O homem negro gay

O corpo negro é constantemente objetificado e personagem do imaginário como o viril, o forte, o másculo; prova disso é uma busca rápida pelo mundo virtual com as palavras gays + negros

por Djamila Ribeiro no Carta Capital

Foto: Gabo Morales/TRËMA

Geralmente, o homem negro gay acaba sendo silenciado tanto pelo movimento negro como LGBT. Como nos ensina Audre Lorde, a questão negra também deveria ser LGBT já que existem pessoas negras que o são, da mesma forma que a causa LGBT deveria ser negra. Fábio Mariano, professor de sociologia da PUC, nos dá uma perspectiva interessante sobre a situação do homem negro gay.

O homem negro gay

No início do século XX, ao patologizar a homossexualidade, o discurso médico dizia que a única permissão que deveria se dar a indivíduos homossexuais era a do ocultamento. A ferocidade verbal que distinguia sujeitos de direitos, entre normais e anormais, marcou profundamente as formas de relacionamento dentro do próprio movimento LGBTI.

Ao se permitir o ocultamento, pode-se também aprofundar as mazelas históricas no que dizia respeito à falta de registro de como mulheres lésbicas foram levadas à margem desde a antiguidade, exceção feita à poeta Safo. Raros são os casos em que nos deparamos com registros sobre esse tema.

Homens gays foram chamados de sodomitas, bestas, anormais e invertidos durante toda a História em que se fala sobre a homofobia. Mulheres sequer foram nominadas. Negros eram propriedades. Deduz-se que todos esses qualificativos se referiam a homens brancos de padrões ocidentais. Portanto, faltam traços que possam também destacar de que forma outros sujeitos foram sendo levados da ocultação à invisibilidade. É o caso de homens negros gays.

Se o pluralismo é próprio da vida em sociedade, é preciso trazer à tona temas centrais que compõem essas várias ideias: a existência de homens e mulheres gays, negros e pobres. Escamotear isso é negar a diversidade (que muitas vezes oculta e invisibiliza) e asseverar a política da homogeneização ou padronização dos corpos e sujeitos.

O corpo negro é constantemente objetificado e personagem do imaginário como o viril, o forte, o másculo; prova disso é uma busca rápida pelo mundo virtual com as palavras gays + negros. Saindo do campo do fetiche, o que cabe é o ocultamento e a constante adjetivação com a justificativa “…não tenho nada contra, mas…”. Combater a homofobia é também combater o racismo e o sexismo, são lutas indissociáveis. Ser negro impõe barreira, ser negro e homo ou transexual é o fim. É uma sentença!

+ sobre o tema

A culpabilização da vítima: somos todas Fran

Recebemos uma mensagem de Débora Araújo relatando que um...

“Ouvir Bolsonaro é de uma agonia sem fim”, critica Ellen Page

No painel dentro do festival de cinema e música...

Peço desculpas ao meu corpo

Hoje eu queria sinceramente pedir perdão ao meu corpo,...

para lembrar

Comissária de bordo salva jovem vítima de tráfico humano em voo nos EUA

Com um bilhete no banheiro do avião, a comissária...

Diretora de ‘Uma Dobra no Tempo’: ‘Meninas podem salvar o mundo’

Ava DuVernay, primeira mulher negra a dirigir uma produção...

“Queremos representatividade para além do comercial de xampu”

A blogueira Rosangela J. Silva é nossa primeira entrevistada...
spot_imgspot_img

Mãe Meninazinha de Oxum dará aula magna em projeto de pesquisa na Unirio

A carioca Maria do Nascimento, Mãe Meninazinha de Oxum, 87 anos, iyalorixá do Ilê Omolu Oxum, dará a aula magna segunda-feira, 31 de março,...

Salas Lilás vão atender mulheres vítimas de violência no interior

O governo federal lançou nesta terça-feira (25) uma política nacional para padronizar, criar e expandir as chamadas Salas Lilás, de atendimento e promoção dos direitos das...

Sueli Carneiro analisa as raízes do racismo estrutural em aula aberta na FEA-USP

Na tarde da última quarta-feira (18), a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) foi palco de uma...
-+=