O novo livro de Lázaro Ramos e a essência de compartilhar histórias

Lázaro, em sua trajetória, vive essa essência de partilhar momentos, de estar aberto ao pulso dos convívios.

Foto: Marcelo Ferreira

Por Priscila Fonseca Do Huffpost Brasil

Ontem foi um dia completamente atípico. Todas as quintas venho mais cedo para o trabalho para aproveitar a carona da vizinha. Hoje, no caminho, combinei com uma amiga, por mensagem, que ela comprasse o livro Na Minha Pele, do Lázaro Ramos, bem como garantir nossa entrada para a sessão de autógrafos que aconteceria a noite.

Chegamos no trabalho e lá entrei no grupo da meditação. A inspiração da condutora para a sessão foi o livro Felicidade – A Prática do Bem Estar, de Matthieu Ricard. Não lembro exatamente dos termos do texto, mas a essência da sessão era lembrar que as pessoas mais felizes são aquelas que compartilham com os outros, sejam coisas, tempo, atenção.

Fiquei tocada com aquele trecho o dia todo. No fim da tarde tivemos uma queda de energia, e logo era hora de ir correndo pro lançamento do livro e sessão de autógrafos com Lázaro. Quando cheguei, por volta das 19h15, entrei na livraria e percebi que muitas iam embora logo depois de comprar o livro. Sem a senha para a fila do autógrafo, fui andando pela livraria para encontrar minha amiga. Quando cheguei na fila vi que era quilométrica, mesmo que quem estivesse nela estivesse formando grupinhos de conversa. Estas pessoas eram pessoas negras em sua maioria. E sobravam risadas, encontros, e abraços.

Encontrei minha amiga, peguei o livro e a senha, e pensei que a saga seria longa, mas já que estávamos ali, foco na missão. O clima era de emoção: tinha homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, em grande maioria negros, todos na expectativa de encontrar o autor.

De tempos em tempos passava pela fila uma mulher de pele branca, cabelo cacheado, vestido preto, perguntando: “todos vocês têm a fita, só vai entrar quem tiver a fita no braço”. A gente afirmava, e ela ia embora.

Durante toda a primeira hora na fila nós não saímos do lugar. Estávamos para fora do Conjunto Nacional (prédio em são Paulo), e a fila dobrava a esquina. E a gente? Firme e forte esperando para passar para o outro lado da garagem que dividia os membros da fila entre “dentro” e “fora” do lugar destino.

Lá pelas 22h houve uma movimentação rápida, e todos fomos encaminhados para dentro da livraria, que encerrara expediente. Mas, como prometido, todos seriam atendidos pelo autor.

Trinta minutos depois comecei a avistar Lázaro, e a esperança de encontrá-lo foi renovada. Não só porque eu o via, mas por que observava a atenção, a escuta e o cuidado que ele dedicava a cada uma das pessoas. Foi então que entendi o motivo da demora.

O homem olhava para as pessoas, dava risada, reconhecia, abraçava forte, ajoelhava para conversar com as crianças. E as pessoas transbordavam alegria, levaram presentes, cartinhas… Ali entendi que ele tinha consciência da potência daquele momento. Ele valorizava o trajeto das pessoas, sabia que muitos tinham saído do trabalho para ter aquele minuto com ele.

Quando já estávamos quase chegando, ele passou correndo pelo corredor. Precisava ir ao banheiro. Cinco minutos depois, voltou apressado e continuou a dar toda a atenção e respeito a cada um que ali chegava.

Quando foi se aproximando a minha vez, por volta das 23h (quatro horas depois da chegada!), aquela disparada no coração básica. A moça da equipe pegou minha bolsa, que era para eu ficar bem na foto, olhou meu nome no papel que eu segurava e disse: “pode ir Priscila”.

Eu fui. Abracei, conversei, e agradeci. Agradeci por ele permanecer presente. Disse a ele que estava feliz, que valeu a espera na fila. Ele agradeceu, sorriu, me ouviu… e já era a vez da próxima da fila.

Volto para o livro Felicidade, e percebo que Lázaro, em sua trajetória, vive essa essência de partilhar momentos, de estar aberto ao pulso dos convívios, de se olhar e permitir ser espalho e que possivelmente é por isso que as pessoas ficaram todo esse tempo, mesmo cansadas, com crianças, com fome, para celebrar e se reconhecer.essa essência de partilhar

Ali vivi a essência do Ubuntu.

Vida longa ao Lázaro e que nossa pele viva mais momentos de partilha, sorrisos e tranquilidade como este.

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