O “Humor” Brasileiro é uma Tragédia Racial

Para quem ainda não entendeu Black Face é racismo, uma prática antiga do teatro e que é basicamente feita por pessoas brancas que, no auge dos seus privilégios, zombam o negro quando fazem uma caricatura estereotipada de nós, ou melhor dizendo, do que imaginam ser o negro, reforçando nossas características físicas que se sobressaem aos olhos racistas, com intuito de zombar, fazer piada e provocar risos.

por Stephanie Ribeiro no Imprensa Feminista

Geralmente, as pessoas se pintam de preto, usam perucas de cabelo crespos e até podem desenhar bocas com grandes lábios.

No Brasil práticas como essa são corriqueiras na televisão brasileira, numa sociedade racista que fingi que não é, o negro é constantemente humilhado com a finalidade de causar risos e humoristas que fazem isso saem ilesos ou até se colocam num papel de vítimas perseguidos pela “censura” dos ativistas.

O mais recente caso é da personagem “Africano” do famigerado Pânico na Band (aquele programa amado por jovens brancos de classe média desocupados).

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Aparentemente essa personagem não irá mais ao ar depois das manifestações do público, além de ser black face era xenofobia pura, e fico tentando entender se esses humoristas brancos e privilégiados que estudaram em bons colégios como Eduardo Sterblitch que faz o “Africano” não sabem que a África é um continente com 54 países com culturas diferentes, com pessoas diferentes, e que essas pessoas são gente como ele e sendo assim não são essa caricatura humilhante que não fala nada só balbucia e se comporta de forma animalesca.

Pior é que como eu disse o riso aqui é muito associado a atos racistas, vejam o exemplos a seguir:

1-  Adelaíde – Zorra Total 

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Adelaíde era  feita pelo ator Rodrigo Sant’anna, basicamente uma mulher negra, para se caracterizar ele pintava a sua pele de marrom e usava um falso nariz, desdentada, pedinte, descabelada e que constantemente humilhava a própria filha, que também era uma personagem feita com blackf ace, inclusive dizendo que o cabelo dela era como “palha de aço”.  O único intuito desse quadro era humilhar as mulheres negras brasileiras, que inclusive são maioria do país e são minoria nas representações midiáticas positivas. Se existe um cenário onde negros são maioria pobre isso é culpa de uma passado colonizador, onde o negro era escravizado. Qual  então é o humor por trás de negros em situação de pobreza, no nosso contexto social-racial? Qual?

Adelaíde foi para mim o máximo da humilhação a mulher negra em forma de personagem, o que me assusta é que não só a Rede Globo negava isso, como o próprio ator que é negro, justificava dizendo que se baseou numa mulher real e isso era uma “homenagem”. Essa desculpinha é comum quando esses “humoristas” são confrontados pelos seus atos racistas.

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2- Valéria – Zorra Total 

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Então coloquei as duas em seguida, pois ambas são representadas por Sant’anna que como eu disse é um homem negro, que parece “odiar” negros, principalmente mulheres negras.

A personagem dona do bordão “Ai como estou bandida!” é mais uma mulher negra esteriotipada, usando roupas exageradas, cabelo crespo despenteado, falando com erros gramaticais, mais uma personagem que o ator recorria da ridicularização de mulheres negras para causar o riso. Inclusive ela zoava termos da umbanda e tinha falas racistas como chamar a amiga de mistura de macacos.

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Queria entender qual o problema desse senhor com mulheres negras e qual a graça que ele tentou fazer, mas não conseguiu, pois ambas era apenas lamentáveis e não causavam riso, só colaboravam para perseguição que mulheres negras sofrem desde a infância.

Rodrigo o que fizemos para você? 

3-  Cida – Novela Alto Astral 

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A novela já acabou, mas Cida foi uma personagem do núcleo de humor da novela feita pela então humorista e atriz Monica Iozzi que era no roteiro basicamente era uma moça rica e loira a Scarlett, que precisava se passar por pobre para conseguir sua herança, então a saída foi fazer a Scarlett usar uma peruca “crespa” e deixar segundo os outros personagens a moça “feia”, e assim nasceu a Cida.

Monica como Scarlett – rica, loira e com olhos azuis:

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Monica na mesma novela como Cida a pobre:

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Associar caracteristicas negras como o cabelo crespo a uma estética feia e a probreza… tan tan tan é… RACISMO. Mas na novela era uma “piada”…

4- Danilo Gentili  ou aquele “humorista” que disse falou para um negro ir comer banana

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E outras coisas como essas:

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Não é uma pessoa que sabe lidar bem com questões raciais, então contratar uma funcionária negra para o seu programa “The Noite com Danilo Gentili” no SBT é basicamente uma tentaiva de: “não sou racista tenho até um amigo negro“,  entretanto a natureza racista do humorista faz ele expor essa moça a  humilhação, inclusive falando de seu cabelo crespo ou usando ela numa montagem cheia de outros personagens com blackface.

Nesse vídeo ele “brinca” com a forma que ela corta o cabelo e fala de seus pelos pubianos:

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Aqui novamente ela é colocada numa posição vexatória e o programa apela para o uso do black face:

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5- Ivonete, 220 Volts

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Paulo Gustavo é o humorista e ator por trás do filme “Minha Mãe é uma Peça” que é machista, gordofobico e problemático, mas não feliz com esse desfavor para humanidade ele resolveu criar essa personagem – Ivonete. Ela samba, mora no morro e ele a faz usando black face, peruca crespa e enchimento para criar um “bundão”. Só mais uma representação zombando a mulher negra…  nada engraçada e que ainda fala mal das religiões de matrizes africanas.

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6- Clonerson, Pânico na Band

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Parece que o Pânico adora um racismo e não fez black face só no caso do “Africano”, essa personagem é uma cópia e “homenagem” para o  lutador Anderson Silva feita pelo humorista Ceará – famoso pelo papel de Sílvio Santos.

Fiquei pensando por qual motivo não usaram um humorista negro nesse papel, ai lembrei que eles não tem nenhum negro em seu elenco, veja:

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Parece que o Pânico gosta de humilhar negros, mas contratar que é bom não.

Fica evidente que no Brasil “Humor” com o oprimido é perpetuação de opressão, e Humor com o opressor ninguém faz, afinal requer inteligência, capacidade que ‘humoristas” nacionais não possuem. 

E num país onde o racista é o outro aposto que a desculpa sempre será essa:

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Ninguém é racista, mas na hora rir o motivo é sempre nós.

Era para ser engraçado, mas é uma tragédia cheia de humoristas que odeiam negros.  

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