O gol de Patrick Vieira contra o racismo

Contra o racismo e sem a estética do gesto de Daniel Alves, Patrick Vieira fez o gol que Pelé nunca quis fazer

Marcos Sacramento

Patrick Vieira, técnico do time de futebol sub-21 do Manchester City, tomou a atitude mais adequada diante de uma atitude racista. Ao saber que o meio-campista Seko Fofana sofrera um insulto durante a partida amistosa contra o HNK Rijeka, na Croácia, Vieira ordenou que o City abandonasse o jogo ainda no final do primeiro tempo.

A ação de Vieira não teve a estética do gesto de Daniel Alves, do Barcelona, que em um jogo do campeonato espanhol comeu uma banana arremessada por um torcedor rival. Porém ganha em contundência e efetividade, dando um recado direto: “vai nos xingar? Então não vamos jogar, simples assim”.

Por mais grotescos que os torcedores racistas sejam, eles vão aos estádios para ver futebol. Brigam, agridem, enchem a cara, mas querem ver gol e jogadas de efeito. Uma reação espirituosa como a de Daniel Alves pode deixá-los sem graça, mas minutos depois a bola estará rolando, os hoolligans torcendo, xingando e quem sabe comemorando a vitória.

Uma atitude como a de Vieira, por outro lado é uma ducha gelada na torcida. Pior que apagão nos refletores, gol contra ou pênalti chutado pra fora. Ainda mais quando a torcida de um time inexpressivo enfrenta uma equipe badalada como a do City.

Patrick Vieira, campeão da Copa do Mundo de 1998 pela França, sabe na pele o que é sofrer racismo dentro de campo. Em 2000, quando defendia o Arsenal, sofreu abuso do jogador servo-croata Sinisa Mihajlovic em uma partida contra a Lazio.

Talvez isso justifique a postura incisiva diante da agressão a Fofana. Ainda mais sabendo do histórico recente de injúrias contra jogadores do City: no ano passado o meio-campista Yaya Touré sofreu ofensas de torcedores do CSKA da Rússia. Em 2012, o atacante Balotelli foi ofendido por torcedores do Porto, de Portugal.

Se por um lado a Fifa não sinalizou nenhuma ação mais contundente contra o racismo dentro dos campos de futebol, Vieira, mediano quando jogador, foi craque de fina estirpe ao mandar o time sair de campo na Croácia.

Marcou um gol contra o racismo que Pelé nunca fez, e pelo visto não está interessado em fazer. E com a vantagem adicional de que seu ato não tem potencial mercadológico para criar memes de mal gosto ou vender camisas, como a bananada do Daniel Alves.

Fonte: Pragmatismo Politico 

+ sobre o tema

Ministério Público vai investigar atos de racismo em escola do DF

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz...

Nath Finanças entra para lista dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo

A empresária e influencer Nathalia Rodrigues de Oliveira, a...

Ministério da Igualdade Racial lidera ações do governo brasileiro no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU

Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, está na 3a sessão do...

para lembrar

Ator é vítima de racismo durante espetáculo:’Isso não pode ficar impune’

Uma espectadora interrompeu a peça e deu uma banana No...

Racismo filho do fascismo

A luta para acabar com as repetidas manifestações de...

Minas registra um novo caso de racismo a cada 22 horas e 16 minutos

Expressivo, número de crimes raciais levados aos tribunais está...

Estudantes do Congo acusam Brigada Militar de racismo no Rio Grande do Sul

Africanos acusam BM de racismo e constrangimento por Jessica...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=