Nei Lopes “chuta o balde” com humor

– Fonte: Folha de São Paulo –

Em novo álbum, compositor carioca satiriza modismos estrangeiros e faz críticas a sambistas de ocasião.

Nei Lopes começa seu novo disco em tom de rap. Mas o proposital susto só dura duas estrofes, e logo “Chutando o Balde”, a faixa-título, vira samba. Este é o gênero que o compositor domina como poucos e do qual é um defensor fervoroso, tendo suas armas voltadas contra a música pop hegemônica, inclusive o rap.

“Acho que o rap tem muita afinidade com o coco de embolada. Então, o que enche o saco é isso: se temos uma forma de discurso-cantoria tão sofisticada e interessante quanto o coco, supervalorizar o rap, que é infinitamente inferior, só pode ser colonização mesmo”, afirma o carioca de 67 anos.

Se alguém ainda não conhece nada da obra do autor (ou coautor) de “Tempo de Dondon”, “Senhora Liberdade”, “Gostoso Veneno” e “Coisa da Antiga”, pode achar que ele é um ranzinza xenófobo. Mas Nei é amante do jazz, do blues e da música cubana -vide o CD anterior, “Partido ao Cubo”, e a faixa “Saracuruna-Seropédica” no novo. Só não gosta muito é de misturas sonoras e modismos estrangeiros.

 

 

Americanização
Na hora de criticar em forma de samba, faz tudo com muito humor. Isto fica claro em “Pombajira Halloween”, “Pala pra Trás” e “Dicionário”, mas perpassa todo o repertório.

“A americanização da fala brasileira me incomoda principalmente porque ela vai acabar levando o povo a não saber falar nem uma língua nem outra. Talvez essa seja uma das grandes causas do analfabetismo funcional que rola por aqui”, diz o artista, que chuta o balde com mais força quando não está compondo.

Em “Samba de Fundamento” -uma das seis parcerias com a turma paulista do Quinteto em Branco e Preto- o alvo do sarcasmo é o sambista de ocasião: “Botou na cabeça o chapéu assim feito uma flor/ Pegou meu pandeiro e bateu com mais ódio que amor”. “O pior é o aproveitador, o “hippie velho” que, violão em punho, fica posando de sambista. Se o samba der certo, deu. Se não der, ele pula para a MPB”, critica Nei.
As falas podem não indicar, mas “Chutando o Balde” é um disco divertido. Mais uma chance para constatar que as posições fortes e a militância em temas afro-brasileiros não diminuem o compositor que é Nei Lopes.

“É claro que [a militância] prejudica [o reconhecimento]. Mas eu sei que sou do primeiro time. E Guinga, Zé Renato, Fátima Guedes, João Bosco, Ed Motta e todos os outros grandes melodistas para os quais eu já fiz letras também sabem. E isso é o que basta.”

 

CHUTANDO O BALDE

Artista: Nei Lopes
Gravadora: Fina Flor
Quanto: R$ 27, em média

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