O racismo no Brasil

 

A declaração da escritora Moçambicana, Paulina Chiziane, proferida no Seminário “A Literatura Africana Comtemporânea” que ocorreu na 1ª Bienal do Livro e da Literatura em Brasília, expõe a visão que a comunidade internacional tem do Brasil.

Disse a escritora: “Temos medo do Brasil”. “Para nós Moçambicanos, a imagem do Brasil é a de um país branco ou no máximo mestiço. O único negro bem-sucedido que reconhecemos como tal é o Pelé. Nas telenovelas que são as responsáveis por definir a imagem que temos do Brasil, só vemos negros como carregadores ou como empregados domésticos. No topo (da representação social) estão os brancos. Esta é a mensagem que o Brasil está vendendo ao mundo”. Criticou a autora, informando que essas representações estão contribuindo para perpetuar as desigualdades raciais e sociais também em seu país.

A dimensão dos danos do racismo ainda não teve a devida atenção dos estudiosos. As discussões sempre giram em torno dos danos sociais e econômicos, que não são poucos; no entanto, danos psíquicos geralmente sequer são cogitados. O que é o medo? O que essas representações sociais provocam nas pessoas negras? São algumas perguntas que são passíveis de formular.

Segundo o dicionário da língua portuguesa o medo é um estado de alerta; é um estado emocional resultante da consciência de perigo ou de ameaça, real, hipotético ou imaginário. Esse medo expresso pela Escritora Moçambicana é um medo que também permeia a raça negra no Brasil.

Nesse aspecto, os negros vivem em um ambiente notadamente hostil que negam a sua cor, a sua presença, a sua estética, pois a imagem social do negro está ainda impregnada em grande medida de estereótipos raciais, impactando na sua auto-imagem e na sua visão de mundo.

Assim, a mídia é a principal responsável pela reprodução desses estereótipos e de padrões estéticos que valorizam principalmente características contrárias as fenotípicas dos negros, contribuindo para a perpetuação da visão do homem branco europeu como superior ao negro, as mulheres e minorias. Apesar das mudanças sociais deslegitimarem as práticas racistas, o racismo, enquanto ideologia, continua presente no imaginário social do brasileiro. Assim, se adéqua a mudanças históricas e sociais ratificando a sua capacidade de se adaptar e manter-se como ideologia dominante.

Assunto polêmico numa sociedade ainda imbuída do mito da democracia racial a discussão sobre o tema desperta defesas apaixonadas por brancos e negros. No entanto, e é fato, essas representações sociais são aspectos importantes na construção da identidade negra. A escolha de um padrão de beleza excludente influencia no desenvolvimento social, psíquico e emocional dessa população.

Nesse sentido, fica a importância da estética como experiência existencial, possível de abarcar a diversidade humana reconhecendo e valorizando todos os fenótipos; com a finalidade de propiciar ao Brasil a construção de uma sociedade plenamente democrática.

por Márcia Maria da Silva – Servidora Pública e Psicológa para O MIRACULOSO

 

 

 

Fonte: Miraculoso

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