Entrevistado pelo ator Lázaro Ramos, o professor e historiador Leandro Karnal discorreu sobre a corrupção sob uma ótica desprovida de maniqueísmos superficiais
Em recente entrevista concedida ao ator Lázaro Ramos, o historiador Leandro Karnal, professor da Unicamp, fez uma das melhores sínteses acerca da problemática da corrupção no Brasil.
“No momento que vi o seu vídeo sobre a corrupção, quando ele viralizou, falava-se sobre o tema sob um único ponto de vista, um único espectro”, observa Lázaro, ao lembrar que Karnal trouxe definições mais amplas para o debate.
Em seguida, o próprio Karnal voltou a tocar no tema. Leia a íntegra abaixo e a assista ao vídeo:
“Eu gostaria de dizer, porque o público adoraria, Lázaro, que nós somos todos, profundamente honestos. Somos aquilo que os advogados chamam de ‘probos’ — pessoas experimentadas na ética; ao mesmo tempo em que somos governados por ladrões. Essa é uma frase de Carlos Lacerda, durante a crise de 1954: ‘Somos uma nação de trabalhadores honestos governados por ladrões’.
Isso é bom de dizer porque o público adora esse tipo de coisa. Ou seja, nós estamos isentos, o problema está com o mundo lá em cima. Eu insisto, e tenho dito sistematicamente, não existe governo corrupto numa nação ética; e não existe nação corrupta com governo transparente e democrático. Quer dizer, sempre entre governo e nação há um jogo.
Então em nações onde o trânsito funciona como na Suécia, em nações onde pagam os impostos mais corretamente… em geral, nestas nações, o governo é mais transparente.
A corrupção, portanto, é um mal social. Um mal coletivo, e não apenas do governo.
Eu seria muito feliz se todos os problemas [no Brasil] estivessem concentrados em apenas um partido político. Pois bem, este partido não está mais no poder neste momento, e as denúncias de corrupção continuam. Então vamos afastar o outro partido? Você acha que isso nos conduziria ao paraíso? Ou que antes da existência desse partido, dessas pessoas, aqui era terra de gente experimentada na honestidade?
Eu vejo corrupção no trânsito, eu vejo corrupção no dia a dia, e como professor faz 33 anos que eu recebo atestado médico falso de aluno que perdeu prova. Então, é o governo que está em jogo, ou é um comportamento social do qual o governo também faz parte?”
íntegra: