O machismo na Academia Brasileira de Letras

A escritora Ana Maria Machado coordenará, no mês que vem, um ciclo de palestras na ABL sob o título geral de “Cadeira 41” (a casa, como se sabe, tem 40 acadêmicos), que mexe com as entranhas da Casa de Machado de Assis. Em pauta, o caso de alguns grandes escritores que ficaram de fora e não foram “imortais”. Isso porque não se elegeram — é o caso do próprio Lima Barreto (1881-1922), que tentou duas vezes — ou porque não quiseram concorrer, como o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

Por DANIEL BRUNET, do O Globo

Um exemplo polêmico é o da carioca Júlia Valentina da Silveira Lopes de Almeida (1862-1934), na foto abaixo. Ela escreveu em jornais (numa época em que não se via mulher no ofício) e, em 1887, lançou o livro “Contos infantis”. Ao todo, escreveu uns 10 romances. Casada com poeta português Filinto de Almeida (1857-1945), cofundador da ABL, Júlia ajudou a criar a Academia. Mas foi barrada.

— Ela acabou sendo preterida por ser mulher. O marido dela, um poeta medíocre, virou acadêmico. É um caso bastante exemplar do machismo que existe no Brasil — destaca o escritor Luiz Ruffato, que vai falar da história de Júlia Lopes de Almeida, dia 4, no Cadeira 41.

Ruffato acrescenta que o machismo que impediu Júlia de entrar para a ABL — aliás, uma mulher só foi aceita por lá em 1977, 80 anos depois de sua criação, com a entrada de Rachel de Queiroz — foi o mesmo que “apagou o nome dela da história da literatura brasileira”.

— Tirando o Machado de Assis, só há dois nomes que se equiparam a ela no século XIX: Lima Barreto e Aluísio de Azevedo — garante.

Aliás, hoje, além de Ana Maria Machado, a Academia tem outras quatro mulheres: Cleonice Berardinelli, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon e Rosiska Darcy de Oliveira.

Júlia Lopes de Almeida | Reprodução

+ sobre o tema

Inscrições para o ProUni terminam hoje

Terminam hoje (19), exatamente às 23h59, as inscrições para...

Celso de Mello critica obscurantismo e defende direitos LGBT

Julgamento da ação protocolada pelo PPS para criminalizar a...

Todo mundo é boa mãe até ter filhos

Cena clássica de shopping: você está andando com as...

Universidade de Oxford reconhece ‘Enem’ indiano em processo seletivo

Vagas serão oferecidas a estudantes que obtiverem pelo menos...

para lembrar

Filhos recebem estímulo em casa para estudar mais

Quando pisou pela primeira vez na universidade, nem ela...

Mostra em SP exibe filmes dirigidos por mulheres e promove debates

“Mulheres e cinema” é o tema do terceiro encontro...

44 frases (e fragmentos de poesias) sobre o amor. Por Camila Nogueira

Este artigo é o primeiro de uma série. Nela,...

Prouni – Ex-faxineiro conta os dias para concluir curso de medicina em MS

Leandro Assunção, 26 anos, diz que sonha desde a...
spot_imgspot_img

Geledés participa de audiência sobre Educação das meninas e mulheres negras na Câmara dos Deputados

Geledés – Instituto da Mulher Negra participou, nesta quinta-feira 21, de audiência da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, em Brasília, da qual...

Unilab, universidade pública mais preta do Brasil, pede ajuda e atenção

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) surgiu com a proposta de fazer a integração de alunos de países africanos de língua...

Machismo e patriarcado afetam não só as mulheres, mas também os homens e a crianças

O Projeto de Lei (PL) nº 1974/2021, de autoria da Deputada Sâmia Bomfim (PSOL/SP) e do Deputado Glauber Braga (PSOL/RJ), cuja tramitação pode ser...
-+=