O comichão machista com as mulheres no poder virou pereba

Por: Fátima Oliveira

Ou foi curuba? Pereba ou curuba, não importa. Ambas são feridas. As palavras, em qualquer idioma, mesmo as dicionarizadas, dependendo da época e do lugar, adquirem significados diferentes e até inusitados.

Aproveitando para agradecer os comentários, airosos e desairosos, à minha última crônica (“A irreverente, descolada e necessária Marcha das Vadias”, 7.6.2011), compartilho que não consigo introjetar que o vocábulo vadia é um xingamento porque nasci e vivi minha meninice onde vadiar significava brincar. Dizíamos: “Ei, vamos vadiar?”. Quando chegávamos à casa de uma colega e ela não estava, a resposta era que saíra para vadiar de boneca, de casinha, de roda, por aí…

No sudestão metropolitano e nas capitais pelo país afora, vadia é xingamento e vadiar é coisa de homem que vive de brisa, logo é vadio – cujo feminino da palavra não é a mesma coisa! Sem falar que a Lei da Vadiagem, herança do Código Criminal do Império (1831) para o Código Criminal Republicano (art. 59 do decreto-lei 3.688, de 1941), “coloca em cana”, principalmente, negros sem carteira assinada: quem não comprova vínculo empregatício é tido como vadio.

Eis dois comentários pertinentes à conversa de hoje. Amanda: “seus comentários apenas justificam que uma Marcha das Vadias seja feita! Qual é o seu problema em relação à roupa de uma mulher?! Agora, uma saia é um convite a um estupro? Porque é disso que trata a marcha, das argumentações ridículas que certos homens utilizam para justificar uma violência injustificável: o estupro!”. Tália Mangabeira: “Assim sendo, ficando os ditos machistas pelos não ditos, vamos todas e todos à Marcha das Vadias! E vamos que vamos porque ela é absolutamente necessária e imprescindível, inclusive e sobretudo para mudar culturas”.

O último comentário serve à matutagem sobre a pergunta das jornalistas de “O Globo” Adriana Vasconcelos e Luiza Damé à ministra Ideli Salvatti: “O Palácio virou o Clube da Luluzinha, e os homens que se cuidem?”. Ao que a ministra jocosamente retrucou: “Os homens não precisam se preocupar, porque nós cuidamos deles. Aliás, se tem alguém bem cuidado é o homem. A gente cuida como mãe, como namorada, como esposa, como filha. Cuidar é conosco mesmo. Precisamos, para o bem do país e o sucesso do governo, que haja harmonia entre homens e mulheres” (12.6.2011).

 

Sobre o Clube da Luluzinha, ouçamos o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) – sim, aquele mesmo que, na campanha presidencial passada, escreveu o memorável “Serra, mulher tem cérebro, você sabia?”: “‘O Globo’, mais uma vez, é de uma infelicidade impressionante naquilo que publica. Fez uma fotomontagem com as três das principais ministras do governo Dilma, com chamada para o fato de que ‘Dilma se cerca de mulheres’ e de um terço de seu ministério ser composto por elas, e faz com o fato a ‘brincadeirinha’ de chamar de Clube da Luluzinha (…).

Ora, se um terço do ministério é composto por mulheres, significa dizer que o que ‘sobra’ é composto por homens, ou seja, o dobro”. Arrematou bem o deputado: “Essa ‘brincadeirinha’ é um desrespeito às mulheres” (Tijolaço).

O governo Dilma conta com 23 ministérios e 37 status de ministros. Somente dez são mulheres, e 23, homens. Há menos de um terço de ministras! Para quem defende a paridade de gênero no primeiro escalão do governo, é aquém como vitrine da expressão da vontade política de empoderamento das mulheres e de vincar um padrão cultural de equidade de gênero, mas merece aplausos. E muitos.

 

 

Fonte: Tá lubrinando

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