O saber, a sabedoria, o sábio e o sabido são palavras que encerram significados técnicos, políticos e filosóficos. Coisas para quem gosta de pensar, de buscar as raízes dos vocábulos.
Por Fatima Oliveira Enviado para o Portal Geledés
“Saber”, do latim “sapere”, é “ter gosto; exalar um cheiro, um odor; (fig)., ter inteligência, juízo; conhecer, compreender, saber”; “sabedoria”, do grego “sofia”, é o que detém o “sábio” (do grego “sofós”; em latim: “sapidus”), que tem um sabor/saber, que sabe muito, erudito. No sentido figurado, é quem age com sensatez ou prudência. “Sabido” é o mesmo que “sábio”, mas se popularizou no Brasil como “finório”, “embusteiro”, “passador de perna”.
Para Aristóteles, que afirmou que “a dúvida é o princípio da sabedoria”, o saber comporta três áreas: técnica, prática e científica. O saber é um produto “do acúmulo de conhecimentos e estudos que se faz. E a sabedoria é um dom que nos permite discernir qual o melhor caminho/atitude a seguir e/ou adotar nos diferentes contextos da vida” (blog Muito Além das Palavras e Sentidos).
Quando, em 1964, fui estudar em Colinas (MA), no quarto ano primário, o último ano de estudo que havia em Graça Aranha (MA), na véspera da viagem o meu avô Braulino fez uma preleção mais ou menos assim: “‘Tô’ te tirando do bem-bom de tua casa pra te dar saber, que é a herança que um pobre pode deixar para uma filha ou um filho. Abra o olho, ‘tá’ indo para estudar! ‘Tô’ te dando o que não tive: saber, que vai ser teu a vida toda e ninguém vai tomar. Quero te ver uma mulher sabida pra nunca ter de aguentar esturro de homem”.
Palavras fortes que ainda ressoam em meu juízo e causam-me uma emoção caliente, pois eu era uma menina de apenas 11 anos de idade! Na festa de minha formatura em medicina, o pai velho estava lá, nos trinques e com os olhos lacrimejando. Depois da valsa, ele, que só falava alto, disse-me baixinho: “Já posso morrer ‘prumodiquê’ com o saber que te dei tu nunca vai saber o que é passar necessidade na vida!”.
Nas duas falas, presente a sabedoria de um sertanejo analfabeto, que trabalhou a vida inteira “pegando no pesado” de sol a sol, de que o saber, em seu aspecto instrução/escolaridade, é instrumento que permite ascensão social e é garantia ímpar de enfrentar as vicissitudes da vida com uma luz que alumia.
Meu avô Braulino era um sábio que dizia frequentemente: “Doutor não se faz a facão! Me pergunte, que eu sei!”. E sabia, do princípio, do meio e do fim. Quando colocou mamãe, filha única, na escola – “ela estudou tudo o que tinha por aqui nessas brenhas” (até o quarto ano primário), ouviu repreensão de seu irmão Vicente Bodô: “Mulher não precisa de estudo!”. São histórias que nos fazem refletir sobre os aspectos técnicos, políticos e filosóficos das palavras “saber”, “sabedoria”, “sábio” e “sabido”, assim como das questões políticas que inferem no acesso ao saber.
Logo, soou como música a meus ouvidos o que verbalizou o secretário de Estado de Educação do Maranhão, Felipe Camarão, em celebração do Dia da Escola (15 de março): “O Maranhão do futuro está na escola, por isso o governo está trabalhando para assegurar as condições necessárias que tornem a escola um espaço digno e de qualidade social”, no que foi corroborado pelo governador Flávio Dino, um sábio que tem o dom da sabedoria, em “Governando para quem mais precisa” (20.3.2016), ao enumerar as políticas que democratizam o saber: a primeira rede estadual de ensino profissionalizante, o Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão e o Programa Escola Digna, que legarão a herança do saber para a descendência do povo.