Doença mata mais de 13 mil homens por ano no Brasil, mas tem alto potencial de cura caso haja diagnóstico precoce. Por isso, exames preventivos são essenciais
Por Augusto Fernandes e Caroline Cintra, no Correio Braziliense
Há seis anos, o músico Josemir Barbosa descobriu que tinha câncer na próstata. O diagnóstico precoce foi primordial para que a doença não evoluísse. Dois anos mais tarde, ele retirou a glândula. Agora, quase cinco anos após a cirurgia, está praticamente curado da enfermidade.
“Eu nunca senti medo, e aconselho que nenhum homem nessa situação tema o câncer. O que mata não é a doença, mas sim, o medo. Medo de um médico, de um exame ou de um remédio. Cada pessoa tem que tratar a si próprio. Se você tem algum receio, precisa superá-lo para seguir em frente. É um exame que não dói. Esta é uma doença séria. Portanto, o quanto antes tratá-la, melhor”, alerta.
Descobrir cedo a presença do câncer é a principal maneira de combatê-lo. O diagnóstico precoce aumenta em 90% as chances de cura. Apesar disso, ainda é difícil confrontar a enfermidade. Hoje, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil, perdendo apenas para o tumor de pele não melanoma.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), a doença foi a que mais cresceu em 2018 entre pessoas do sexo masculino: mais de 68 mil brasileiros devem terminar o ano com o câncer. No Distrito Federal, serão pelo menos 850. Por ano, aproximadamente 13,8 mil homens morrem no Brasil devido à doença. Entre 1980 e 2014, 251.370 perderam as vidas em decorrência de um câncer na próstata. Para urologistas, os números são alarmantes.
“O homem não tem a cultura de ir ao médico. Para exames com urologistas, então, a resistência é ainda mais evidente. Muitos têm um pensamento bastante arcaico e carregam preconceitos e tabus. Entretanto, as técnicas de tratamento e cirurgia são cada vez melhores. Atualmente, temos plenas condições de reverter a maioria dos quadros”, explica o chefe da unidade de urologia do Instituto Hospital de Base e presidente da Sociedade Brasileira de Urologia no DF, Guilherme Coaracy.
Casos como o de Josemir comprovam que lidar com um câncer na próstata não tem de ser uma experiência traumática. A partir de um acompanhamento médico, os efeitos da enfermidade podem ser diminuídos até para pacientes com o tumor em estágio avançado. “Conseguimos dar sobrevida com qualidade de vida a esses homens até que a doença chegue à terminalidade. Já para quem descobre logo no início, podemos evitar que o câncer deixe sequelas mais graves e até mesmo eliminá-lo”, afirma Coaracy.
Anualmente, Josemir vai ao urologista pelo menos uma vez. Desde que retirou a próstata, não apresentou nenhuma alteração nos níveis da enzima que indica a possibilidade de câncer, o antígeno prostático específico (PSA). “Já não sinto mais nada. Se hoje posso dizer isso, é porque nunca deixei de me cuidar. Espero que mais homens quebrem esse preconceito. Você não pode colocar a sua vida em risco com medo do que os outros vão pensar”, garante.
Conscientização
Em 17 de novembro, celebra-se o Dia Mundial de Enfrentamento ao câncer de próstata. Por conta disso, desde 2003 o mês é destinado para a divulgação de campanhas de conscientização contra a doença. Para o urologista Sidney Abreu, o Novembro Azul é fundamental para o combate à enfermidade. “É nessa época do ano que os homens mais procuram atendimento. Nos outros meses do ano, não se fala sobre isso, infelizmente. Mas seria importante que eles buscassem ajuda não apenas em novembro, pois este é um câncer com alto potencial de cura”, diz.
Segundo Sidney, homens a partir de 50 anos devem procurar um profissional especializado. Negros ou homens com parentes de primeiro grau (pai ou irmãos) com câncer de próstata têm que começar a avaliação aos 45 anos, pois são mais propensos a adquirir o tumor. “O câncer só apresenta sintomas mais graves em fases tardias, por isso, é fundamental a questão da prevenção”, reforça.
O pai do servidor público Domingos Pereira, 62, teve o câncer. Só buscou atendimento quando o tumor já estava muito avançado. Apesar de retirar a próstata, nunca se livrou da doença, que lhe deixou sequelas nos ossos das pernas. “Ele morreu poucos anos depois, mas não devido ao câncer. Mesmo assim, ficou muito debilitado. Por conta disso, comecei a ir ao urologista em 2000. Em agosto deste ano, fui diagnosticado com o câncer”, lembra Domingos.
No mês passado, ele foi operado por Sidney e retirou a próstata. A cirurgia, contudo, não elimina o câncer de vez. Domingos continuará sendo acompanhado pelo urologista. “É preciso buscar todos os meios necessários para prolongar a vida, que é a coisa mais importante que temos. O câncer mudou toda a minha rotina, mas não me abalei. Aceitei bem a situação e, hoje, estou muito alegre. Com a convicção de que evitei algo pior para o meu futuro”, celebra.