Escritora baiana diz viver clima hostil após poema sobre polícia; Movimento de apoio pede fim da censura

“[…] Quando João morreu, assassinado pela PM, Maria guardou todos os sapatos […]”.

Por Jean Mendes Do Aratu Online

Esta frase de um poema da baiana Lívia Natália foi fruto de uma discussão acirrada entre o Governo da Bahia e o grupo de ativismo político e cultural Via Malê. Toda polêmica gerou uma manifestação no centro de Salvador, na Praça da Piedade, nesta segunda-feira (01/02).

manifestação-01

Ao Aratu Online, a poetisa contou que vive em “um clima de hostilidade”, mas nega que esteja recebendo ameaças por parte da Polícia Militar e de pessoas ligadas à corporação. Segundo ela, o texto, publicado em peças publicitárias na cidade de Ilhéus, traz uma reflexão do problema das mortes que têm relação com ações do Estado. “É um clima que estamos acostumados a viver. São números já tipificados pela Anistia Internacional, que já ratificou os números”, destacou Natália, que não foi à manifestação por decisão das pessoas ligadas ao ato e conversou por telefone com a reportagem.

021-1024x768

Para Vera Lopes, integrante do Via Malê, o ato desta tarde quis chamar atenção também para o que ela chama de “genocídio da população negra”. “77% das pessoas que morrem vítimas da violência são jovens negros”, aponta ela. Em relação ao polêmico verso, a ativista explica que a obra foi financiada pela Secretaria de Cultura da Bahia. “Dez poetas foram escolhidos e houve debates. Não foi aleatório. Além disso, o poema de Natália não falava da PM baiana”, esclarece ela.

Os manifestantes são categóricos ao afirmar que a peça sofreu censura. Segundo eles, a mesma foi retirada da rua três dias depois da publicação. Lívia Natália conta que a repercussão foi causada “por pessoas que se mostram lutar pela corporação, mas não lutam por questões, como mais treinamento”. Ela enfatiza alguns nomes para exemplificar a afirmação: Capitão Tadeu e Marco Prisco, militares que se mostraram contra o poema.

aratu-online-manifestação-03

Falta de pagamento da Secult
A professora Ana Maria Gonçalves, também presente na manifestação, quis chamar atenção para “problemas” na Secretaria de Cultura da Bahia (Secult). “Eu ministrei um curso entre outubro e dezembro do ano passado. Eu levei roteiristas e artistas. No final, a Secult disse que não ia pagar”, disparou ela.

A professora diz também que a cúpula da Secult é inexperiente e cita exemplos: Cláudio Palma de Mello, economista “sem nenhuma experiência na área da Cultura, seu Chefe de Gabinete e irmão do sr. Carlos Palma de Mello, Chefe da Casa Civil de Rui Costa”.

Nossa reportagem procurou a Secult para esclarecer a questão. Até a publicação da reportagem ainda não havia resposta da pasta.

+ sobre o tema

O preço de pegar a contramão da história

O Brasil não é um país de iguais. Aqui...

Longa vida aos pesquisadores negros

Seguindo uma tradição que vem desde 1980, lideranças e...

Cerca de 11 mil brasileiros morreram de HIV em 2022; negros são quase o dobro de brancos

Quase 11 mil brasileiros morreram no ano passado tendo...

Longevidade para poucos

A expectativa de vida de brasileiras e brasileiros voltou...

para lembrar

PM tortura jovens ao acabar com baile funk

Policiais Militares, ao acabar com um baile funk no...

A desvalorização da Vida Negra: uma violência simbólica com consequências reais

Os negros são as maiores vítimas da violência no...

Mais um na lista dos incontáveis invisíveis

Por que não escrevi sobre o assassinato de Herinaldo...
spot_imgspot_img

Pacto em torno do Império da Lei

Uma policial militar assiste, absolutamente passiva, a um homem armado (depois identificado como investigador) perseguir e ameaçar um jovem negro na saída de uma...

Enviado ao STJ, caso Marielle passa a ter dois eixos de apuração: executores e mandantes

O caso da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, assassinados em 2018, foi dividido em dois eixos. Uma parte segue no Rio...

Nota pública da Comissão Arns sobre a Operação Escudo no Guarujá (SP)

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns vem a público manifestar a sua profunda preocupação com a...
-+=