O evento foi organizado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap) e a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR). A intolerância ainda é um dos maiores desafios para a construção da coexistência pacífica em várias parte do mundo. O evento trouxe à cena casos de intolerância religiosa no Brasil, onde o Rio de Janeiro, infelizmente, lidera as ocorrências. Só no ano passado, a CCIR calculou 201 casos, entre ataques e ameaças direcionados as religiões de matriz africana.
No Portal RBN
A data do dia 21 – Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, foi criada em homenagem à Mãe Gilda, Iyalorixá que foi vítima de intolerância religiosa no fim de 1999. Também é alusivo ao O Dia Mundial da Religião. Tem o objetivo de promover o respeito, a tolerância e o diálogo entre diversas religiões existentes no mundo, que pregam como princípio a bondade.
“É o momento de nos unirmos em defesa do Estado laico, da democracia e das liberdades”, destacou o Prof. Dr. Babalawo Ivanir dos Santos, que é também interlocutor da CCIR.
Diversas autoridades e lideranças religiosas, marcaram presença, o seminário abriu com Geralda de Miranda – Diretora Executiva do CCJF, poeta Elé Semog, Mãe Fátima Damas – CEUB, Pastor Marcos Amaral – representante da Igreja Presbiteriana de Jacarepaguá, Arnon Velmovitsky, da FIERJ, Padre Omar Raposo – da Arquidiocese do RJ e Jaime Mitropoulos, do MPF. A sacerdotisa do CEUB – Fátimas Damas, pediu que todos dessem as mãos, simbolizando o respeito ao próximo e encantou com uma curimba de umbanda. Em seguida outra mesa formada, debateram Política, Religião e Democracia. Com Christina Vital – Socióloga, Ivo Lesbaupin – Coordenador da ONG ISER, Drª. Wania Santana, atriz Duaia e Rafael Oliveira – Diretor Executivo de KOINONIA.
A mesa, mais concorrida do dia, abordou Religiões no Campos do Direitos. Com Dra. Ivone Caetano, Desembargadora do Tribunal de Justiça do RJ, Julio José Araujo Junior – MPF, Eliane Pereira – Promotora de Justiça, que ganhou mediação da Pastora Lusmarina Garcia. “A baixada fluminense vem sofrendo vilipêndio nas casas de umbanda e candomblé”, fez um alerta José Júlio Jr. – MPF. Antes do fim de roda de conversa na parte da manhã no CCJF, Ivanir dos Santos, autografou o livro “Marchar Não é Caminhar: interfaces políticas e sociais das religiões de matriz africana no Rio de Janeiro”, (Editora Pallas).
O retorno começou depois das 14h com outros temas: como Religiões nos Meios de Comunicação – Com o cineasta Fernando Sousa, Sheik Hossein Khalillo, da Comunidade Muçulmana Xiita, Yango (Mídia Afro). E mesa Intolerâncias no Século XXI: Convicção ou Preconceito? – com Naim Eghrari (Fé Bahá’í), Prof Valéria Lopes, Sacerdotisa Jussara Gabriel, Drª Diane Kuperman e Conceição d’Lissá. “O Discurso de ódio se reproduz e todos os lugares, nas escolas, nas igrejas, isso tem que parar”, alertou Conceição d”Lissa
Depois da conferência, momento cinema, com a exibição do Filme “Nosso Sagrado” (31m). – Produzido pela Quiprocó Filmes, dirigido por Fernando Sousa, Gabriel Barbosa e Jorge da Santana. O filme foi censurado recentemente. Aborda a perseguição e o racismo religioso contra o Candomblé e a Umbanda, religiões criminalizadas durante a Primeira República e a era Vargas.
Seguido com o tema Estado Laico e Liberdades, onde contou com argumentação de Carlos Gustavo – Juiz do I Tribunal do Júri da Capital, Jaime Mitropoulos – (MPF), Glauce Mendes Franco – Defensora Pública e Drº. Jorge da Silva.
O fim da tarde abordou o tema: Tertúlia das Liberdades: Culturas em Movimentos, com Selminha Sorriso (Porta-Bandeira da Escola de Samba Beija-Flor), Haroldo Costa, Machine e Wanderson Luna – Coordenador da Rede Carioca de Roda de Samba. Selminha, já no final da sua fala, ficou emocionada quando pediu uma salva de palmas aos orixás, e em lágrimas, desabafou “Até pouco tempo atrás, era impossível ter um evento dessa natureza em um lugar como esse, esse assunto não era explorado, feliz de está aqui”, claro, foi ovacionada. O fim da mesa contou com apresentação artística com As Ruths, sobre racismo.
A partir das 17h, a concentração foi na Cinelândia – Com o Festival Cultural Inter-Religioso Cantando A Gente Se Entende, que contou com 16 barracas na lateral, diversos tendas, com representantes de movimentos sociais e religiosas, como Wicca, Hare Krishna, Budistas, Xamãs, Igreja Messiânica, entre outras. O festejo contou com Pai Renato e Mãe Miriam, nas apresentações no palco, que abriu com uma Vigília Inter-Religiosa, comandada pelo Koinonia.
A Grande Rio chegou arrasando com ritmistas, segundo casal de mestre sala e porta-bandeira e passistas. Atacaram logo o samba enredo de 2020, cantaram “Águas claras para um rei negro” (1992), “No mundo da lua” (1993) e de 1994: “Os santos que a África não viu”.
“Poder contar com a participação da Grande Rio em um evento organizado no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa foi fundamental para o entendimento de que as narrativas defendidas nos enredos podem romper as fronteiras dos quatro dias de espetáculo. Ao homenagear Joãozinho da Gomeia a agremiação se posiciona frente a um dos debates nacionais mais caros nesse momento, que é o da liberdade religiosa.”, alegou Gabriel Henrique, um dos idealizadores da LUPA Carnaval – grupo de pesquisa que investiga os aspectos artísticos envolvidos na preparação e na realização dos desfiles das escolas de samba.
O palco recebeu o coro masculino Bienias & Prim, , no repertório trouxeram cantos Gregorianos. Logo depois foi a vez da cantora Varda, que ao lado de Haroldo Goldfarb (no teclado), colocaram a platéia para dançar, fizeram até o B&P, que tinha acabado de se apresentar voltarem ao palco. Na hora que começou a cantar “Hava Naguila”, o público logo se aglomerou e fizeram uma grande “hoira”, roda de dança israelense, e em formato de um caracol foram embalados pelo clássico. Darva, cantou ainda “Jerusalém de Ouro”. Em seguida, atuação de Altair Veloso, que leu “Mãe Terra”, trecho da obra Alabê de Jerusalém, ópera em que conta a historia do negro Ogundana que viaja a Jerusalém no tempo de Jesus. Kleber Lucas fechou a noite, ressaltou que “essa noite é uma expressão do sagrado, me sinto lisonjeado em participar”. Pastor na Igreja Soul, contou fatos de sua vida humilde ainda criança, com sucedidos episódios envolvendo grupos evangélicos e religiosos de matriz africana, e mandou ver com a música “Segura na Mão de Deus” e “Deus Cuida de Mim”, entre seus outros sucessos.
“O evento conseguiu agregar uma grande diversidade religiosa, que em sua terceira edição, carrega uma grande responsabilidade pelas liberdades e pluralidades. Acredito que eventos como esse fortalecem nossas lutas e ações em prol da tolerância e contra todas as formas de preconceito”, completou Ivanir dos Santos.