‘Negros Gigantes’: Alê Garcia lança na Bienal livro sobre pessoas negras que o inspiraram

Histórias de vida do autor são contadas por meio da relação com as obras de artistas e pensadores negros como Lázaro Ramos, Elza Soares, Mano Brown, Emicida e Martin Luther King

O publicitário e escritor Alê Garcia, 42, lança neste sábado (9), durante a 26º Bienal do Livro, em São Paulo, o livro “Negros Gigantes”, no qual conta como personalidades negras o ajudaram a lidar com o racismo cotidiano.

“Eu escrevo essencialmente para as pessoas negras. Obviamente, as pessoas não negras que quiserem participar da luta antirracista são muito bem-vindas, mas escrevo para pessoas negras porque quero que tenham a possibilidade de se inspirarem e se empoderarem assim como eu tive”, diz.

Alê Garcia cresceu na Restinga, bairro de Porto Alegre criado na década de 1970 “para mandar para bem longe — para tornar invisíveis — mulheres e homens negros que vinham do interior e, na opinião da elite local, enfeiavam o centro da capital”. O bairro fica a cerca de 20 km de Porto Alegre.

Foi na Restinga que escutou pela primeira vez falar do grupo Racionais MC’s. O primeiro capítulo do livro é dedicado à influência de um dos racionais, Mano Brown, na sua formação de identidade.

“Eu estava vivenciando o orgulho negro ao viver em uma comunidade negra como a Restinga e sentindo o orgulho negro crescer em mim, porque estávamos construindo nossa fala, criando nossa própria narrativa.”

Como escritor, Alê Garcia foi finalista do Prêmio Jabuti com o livro de estreia, “A sordidez das pequenas coisas” (2010). O novo livro já era uma realidade há pelo menos quatro anos, quando criou o podcast “Negro da Semana”.

“Eu lancei o podcast para me tornar mais conhecido e continuar com a literatura. Eu sou escritor acima de tudo. Quando nasceu Negro da Semana, eu pensei: ‘em algum momento quero levar para às páginas de um livro'”, explica.

Ele não queria apenas transcrever o podcast. Desejava contar sua história e mostrar o impacto de artistas e pensadores como Lázaro Ramos, Elza Soares, Mano Brown, Emicida, Martin Luther King.

Questionado sobre o porquê de optar por idas e vindas entre a escrita acadêmica, a norma culta e a coloquial —quase como em uma conversa—, Alê Garcia diz que o objetivo é “desfazer as barreiras entre a chamada alta intelectualidade e o que chamam de baixa cultura”, unindo embasamento teórico e experiências de vida.

Com o lançamento do livro, o publicitário deseja realizar rodas de leitura em periferias pelo Brasil e afirma que tentará conseguir o financiamento necessário por meio da Lei Rouanet. Para Garcia, essa é uma maneira de ajudar como pode.

“Quero levar autoestima, inspiração e empoderamento às pessoas porque é fundamental que negros eventualmente chegaram, ou estão perto de chegar, do que alguns chamam de topo, estejam dispostos a levar outros consigo.”

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