- A ausência de representatividade política resulta em retrocesso
- Para a efetividade da soberania popular, é imprescindível a atenção à pluralidade das demandas de todos os segmentos sociais
Num país de miseráveis, o fato de o Congresso Nacional ter retirado da pauta de votação a Medida Provisória (MP) prevendo aumento de impostos para bilionários, bancos e bets diz muito sobre a importância da representatividade política.
Representatividade é uma espécie de poder que se atribui a alguém para que reconheça e defenda as necessidades de um determinado grupo. Politicamente falando, trata-se da delegação para expressar os interesses de um segmento social por meio de um porta-voz eleito democraticamente.
Mais de um terço (35,3%) dos trabalhadores brasileiros recebem até um salário mínimo e só 7,6% das pessoas ocupadas possuem rendimentos superiores a cinco mínimos. Consideradas as diferenças de gênero, cor e raça, os maiores rendimentos estão concentrados nas mãos de homens brancos (dados do Censo 2022/IBGE).

Embora a representatividade política tenha aumentado no Brasil nos últimos anos, ainda estamos muito distantes de alcançar um patamar que traduza o perfil da nossa sociedade. No Congresso Nacional, mulheres e negros —grupos majoritários na nossa população— são minoria nos cargos eletivos. Indígenas, pessoas com deficiência e LGBTQIAPN+ sequer enchem duas mãos. Como se sabe, a esmagadora maioria (80%) dos parlamentares é de homens, dos quais 70% autodeclarados brancos.
Para a efetividade da soberania popular —ou seja, o exercício real do poder “em nome do povo”—, é imprescindível a atenção à pluralidade das demandas de TODOS os segmentos sociais. A proposição e criação de leis e políticas públicas capazes de atender aos reais interesses e necessidades da população como um todo dependem diretamente da representatividade política. Parece óbvio, mas o óbvio também precisa ser dito. A ausência de representatividade política resulta em retrocesso.
Até quando os brasileiros que dependem do trabalho para sobreviver irão pagar mais imposto do que quem vive de lucros e dividendos no país?
Ana Cristina Rosa – Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)