Passado quase um mês do fato ocorrido, a Sociedade Capixaba ainda não obteve nenhum posicionamento acerca dos atos de violência praticados em nome da “justiça” e que vitimou um jovem de apenas 17 anos após um linchamento. Tal barbaridade ocorrida em território capixaba, repercutiu na imprensa nacional e internacional, mas sequer houve qualquer pronunciamento oficial do Governo do Estado do ES.
Face ao exposto:
REPUDIAMOS todos atos de violência praticados pela população em nome da “Justiça”, como os que ocorreram no domingo 06/04/2014 e que levou ao linchamento público de um Jovem, Negro, acusado de roubo e estupro no bairro vista da Serra, município da Serra-ES. Alailton Ferreira de apenas 17 anos sofria de “epilepsia”, foi brutalmente espancado por populares “enfurecidos” que buscaram fazer “justiça com as próprias mãos” eivados de ódio, preconceitos raciais e sociais, o que culminou na morte de Alailton no dia 08/06/2014, após dois dias dos atos de violência sofridos, nenhuma denúncia foi registrada contra o jovem.
Ao analisarmos a forma que a mídia se coloca, reproduzindo discursos preconceituosos e influenciando à violência e agressões, pode-se considerar que durante muitos anos os cursos de Comunicação foram majoritariamente compostos por brancos, não só pela falta de acesso de negros ao ensino superior, mas por seu caráter deveras elitizado. Isso também ocorre em diversos âmbitos como a literatura, a televisão e outros. A imagem que se tem do negro é estereotipada, com menores índices de relações amorosas, a mulher negra hipersensualizada, o negro revoltado, dentre outras.
A partir desses discursos impostos pelos meios de comunicação que se constrói a imagem do homem e da mulher negra.O caso ocorrido com o jovem Alailton Ferreira é fruto desses discursos que disseminam o rancor e o ódio contra população negra. Ele não foi o primeiro jovem que veio a sofrer esse tipo de agressão, principalmente, ao considerar que nos últimos meses o jornalismo brasileiro, especificamente, o jornalismo do SBT propaga a violência como arma da população, considerada “de bem”. Esse pensamento exposto pela jornalista Raquel Sherazade, além de não ter coerência nenhuma, por não respeitar os direitos humanos, desconsidera o processo histórico brasileiro, que excluiu e exclui o negro de diversas práticas sociais, lembrando que o Estado brasileiro em consonância com as políticas racistas da Europa do século XIX estimulou a imigração europeia na tentativa de clarear a população brasileira. Os anos se passaram, no entanto, práticas de dominação sobre a população negra e pobre ocorrem de diversas formas, apenas mudando os mecanismos sociais.
REPUDIAMOS os meios de comunicação que estimulam a população fazer justiça com as próprias mãos, deve-se lembrar que antes deste epsódio um outro jovem foi amarrado ao poste, no Rio de Janeiro, foi torturado e espancado por 30 pessoas e outros acontecimentos vindo de “justiceiros” também ocorreram em diversas cidades do país. A Mídia, por sua vez, tem um papel fundamental, lembrando que a construção da identidade de uma sociedade se dá a partir de práticas discursivas que permeiam os contextos sociais. Por mais que uma parte da sociedade não assuma e reproduza o discurso preconceituoso, infelizmente grande maioria assume o status quo étnico- social.
Exigimos que todas as medidas sejam tomadas para impedir a reincidência de casos como o que ocorreu com o Alaiton Ferreira, e que vem ocorrendo em todo país, evitando que atos de violência e intolerância sejam torne “Modelo” de atuação de nossa sociedade para garantir “segurança” ou “justiça”, pois tais atos desprezam, ignoram e desrespeitam por sua vez, o devido processo legal, os valores pela vida e os direitos a dignidade da pessoa humana, tão necessários para o pleno exercício da democracia.
Para tanto, rogamos que o Governo do Estado do Espírito Santo, se pronuncie perante a sociedade capixaba e comprometa-se por meio de seus orgãos competentes no sentido de punir conforme prevê a lei e seus instrumentos e procedimentos legais, todos os responsáveis pela prática de tamanha atrocidade que tirou a vida de Alailton Ferreira. E, que o Estado forneça o mais breve possível o suporte psicossocial à seus familiares para que possam suportar a dor e tamanho sofrimento, além de garantir a indenização nas perdas e danos cabíveis.Assinam esta Nota de Repúdio o Coletivo Negrada – organização de estudantes negros/negras, indígenas e cotistas da UFES, a Juventude APNs/ES, o Coletivo Meninas Black Power, a Casa da América Latina – CAL-ES e demais representantes dos movimentos sociais que abaixo subscrevem…17 de Abril de 2014, Vitória, ESSUBSCREVEM:Coletivo Negrada
Fonte: Combate Racismo Ambiental