O feminismo como projeto transformador: as vozes das Margaridas

Nos dias 11 e 12 de agosto, milhares de mulheres manifestaram-se em Brasília na 5ª Marcha das Margaridas – as estimativas oscilam entre 30 mil e cerca de 100 mil mulheres. As marchas anteriores aconteceram em 2000, 2003, 2007 e 2011. Em todas elas, um diagnóstico crítico agudo da posição das mulheres trabalhadoras, em especial das mulheres camponesas, foi apresentado juntamente com uma pauta rica em propostas.

Por Flávia Biroli, do Blog da Boi Tempo

Sua compreensão radical dos limites comuns à democracia e à igualdade de gênero é uma demonstração do grande potencial dos movimentos de mulheres e feministas. “Trata-se de democratizar o Brasil”, dizem, “a partir dos horizontes utópicos do feminismo e da política”.

Nas vozes das Margaridas, que se definem a partir da vivência e luta de mulheres articuladas em suas atividades como trabalhadoras, sindicalistas e líderes de movimentos sociais em diferentes partes do país, direito ao trabalho, direito ao corpo e reestruturação dos âmbitos produtivo e reprodutivo da vida aparecem necessariamente conectados. O horizonte utópico do feminismo que enunciam é o de uma democracia exigente, orientada pelos valores da autonomia e da igualdade.

São vozes de mulheres que expõem o fato de que as desigualdades de gênero são vivenciadas em um modelo de acumulação e de desenvolvimento que restringe a autonomia, a participação, a construção de relações cooperativas e solidárias, deslocando permanentemente valores humanistas em uma lógica em que prevalece a mercantilização.

Por isso, tematizam os direitos básicos das mulheres como antagônicos ao agronegócio; defendem direito ao trabalho em uma pauta que destaca a necessidade do combate ao uso de agrotóxicos, à privatização dos recursos hídricos e à mercantilização da saúde; expõem as conexões entre violência contra a mulher, restrições a sua autonomia econômica e divisão sexual do trabalho e exigem educação, respeito à diversidade sexual e paridade na participação política.

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