Negra, agredida em casa e pelo marido: o perfil das mulheres que mais sofrem violência doméstica no campo

Enviado por / FonteG1, por Vivian Souza

Estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisou 79.229 denúncias feitas em todo o Brasil entre 2011 e 2020 no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Mulheres negras, sem escolaridade, com idades entre os 18 e 29 anos e casadas: esse é o principal perfil das vítimas de violência doméstica no campo, segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na última sexta-feira (13).

A pesquisa analisou 79.229 denúncias feitas em todo o Brasil entre 2011 e 2020 no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Segundo o relatório, mais da metade das vítimas eram casadas e o agressor, normalmente, era o marido ou namorado, responsável por 53% dos crimes. Confira abaixo o perfil completo das vítimas.

violência física foi o tipo mais denunciado, correspondente a 77,6% dos casos no período.

Segundo o estudo, o meio para cometer essa agressão é o uso da força corporal e espancamento (59,2%), seguido de ameaça (21,5%) e envenenamento (14,6%).

Veja a seguir outros tipos de violência apontados pela pesquisa.

A maioria das agressões aconteceram dentro de casa, sendo o local de 75% dos crimes. 40% das vítimas relataram que foram agredidas fora de casa e 16% não informaram.

Em grande parte das denúncias, as mulheres foram violentadas mais de uma vez (44%) dos casos.

Foi o que aconteceu com a Ivany Schultz Reichardt, moradora de Teófilo Otoni (MG). Ela passou boa parte de sua vida em estado de violência. Primeiro, por causa de seu esposo. Depois, por causa do irmão. Ela estava grávida quando sofreu a primeira agressão do ex-marido, no final dos anos 80.

Em um dos episódios mais dramáticos, o ex-marido a agrediu com uma enxada. O golpe chegou a afundar a cabeça do filho recém-nascido que Ivany segurava nos braços.

Isolamento e medo: o que impede as denuncias

Em 2022, um levantamento realizado pelo g1 apontou que o Brasil teve pelo menos 32.448 denúncias de mulheres que foram vítimas de violência doméstica e familiar em zonas rurais naquele ano.

No entanto, os números de denúncia devem ser bem maiores. “Nas áreas rurais, há uma subnotificação absurda dos casos de violência doméstica”, disse na ocasião a pesquisadora e policial militar Juliana Lemes da Cruz, que é conselheira do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e estuda o tema no Vale do Mucuri, no nordeste de Minas Gerais.

Além de Cruz, as pesquisadoras do curso de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Marta Cocco da Costa e Jaqueline Arboit relataram características que as vítimas do crime têm em comum:

➡️ o isolamento: o fato de muitas mulheres do campo morarem distantes de vizinhos, familiares e de espaços de coletivos de convivência dificulta o pedido de socorro e o acesso à informação sobre como romper o ciclo de agressões.

➡️ a distância dos serviços de saúde: hospitais com mais estrutura dificilmente estão localizados nos municípios das vítimas e os postos de saúde, em geral, têm horário de funcionamento limitado. Além disso, muitas não têm carro e dependem de ônibus e barcos fretados, que passam em horários específicos.

➡️ a distância de delegacias e o medo de denunciar: da mesma forma que na saúde, as mulheres estão, em geral, distantes de delegacias e têm medo de a denúncia não dar em nada.

➡️ impedimento de acessar bens e dinheiro: nas áreas rurais, ainda é comum que o homem centralize os recursos financeiros e impeça que a mulher tenha acesso a bens. Apesar disso, elas trabalham junto aos maridos e cuidam das casas e dos filhos.

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