Barack Obama foi além de Michelle e Bill Clinton, que já tinham subido o tom de forma inédita contra um presidente no poder ao discursar na Convenção Nacional Democrata. Mas ele tocou no ponto fundamental: o presidente Donald Trump é uma ameaça à democracia nos EUA, como o colega Jair Bolsonaro é no Brasil.
Ex-presidentes americanos costumam manter a tradição de não atacar seus sucessores imediatos. É uma forma de respeitar as regras não escritas da democracia. Mas Trump desrespeita a escritas e as não escritas.
Restou a Barack Obama mandar a real: “Nossa democracia está em risco”. E acrescentou que as falhas de Trump ao responder à pandemia são responsáveis pela morte de 170 mil americanos por covid-19 e pelo desemprego recorde no país.
Afirmou com todas as letras que Trump ameaçava o futuro da democracia americana. Segundo o ex-presidente, o atual comandante-em-chefe “não cresceu no trabalho [de ser presidente e no sentido de aprender com a responsabilidade da função], porque ele não é capaz”.
Obama disse que Trump e seus aliados “não acreditam na democracia americana”. Pediu aos eleitores que confiassem em Joe Biden, candidato democrata à Casa Branca, e na sua vice, a senadora da Califórnia Kamala Harris. O veterano da rede de TV CNN, o jornalista Wolf Blitzer, disse que nunca viu um ex-presidente atacar o imediato sucessor no poder de forma tão contundente.
O ex-presidente afirmou que Trump, que “só mostra interesse por ele mesmo e quer “tornar difícil” que o americano vote a fim de tentar continuar no poder. Disse que isso se trata de uma sabotagem da democracia “até que não haja democracia”. Ele fez um alerta: “Não deixem que lhe tirem a democracia nem o seu poder [de votar].”
Obama também defendeu Biden. “Há doze anos, quando comecei a procurar um vice-presidente, eu não sabia que encontraria um irmão. (…) Durante oito anos, Joe era o último na sala quando eu enfrentava uma decisão difícil. Ele me fez um presidente melhor.”
Excelente orador, Obama disse que um presidente tem de cuidar de todos os americanos, não importando origem social, credo religioso ou orientação política. Ele pediu que os eleitores democratas votassem, linha que também foi seguida por Kamala Harris.
A vice de Biden foi apresentada logo no início do terceiro dia da Covenção Nacional Democrata. Ela começou falando da importância de votar. Este é um ponto fundamental. Num país em que o voto é facultativo, é vital estimular sua base.
Ela criticou a tentativa de Trump de desestimular voto, que é o modo de mudar das coisas, de transformar o país. “Nesta eleição, temos a chance de mudar o curso da História. (…) Vamos lutar com convicção”, afirmou Harris.
Segundo ela, no futuro, as crianças de hoje perguntarão o que fazíamos para mudar. “Não diremos o que sentíamos, mas o que fizemos”, previu Harris. “Não há vacina contra o racismo”, disse, num ataque direto a Trump.
Outro discurso importante foi o de Hillary Clinton, que perdeu para Trump em 2016. “Eu não percebi como ele era tão perigoso”, disse. Ela defendeu uma união entre diferentes neste momento como algo mais importante do que nunca. Também incentivou pessoas a votar.
A apresentadora da noite foi a excelente atriz Kerry Washington, um dos sorrisos mais belos de Hollywood. A participação da jovem cantora e compositora Billie Eilish também foi um ponto alto da convenção, que terminará nesta quinta em Milwaukee, Wisconsin. Biden e seus familiares falarão no último dia.