Thiago Amparo é Advogado, professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste) - Foto: Marcelo Hallit
Identitarismo virou um palavrão. “O identitarismo é um erro. É uma pauta criada por ativistas dos EUA (Cantalice, diretor da Fundação Perseu Abramo, 2022).” “O presidente Lula presta mais um serviço ao país ao rejeitar pressões corporativas e identitárias em nome do mais elevado interesse nacional (Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, 26/9).”
Se deixarmos de lado o uso do termo como xingamento —em geral, para deslegitimar o interlocutor—, o debate pode se tornar mais qualificado. Embora haja muitos conceitos, pode-se dizer que, no mínimo, identidade significaria o agrupamento (e, portanto, diferenciação) a partir de injustiças pessoalmente sentidas (por exemplo, o que uniria duas pessoas negras distintas seria a percepção de que sofreriam de injustiças comparáveis). O trumpismo, calcado no ressentimento de extrema direita, seria um tipo de identitarismo, por exemplo.
Identidade, assim conceituada, é limitante, e a ela não subscrevo. Confundir combate à desigualdade com identitarismo é um erro político e conceitual. É diversionismo enquanto o STF fala em justiça reprodutiva, mas o Congresso ameaça destruir o casamento homoafetivo. Podem queimar o identitarismo (serei o primeiro a acender o fósforo); só não nos queime junto com ele no macabro pacto narcísico que combinou, à revelia, que nosso lugar é de agradecer, não de reivindicar. Eis argumentos anti-identitários por uma ministra negra no STF.
Primeiro, estrutura não é identidade: é fato objetivo de que há disparidade de acesso a instâncias judiciais de poder. Segundo, raça e gênero não minam utopias universalizantes, mas as qualificam: se todos são universais, por que juízes sempre parecem monotonamente iguais? Terceiro, a pauta equalitária é constitutiva da esquerda, não importada; basta olhar para o umbigo da história do próprio PT. Quarto, classe importa tanto que caberia apoiar uma mulher negra, estatisticamente mais próxima dos mais pobres, do que advogados das Americanas.
Estão abertas as inscrições para o curso gratuito de qualificação profissional em assistente de serviços…
O ressentimento tem encontrado terras férteis em ambientes marcados por mobilidade social limitada, disputas por…
Quem ainda não pagou a taxa de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)…
A morte de Bira Presidente, na noite deste sábado (14), aos 88 anos, causou comoção no…
Com a promessa de substituir o débito automático e os boletos, o Pix automático entra…
O cotidiano da preservação do acervo do poeta, dramaturgo, artista plástico e ativista pan-africano Abdias Nascimento poderá…