quem vive e quem morre, discorda que haja assassinos de farda atuando sistematicamente no Brasil. É por isso que o movimento negro denuncia, também sistematicamente e há muitos anos, a violência da polícia”, afirmou Douglas Belchior, represente da organização.
Os jovens negros são os principais alvos das forças policiais brasileiras. Segundo o Anuário de Segurança Pública 2025, 82% das vítimas da letalidade policial são negras e 99,2% são do sexo masculino. Além disso, pessoas negras têm 3 vezes mais chances de serem mortas pela polícia do que as pessoas brancas, de acordo com o documento Brasil: Relatório sobre Justiça Racial na Aplicação da Lei.

Para Maria Sylvia, coordenadora de Gênero, Raça e Equidade de Geledés, a população negra e antirracista se mobiliza para exigir a mudança desse cenário de violência. “Nós precisamos sair às ruas e denunciar esse genocídio, pedindo respostas para o Estado brasileiro. Esses governadores têm que responder pelos crimes e o Estado brasileiro tem que desenvolver ações para acabar com essa mortandade da juventude negra”, afirmou.
Paulo Dias, da Associação Cultural Cachuera, destacou que o que houve no Rio de Janeiro “não combate ao crime, foi um combate às pessoas”. Ele pontuou que “as vítimas da necropolítica são sempre as mesmas e a gente já está farto de ver a população negra, pobre e periférica ser atacada e morta”.
Durante o ato, mães e familiares de vítimas da letalidade policial se fizeram presentes, mostrando que luto é verbo e que, muitas vezes, são corpos femininos que choram as mortes patrocinadas pelo Estado nas periferias e reivindicam por memória, justiça e reparação.
Sobre isso, Maria José Menezes, ativista da Marcha das Mulheres Negras, disse: “nós, mulheres negras, estamos aqui em repúdio a essa brutalidade que aconteceu no Rio de Janeiro e que acontece nas nossas periferias o tempo todo. E que as mães sofrem no seu cotidiano o desprezo e o ódio da nossa sociedade, dos meios de comunicação, da Justiça, e dos parlamentares de direita e de extrema direita que as culpam pela ausência do Estado nesses territórios”.
A militância jovem também estava presente no ato. Beatriz Lourenço, ativista da Uneafro, marcou presença na manifestação. “A importância de vir aqui é compreender que o que aconteceu essa semana no Rio de Janeiro é o retrato da barbárie, a qual está submetida a população negra nas periferias, nas favelas”, afirmou.
Andréia Coutinho Louback, do Centro Brasileiro de Justiça Climática, é do RJ e estava na capital paulista na ocasião do ato. “Ver o país se mobilizando em torno de uma injustiça que ceifou tantas vidas no meu estado, de onde eu venho, é o que me traz aqui hoje. Não aceitaremos, não toleraremos. Pelo fim da Polícia Militar!”.