Oficina de Roteiro com Mulheres Negras

De 27 de setembro a 15 de outubro, estão abertas as inscrições para o processo seletivo aqui no site

DO MNAV

Um dos mais importantes consultores de roteiro da América Latina, o escritor cubano Eliseo Altunaga, parceiro de Pablo Larrain (Tony Manero, Neruda, No) e Andrés Wood (Machuca, Violeta Foi Para o Céu) estará em São Paulo em novembro para ministrar uma Oficina de Roteiro e uma Masterclass no Espaço Itaú de Cinema Augusta. A ação é uma parceria entre o Espaço Itaú de Cinema e o site Mulheres Negras no Audiovisual Brasileiro.

A partir das inscrições, que vão de 27 de setembro a 15 de outubro, serão selecionadas 15 realizadoras negras de vários locais do país, que trarão argumentos a serem trabalhados em aulas práticas e teóricas conduzidas pelo escritor, proporcionando diálogos e reflexões que gerem ferramentas para o desenvolvimento de estruturas narrativas e personagens, para a escrita dos roteiros e para o futuro desenvolvimento de projetos audiovisuais no formato de curta-metragem.

Dados recentes sobre a participação de mulheres no audiovisual coletados pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema) mostram que um país com 51% de mulheres, há apenas 19% nos cargos de direção e 23% em roteiro. Esses dados já são alarmantes, mas quando relacionados à questão racial, a situação se mostra ainda mais grave. Ainda que a população negra brasileira seja de aproximadamente 53%, o cinema não mostra esse cenário. A presença de pessoas negras nos filmes, séries, novelas, etc, ainda é muito baixa e insuficiente. Tanto em relação à representação na frente das telas, quanto nas equipes atrás das telas.

Em pesquisa realizada em 2014, o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa) da UERJ, buscou traçar o perfil de gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos longas-metragens brasileiros de maior bilheteria entre 2002 e 2012. O resultado mostrou que nosso cinema ainda é branco e masculino tanto dentro como fora das telas. Dos 218 longas-metragens analisados, 86,3% foram dirigidos por homens, sendo que do percentual restante de 13,7% de mulheres diretoras, não há qualquer mulher negra, seja preta ou parda. Além disso, as mulheres negras representam apenas 4,4% das personagens dos filmes. A pesquisa mostra ainda que do universo de 412 roteiristas envolvidos nesses mesmos filmes, somente 26% eram mulheres e, novamente, nenhuma roteirista negra.

Levando em consideração que esses filmes foram os mais vistos pela população, como é possível, em um país de maioria negra, a completa ausência de mulheres negras como diretoras e roteiristas?

A predominância dessa maioria de homens brancos, enquanto realizadores, pode produzir um cinema que reafirma seus valores de gênero e raça e tende a difundir estereótipos e representações inadequadas dos demais grupos sociais, restringindo-os a funções subalternas e submissas. Além disso, tornam invisíveis aspectos culturais e identitários. Muitas vezes, essa ainda é a única voz e forma de representação que é acessível para a maior parte da população.

E qual é o custo disso?

Os meios audiovisuais tendem a dar legitimidade à desigualdade e ao preconceito, justificando e naturalizando as violências físicas e simbólicas praticadas contra diferentes grupos, entre eles as mulheres negras.

O cinema e a televisão são meios que ajudam a formar a percepção das pessoas sobre o mundo e sobre elas mesmas. Quando uma pessoa negra vê um personagem negro de uma forma complexa, aprofundada, com sonhos e realizações, isso influencia diretamente em sua autoestima, ampliando possibilidades, caminhos e vontade de lutar por igualdade de oportunidades e por direitos. A representatividade importa porque tem um enorme poder de multiplicar as vozes que compõem o nosso imaginário. A ampliação da representatividade negra, garantindo uma maior diversidade de representações fortalece a democracia e enriquece o repertório de todos, independente da raça/etnia.

Nesse contexto, surge a Oficina de Roteiro com o roteirista e escritor cubano Eliseo Altunaga que ocorrerá entre os dias 02 e 05 de novembro. Ela nasceu do desejo de fortalecer roteiristas negras brasileiras e suas narrativas autorais.

Para se inscrever para o processo seletivo, leia o Regulamento e preencha o Formulário de inscrição com seus dados, argumento e carta de intenções. Em caso de dúvidas, consulte o regulamento. Das 15 vagas, oito serão destinadas a realizadoras residentes fora de São Paulo, que terão passagem e hospedagem pagas pela oficina. Crianças são bem-vindas para acompanharem suas mães ou cuidadoras nas atividades da oficina.

Eliseo Altunaga também fará uma Masterclass, aberta ao público em geral, que abordará a construção do relato e dos pontos de vista narrativos dialogando com questões de gênero e raça, na qual serão tratados de forma mais resumida alguns dos temas desenvolvidos ao longo do curso. A Masterclass ocorrerá no dia 6 de novembro, na sala 1 do Espaço Itaú Augusta, às 20h.

Eliseo Altunaga

Roteirista, consultor e escritor cubano de 76 anos, Eliseo Altunaga é Decano no Departamento de Roteiro da Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños (EICTV), Cuba, e nos últimos dez anos vem assessorando e co-roteirizando importantes filmes da retomada do cinema chileno, em parcerias com Pablo Larraín (Tony Manero, Postmortem, Neruda e NO – nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro) e Andres Wood (Machuca, Violeta Foi Para o Céu, nomeada ao premio Goya e Melhor Filme Internacional en Sundance). Escreveu roteiros para longa-metragens, telefilmes, séries de TV, programas para a Rádio Cubana, além de haver publicado 8 romances. Professor Titular da Universidade de Arte (ISA), no Departamento de Dramaturgia e Roteiro da Faculdade de Arte, Mídia e Comunicação Audiovisual de Havana, também ministra oficinas e conferências pela América Latina e Europa.

Cronograma

  • 27/09 a 15/10 – Inscrições para a oficina. Leia o Regulamento.
  • 23/10 – Resultado da seleção da oficina
  • 02 a 05/11 das 9h às 15h – Oficina com Eliseo Altunaga no Espaço Itaú Augusta | Anexo – para as realizadoras selecionadas
  • 06/11 às 20h – Masterclass com Eliseo Altunaga no Espaço Itaú Augusta | Sala 1 – aberta ao  público com retirada de ingressos uma hora antes.

Parceria
Espaço Itaú de Cinema
Mulheres Negras no Audiovisual Brasileiro

Apoio
Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro (APAN)

Produção
NOIX CULTURA

+ sobre o tema

Honoris causa a Sueli Carneiro e o desafio de superar a excepcionalidade

A filósofa e ativista Sueli Carneiro é a primeira...

Ministra da Igualdade Luiza Bairros recebe medalha da Ordem do Rio Branco

Honraria foi concedida no Itamaraty como parte das...

Lembrando Luiza Bairros – 12 de Julho de 2016

Luiza Bairros nos deixou no 12 de julho 2016....

para lembrar

Aos 82, Benedita da Silva lembra trajetória de luta pelas minorias: “Ainda falta muito”

A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que...

Os erros das homenagens no Dia Internacional da Mulher

Flores, chocolates e mensagens são presentes inofensivos. Mas, oferecidos...
spot_imgspot_img

Vozes da resistência negra celebram a vida de Leci Brandão

Leci Brandão é uma artista e parlamentar cuja trajetória é marcada pela luta contra o racismo, um combate que atravessa sua música, sua vida...

Pena para feminicídio vai aumentar para até 40 anos

O Congresso aprovou um projeto de lei que aumenta para 40 anos a pena máxima para o crime de feminicídio, que estará definido em um...

Saúde lança programa para reduzir mortalidade materna de mulheres pretas em 50% até 2027

O Ministério da Saúde lançou nesta quinta-feira (12) uma nova versão do projeto Rede Cegonha, criado em 2011 e descontinuado em 2022, voltado para o cuidado...
-+=