O estado de Alagoas está situado em uma zona morta de mobilização social.

Por: Arísia Barros

 

Meu velho pai morreu no mês da primavera. Exatos oito anos. Foi com ele um sujeito semi- analfabeto que tomei gosto por essa coisa de leitura e letras. Foi com ele que aprendi alguns princípios de ética e cidadania. Meu velho pai me dizia: Não é porque a gente é pobre que vai deixar de ser honesta! Honestidade era condição “sine qua non” para entrar no seleto grupo de amigos que podiam compartilhar do sorriso farto do meu pai.

Meu pai era semi-analfabeto e expressava sua visão de mundo de uma forma tão peculiar e profunda, sem palavras polidas ou meias verdades, que antes mesmo de mergulhar nas letras de livros impressos, embriaguei-me com os conhecimentos, das conversas compridas, contadas pelo mestre funileiro.

Foi um mestre na vida!

Dos conhecimentos herdados, traço o caminho para educação da minha filha.
Nessa nova cartografia do mundo contemporâneo, nos tornamos pessoas cativas dos pensamentos de tendência hegemônica. E, nesse mundo em que a hierarquia do sistema impera, a honestidade deixou de ser virtude para ser um incômodo.Uma opção dos tolos!
Como mães e pais espalhamos, diariamente na cartilha de educação dos nossos filhos e filhas, infinitas migalhazinhas exemplares de valores e posturas, como a germinar a consciência ética e cidadã, para que o grande vazio das corrupções sociais não os façam reféns.
São emendas de conselhos, os elementos do cotidiano familiar: afetos e afetividades que possibilitam a abertura de espaços pessoais repletos de significados para o surgimento de outro universo somático e mais amplo. O universo da coletividade, de perceber os espaços e territórios da dignidade alheia. Não é fácil entender a gênese dessa relação, entretanto baseadas nos sábios conselhos que recebemos da nossa família e que traduzimos em nossos filhos e filhas, não se torna impossível fazê-lo.

Consciência cidadã é fomentar a partir de nossas ações diárias, minuciosas e persistentes um substancial inventário em que a coisa pública seja vista como sinônimo de patrimônio coletivo, para ir mais além do que a proposta de Estado Mínimo.

O estado de Alagoas tem se apresentando de uma forma persistente e imutável como uma sociedade repleta de fragilidades seculares em que a ausência de respeito à coisa pública tem feito homens e mais homens amealharem fortunas consideráveis, enquanto milhares de meninas, com menos de nove anos têm suas vaginas estupradas para pôr comida na mesa das famílias entorpecidas e prisioneiras do pátrio poder que joga migalhas. Um estado em que o analfabetismo criou o mercado das carnes humanas, mães de meninas, em idade do abecedário, as exploram na bolsa da sobrevivência animal. A ausência do conhecimento seqüestra realidades e consciência.

O movimento feminista não se mobiliza por essas meninas, na sua grande maioria pobre, preta e analfabeta, que talvez nem se transformem em mulheres.

O movimento negro não as vê. E a sociedade, em geral, simplesmente as ignora.

Carne negra não tem valor humano no mercado social!

Se o povo não tem pão que coma brioches! Era louca, a rainha, Antonieta?
Nossa loucura atual é bélica. É a loucura da omissão que explode guerras, tsunamis de fome, incongruências e intolerâncias, rebeldias etílicas e as drogas.

As drogas não é a causa em si é o sinônimo conseqüente da indiferença da tutela estatal com os preceitos supremos e constitucionais e da nossa omissão escravizada e secular aos homens, sempre homens, que comandam nossas vidas de frágeis mulheres.
A androcracia interpreta o repertório colonial e escravagista no império político do estado de Alagoas e das suas muitas gentes miseráveis e invisíveis!

Geograficamente, o estado de Alagoas está situado em uma zona morta de mobilização social.

E nós, esse povo honesto cheio de brios e espectador desses eventos esporádicos em nome da paz, realizados pela máquina estatal, estamos agregados pacificamente a este cenário político, como meros coadjuvantes de enredo.

Vae victis! Disse Júlio Cesar, imperador romano, depois de instalado no poder, quando lhe foi solicitado a diminuição dos tributos cobrados.
Ai de nós, os vencidos!

 

 

Fonte: CadaMinuto

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