O Racismo não antige os Brancos da Periferia

Sou considerado branco e moro em uma periferia de Salvador, o bairro do IAPI. Leciono em uma escola pública em Brotas e volto pra casa de moto à noite. Passo por pelo menos duas blitzen por noite. Ao ver a barreira policial, abaixo o farol e vejo se o policial me manda parar ou seguir. Quase sempre sou liberado. E quase sempre vejo que há negros sendo revistados, muitas vezes com violência.

Por Bruno D’Almeida Do Revista Black life Brasil

Uma vez havia uma blitz na entrada da Santa Mônica, fui parado. Na minha frente, um policial pisava seu coturno na cabeça de um jovem negro. Revistaram os documentos, viram que não havia nada e liberaram o rapaz. Em seguida, olharam para mim e me liberaram também. Naquele momento tive a certeza que tive tratamento diferenciado por ser branco. Lógico que passo pelos mesmos problemas da periferia que todo morador sofre, mas quem tem mais chance de morrer não são pessoas com a mesma cor da pele que eu tenho.

Por isso discordo quando as pessoas dizem que a questão do racismo é apenas uma questão social porque a maioria dos negros são pobres. Não é apenas luta de classe, trata-se de uma perseguição sistemática contra os negros além das questões de classe. Moro nas quebradas e repito incisivamente: tenho tratamento diferenciado por ser branco. Isso é inaceitável, revoltante e precisa acabar.

O pior são os índices de assassinato. São cerca de 30 homicídios por semana em Salvador e quase todas as vítimas são negras. Isso mostra que o racismo se torna genocídio do povo negro. Os brancos, por terem tratamento diferenciado mesmo quando são pobres, não sentem o racismo na pele.

Abra o olho, camarada.

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