Nem cárcere, nem tiro, nem Covid: corpos negros vivos! Mulheres negras e indígenas! Por nós, por todas nós, pelo bem viver! 

FONTEMarcha das Mulheres Negras de SP 2020
Reprodução/Facebook

Nós, mulheres negras, indígenas e imigrantes, reunidas neste 25 de julho de 2020, viemos, mais uma vez, denunciar o racismo do Estado brasileiro contra nossos corpos. A data marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e o Dia Nacional da Mulher Negra, criado no Brasil em homenagem à quilombola Teresa de Benguela. Estamos juntas e unidas lutando por nós, por todas nós, pelo Bem Viver e contra o genocídio do povo preto, dos povos indígenas, de LGBTQIA+ e contra todas as formas de opressão.

Em 2015, tomamos as ruas no dia 18 de novembro para realizar, em Brasília, a Marcha das Mulheres Negras – Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, que reuniu cerca de 50 mil mulheres negras de todos os recantos do Brasil. Hoje celebramos os 5 anos da Marcha, um marco político e organizativo da luta das mulheres negras.

Em São Paulo, também temos celebrado a data, em Marcha, e desde 2016, reunimos mais de 15 mil mulheres negras que tomaram as ruas da cidade celebrando também este legado! Demonstramos nossa indignação, mas também nossa força, reafirmando nossa luta e solidariedade à todas mulheres que engrossam cada vez mais o coro pelo Bem Viver.

Em 2020, realizamos nossa 5ª Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, agora de maneira virtual em função da Covid-19, e apresentamos para a sociedade questões que nos afetam diretamente e que queremos ver enfrentadas por todas as pessoas que acreditam num novo projeto democrático de país.

Reivindicamos o Bem Viver, por ele resgatar as formas ancestrais de gestão do coletivo e do individual, com respeito aos nossos corpos e à natureza. Exigimos outra economia, sustentada nos princípios de solidariedade, reciprocidade, responsabilidade e integralidade.

No Brasil, a pandemia escancarou as desigualdades econômicas, sociais e raciais. A crise sanitária mostrou que o racismo estrutural impõe à população negra a maior vulnerabilidade diante da Covid-19, pois é esta parcela da população que segue sem acesso aos direitos básicos de saúde, saneamento, educação e moradia, particularmente, mulheres negras, pobres e trabalhadoras informais.

Enquanto a elite e parte da classe média puderam – e continuam podendo – trabalhar de casa com todos seus direitos assegurados, milhares de trabalhadoras e trabalhadores negros, pobres e periféricos, que já ocupam postos de trabalhos precarizados, não puderam cuidar de sua saúde e proteger seus familiares. Crianças e jovens pobres e periféricos foram profundamente afetados pela política educacional que não levou em conta a falta de condições e equipamentos básicos para que elas pudessem continuar estudando e se formando.

Nesse contexto, milhares de trabalhadoras domésticas também foram obrigadas a continuar trabalhando na casa grande moderna, sem nenhum dos seus direitos e conquistas respeitados. Nos lembramos de Mirtes Renata, obrigada a trabalhar durante a pandemia e levar seu filho, o menino Miguel de 5 anos, para a casa da patroa Sari Corte Real, que o abandonou no elevador, ocasionando sua morte num trágico e evitável episódio, em Recife.

São as mulheres negras e pobres, trabalhadoras informais que têm sua condição agravada, pois, além de estarem nas ruas, batalhando pelo sustento da família, assumem os cuidados com a casa, as crianças, os idosos e os doentes próximos. E ainda têm enfrentado o aumento da violência doméstica em níveis alarmantes durante a pandemia.

O autoritarismo e o racismo institucional não apenas crescem como seguem referendados pela política genocida do Estado, que investe toda sua força policial em intervenções em favelas e comunidades, matando indiscriminadamente e provocando um verdadeiro genocídio contra a população negra, principalmente a sua juventude.

Vivemos um momento em que os direitos humanos, direitos sexuais e direitos reprodutivos sofrem ataques por parte de setores conservadores em que as mulheres, trans, travestis e lésbicas têm sido os principais alvos. Potencializado pelo discurso de ódio, o número de casos de violências, agressões e feminicídios só têm aumentado.

Na saúde, o racismo institucional se revela por uma divisão desigual de acesso e tratamento dentro do sistema, resultado expresso em qualquer indicador oficial, que demonstra a maior mortalidade por Covid-19 entre a população negra e periférica. Essa situação é agravada pela política negacionista deste governo, que promove o sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

O governo de São Paulo, na mesma trilha do governo federal e seus aliados, tornou o estado o epicentro da pandemia, ao negligenciar a situação daqueles que deveria proteger, deixando milhares de mortos e famílias fragilizadas.

Neste momento, em que a democracia está ameaçada pelo crescimento do fascismo, do racismo, do patriarcalismo e do fundamentalismo, nós, mulheres negras, nos somamos a todas as forças que lutam pelo fim do governo Bolsonaro e de todos aqueles que ocupam espaços de poder e compactuam com sua necropolítica.

Erguemos nossas vozes contra o encarceramento em massa, o capacitismo, a lesbofobia, a transfobia, a intolerância religiosa, a xenofobia, o etarismo e em defesa de todas as Mulheres Negras, onde quer que elas estejam. Resgatamos nossa aliança de parentesco com as indígenas e marchamos pela construção de um novo marco civilizatório, no qual todas as mulheres negras possam viver com dignidade, alegria e prazer.

Reafirmamos nossa luta através da arte, na música, na poesia, no teatro, na dança, na moda e no cinema, reafirmando nosso compromisso com nossas artistas negras que foram o norte para toda uma geração e deixaram um legado de beleza e resistência para todas nós.
Somos mulheres negras, indígenas, lésbicas, bissexuais, trans e travestis, quilombolas, ativistas e ciberativistas, jovens, idosas, estudantes, educadoras, donas de casa, militantes, artistas, desempregadas, profissionais liberais, profissionais do sexo, servidoras públicas, comunicadoras, professoras, catadoras de recicláveis, profissionais da saúde, defensoras de direitos humanos, parlamentares, jornalistas, católicas, protestantes, de terreiro, sem religião, mas com fé na força de cada uma de nós.

A nossa diversidade é a nossa força! Somos feitas de luta, coragem, resistência, ousadia e afetos.
Junte-se a nós!
Marcha das Mulheres Negras de SP 2020
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