O único secretário negro que compõe o governo de Alagoas é interino

A biografia do estado de Alagoas se confunde com a história da República dos Quilombos.
Palmares pôs à prova a hegemonia da ordem escravocrata e promoveu o enfrentamento a política de submissão ao status quo da época.

Arisia Barros

Em 2000, o Censo do IBGE afirmava que em Alagoas, a população negra correspondia a 67% da população, passados onze anos o número recebeu acréscimos, mas, a imagem política de Alagoas continua aprisionada a estereotipia do Brasil Colônia.
Palmares morreu?

A interinidade do único secretário negro na composição do governo de Alagoas oferece uma maior compreensão das estratégias da elite etnicista, que ao promover a ascensão dos “ não-negros” ao poder, acaba com a fantasia da democracia racial, a propalada miscigenação, gerando assim uma cadeia de comando hegemônica e elitizada.

O discurso do estado é ideológico!

O governo promove um apartheid silencioso, tão naturalizado aos olhos da sociedade, que a “interinidade” do único negro no quadro do poder é detalhe de menor importância.
A expressão máxima da linguagem estatal revestida de estereotipia ao negro e ao descendente de africano fruto da ideologia escravagista tem nome.

A isso damos o nome de racismo institucional que excluem os negros dos cargos galgados por todos, mas, que continuam sendo ocupados só pelos “não negros”, isso significa, tratar de forma desigual os ditos “diferentes”, contraditoriamente em um estado que tem como um dos seus grandes marcos: o grito negro pela equidade.
O racismo institucionalizado é determinante para a exclusão dos afro-descendentes aos equipamentos sociais e a exigüidade desses espaços privilegiados de poder  mimetiza o povo de pele preta,afunilando a dinâmica da sobrevivência identitária e como entidade política.
O poder contemporâneo do estado quase negro, Alagoas mantêm um secular monólogo interior com a elite,  composta por quase todos os homens, quase todos brancos, ditos católicos e heterossexuais.

No quadro que se apresenta, os homens na composição da equipe governamental, representam um percentual assustadoramente desproporcional: 97%. No quesito gênero, a invisibilidade das mulheres traz verdades irrefutáveis: realmente Alagoas é a República dos Marechais!

O padrão é único e indivisível.

Mudaram os personagens, mas a elite detém o poder e autoalimenta a indiferença e passividade social como mecanismo de legitimação do apartheid público e oficial.
E a massa popular denominada de povo, na sua grande maioria pobre, preta, analfabeta e habitante das mal ajambradas periferias, “os vencidos” continua a carregar, por “vinte conto” as bandeiras dos eternos vencedores…

São muitas as linguagens sociais para reinterpretar a simbologia da condição de “passageiro” do único secretário negro da composição de governo.

Alagoas é uma ilha sitiada pelas iniqüidades étnicas e o povo de pele preta, invisibiliza-se em seu lugar de conforto da decantada “morenice”…

Alagoas é uma ilha com mordaças bem atadas nas vozes dos movimentos sociais: negros, feministas e etc,etc,etc.

Quando movimentos sociais não incomodam, o poder inocula neles políticas próprias e universalistas e os imobiliza.

Em Alagoas o povo de pele preta ainda é O estranho.

Estrangeiro no território negro dos Palmares!

A identidade do povo de pele preta nas terras alagoanas é tão transitória quanto o é “passageiro”, o único secretário negro da nova equipe formada pelo reeleito governo de Alagoas.


Fonte: Lista de Discriminação Racial

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