“Olha quem morre,
Então veja você quem mata,
Recebe o mérito, a farda”
(Racionais MCs)
Faltavam poucos minutos para a meia-noite. Dois carros com as placas cobertas por plástico se aproximaram da praça Candelária e começaram a atirar contra as crianças e adolescentes que dormiam nas imediações. Oito meninos foram assassinados. As vítimas eram pobres, sem-teto e, em sua maioria, negros.
A Chacina não acabou nesse triste episódio. Sete anos depois, a Polícia Militar do Rio de Janeiro continuou o serviço e matou mais um dos sobreviventes. Sandro Barbosa do Nascimento responsável pelo sequestro do ônibus 174. O rapaz foi preso. Entrou vivo no camburão da polícia, mas saiu morto. Asfixiado.
Pouco se sabe das motivações que levaram à Chacina da madrugada do dia 23 de julho de 1993. De lá pra cá extermínio e criminalização da população pobre, especialmente negra, continuam e com permissão e patrocínio do Estado. A chacina não serviu de lição.
Hoje, dia 24 de julho, fazem 10 dias do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, de 43 anos, na Rocinha, Zona Sul do Rio. Amarildo havia voltado de uma pescaria e limpava os peixes na porta de casa quando foi chamado por policiais militares da UPP da favela para averiguação. Amarildo entrou na sede da UPP Rocinha, mas não saiu.
O desaparecimento do Amarildo não levou o governo estadual chamar reuniões de emergência da cúpula de segurança. O secretário de Segurança Pública, Mariano Beltrame, não foi exonerado. Mas a família do Amarildo está ameaça de morte. O Estado se exime das mortes que comete.
Nem a Chacina da Candelária nem o desaparecimento forçado de Amarildo começaram ou terminaram com essa política destinadas aos pobres e negros que finda na cadeia, no cemitério ou em alguma área empobrecida sitiada por militares.
Exigimos o fim das ações violentas e arbitrárias das polícias nas favelas e periferias.
Pelo fim das chacinas!
Pela desmilitarização da polícia!
Por Paulo Roberto de Oliveira, 11 anos; Anderson de Oliveira Pereira, 13 anos; Marcelo Cândido de Jesus, 14 anos; Valdevino Miguel de Almeida, 14 anos; “Gambazinho”, 17 anos; Leandro Santos da Conceição, 17 anos; Paulo José da Silva, 18 anos; Marcos Antônio Alves da Silva, 19 anos; e por Amarildo de Souza.
Fonte: Global