A dois dias de seu desfile, a Imperatriz Leopoldinense recebeu a visita do cacique Raoni e de outras 16 lideranças indígenas em seu barracão, na Cidade do Samba (Zona Portuária do Rio de Janeiro). A comitiva conheceu os detalhes do desfile da escola, que será a terceira a se apresentar no domingo de Carnaval no Sambódromo.
Estefan Radovicz/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
A verde, branca e ouro, que irá apresentar o enredo “Xingu, o clamor que vem da floresta”, foi envolta em grande polêmica na temporada pré-carnavalesca por conta das críticas do agronegócio ao seu enredo. Em entrevista coletiva, após o tour, o carnavalesco Cahê Rodrigues afirmou que o assunto já está encerrado. “Hoje o assunto é Carnaval e estamos felizes em receber essas lideranças para a grande festa, que começa no domingo”, afirmou Cahê.
Segundo o carnavalesco da Imperatriz, o momento é de fortalecer a mensagem do enredo da escola que, em sua opinião, foi mal interpretada. “Quando escolhemos o enredo, não queríamos só fazer um espetáculo, mas dar voz aos índigenas e mostrar a luta dos povos da floresta. Infelizmente, algumas pessoas se confundiram com nossa verdade e trouxeram uma polêmica desnecessária. Espero que vejam que nunca tivemos a intenção de agredir ninguém e, sim, de enaltecer os povos do Xingu”, explicou.
Os líderes, das etnias Kamaiurá,Yawalapiti, Kaiapó, Kalapalo, desfilarão no último carro da escola. Os indígenas aproveitaram a presença de vários correspondentes internacionais e fizeram discursos inflamados em defesa da Floresta Amazônica. O cacique Raoni foi um dos mais enfáticos: “Estou aqui também por um motivo só: para falar que é preciso dar respeito a cada um dos indígenas. Não aceitamos desmatamento e poluição dos rios nas áreas indígenas. Quero que todos vocês mostrem essa fala para o mundo inteiro, para que todos me ouçam”.
Estefan Radovicz/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Duas mulheres tiveram falas bastante aplaudidas. Sonia Guajajara alertou contra o crescimento do preconceito contra os indígenas e fez um agradecimento à Imperatriz Leopoldinense. “Obrigado à escola por nos dar um elemento a mais para a luta, em um momento em que enfrentamos alianças políticas e econômicas poderosas. O Carnaval pode politizar o debate e fortalecer a luta dos povos indígenas”. Bel Juruna, em nome de onze etnias do Alto Xingu, fez um desabafo contra a ocupação da floresta por mineradoras e criticou a construção da usina de Belo Monte. “Estão matando os nossos rios, desviando seus cursos. Nosso povo está morrendo. E nós só queremos defender a nossa terra”.
A coletiva, como não poderia deixar de ser, terminou em samba, com a apresentação da bateria da escola, com o intérprete Arthur Franco e o casal de mestre-sala e porta-bandeira Thiaguinho Mendonça e Rafaela Theodoro.