Negros e índios discutem cidadania durante conferência

Fonte: Diário da Amazônia

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Divulgação

Propostas para diminuir as desigualdades de negros e índios na sociedade são debatidas na 2ª Conferência de Promoção da Igualdade Racial realizada em Porto Velho. A conferência iniciada nesta quarta feira (20/5) vai até hoje no Rondon Palace Hotel e pretende elaborar um plano de políticas públicas voltadas principalmente para a educação, saúde, trabalho, renda e segurança. As propostas vão ser encaminhadas para conferência nacional em Brasília no fim do mês. Cerca de 120 pessoas de 47 municípios estão participando do evento.

Segundo a coordenadora estadual da conferência, Else Schockness, a educação tem o maior número de propostas para serem discutidas, são 100 no total. Para ela, o sistema educacional é fraco e exclui o negro do mercado de trabalho. “A diferença é clara ao perceber, por exemplo, que existem poucos médicos negros e em outras áreas de destaque porque a estrutura da sociedade não ajuda o negro, que desde a libertação dos escravos não teve apoio para se igualar ao branco e ser realmente um cidadão”, diz Schockness. A coordenadora acredita que as cotas nas universidades podem diminuir as diferenças sociais. “O que falta é oportunidade, pois uma pesquisa recente comprova que os negros com cotas se destacaram nas universidades e obtiveram boas notas”, completa.

O quilombola da comunidade Pedras Negras, no Vale do Guaporé, Apolonio França, 36, conta que já sofreu discriminação racial quando tentou trabalhar em um supermercado. “O emprego havia sido indicado para mim, mas na hora da entrevista, me falaram que não tinha a vaga, que era um engano. Só que no mesmo dia contrataram um rapaz branco para trabalhar no meu lugar”, diz. Com o passar dos anos e sem oportunidade, França encontrou na agricultura a única opção para viver. O agricultor revela que os quilombolas estão sofrendo com a falta de saúde, educação e emprego. “Estamos abandonados, isolados de tudo, os governos só prometem, mas cansamos de promessas, queremos ajuda”, afirma. França denuncia ainda os casos de AIDS que estão tomando conta das comunidades do Vale do Guaporé (ribeirinhos índios e quilombolas). A informação apresentada pelo quilombola é quem em 150 exames de HIV coletados neste ano, 80 tiveram resultado positivos.

De acordo com França, na comunidade Pedras Negras, moram 22 famílias e que o acesso à cidade mais próxima (São Francisco do Guaporé) para procurar serviços básicos de saúde e escola são difíceis. “São quase dois dias de barcos”, diz ele. Para participar da conferência em Porto Velho o quilombola gastou aproximadamente três dias. “foi um sacrifício vim, e buscar propostas para nossas comunidades”, afirma.

Já o líder indígena, Orlando Karitiana, diz que sofreu discriminações nas escolas. “Tive problemas em escolas por ser índio”, revela. O karitiana propõe que haja políticas publicas voltadas para os índios. “Precisamos de mais educação, saúde e que sejam de formas respeitosas às nossas tradições”, disse. Ele acredita que os problemas indígenas seriam diminuídos se houvesse representantes nos poderes públicos. “Não existe ninguém que representa a nossa raça na política, nem no legislativo e judiciário”, conclui.

Vitor Martins Noé, advogado representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RO), destacou na conferência a luta pela igualdade racial e lembrou que as conquista ainda não foram suficientes. “Apesar da árdua luta os avanços alcançados são muito tímidos, se tem a liberdade, mas não terra, profissão, abrigo, saúde, escola ou até mesmo a ajuda do governo ficando abandonado à própria sorte”, afirma. E necessário continuar essa luta permanentemente, reafirmando o apoio da OAB/RO em todas as ações afirmativas.

Desigualdade Salarial

Brancos têm quase o dobro da renda dos negros e pardos. Segundo pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última semana, o branco recebe em média R$ 1.663,9 reais enquanto os negros e pardos tem renda de R$ 847,7. Apesar dos valores terem um aumento de 22% na renda do negro e pardo e 15% na dos brancos, comparado com março de 2003, a diferença salarial e de R$ 816,2.

De acordo ainda com IBGE, os brancos têm empregabilidade maior do que os negros. A diferença chega a quase 10%.

Projeto de Lei

O Estatuto de Igualdade Racial (Projeto de Lei 6264/05) em discussão no Congresso Nacional proíbe a exigência de boa aparência para candidatos a empregos e de fotos em currículos, além de fixar cotas na educação destinadas a alunos de escolas públicas, em proporção no mínimo igual ao percentual de negros e pardos na população do estado.

Matéria original: Negros e índios discutem cidadania durante conferência

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