Onde vivem os negros

De 2012 a 2022, mostram dados do Ipea, houve crescimento de 211% da população em situação de rua

Quando me deparei com aquele homem imundo, cabelo todo desgrenhado, sentado num contêiner de lixo orgânico numa quadra do Plano Piloto de Brasília, a vontade de chorar bateu forte e lágrimas involuntárias escorreram. É muito triste enxergar a desesperança nos olhos de alguém.

No Brasil, 206.044 pessoas encontram-se sem teto segundo dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua. São homens, mulheres, adolescentes e crianças. A maioria (7 em cada 10) é negra –mais um dos frutos do racismo à brasileira.

Na capital federal, as estimativas dão conta de 7.129 indivíduos nessas condições. O que coloca nossa mais famosa cidade planejada entre os cinco municípios com maior população sem teto do país, ao lado de SP (54.226 pessoas), RJ (12.752), BH (11.111) e Salvador (7.229).

Dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas apontam que, de 2012 a 2022, houve crescimento de 211% da população em situação de rua.

Por definição legal (decreto 7.053/2009), esse é um “grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória”.

Fico me perguntando o que leva o governo de SP a crer que pode mitigar problema tão complexo mandando para roça uma população absolutamente diversa e não necessariamente familiarizada com as lides do campo? Essa gente não vai continuar precisando de um teto? E o direito à liberdade, como fica? Isso sem falar que a pobreza costuma ser mais dura na zona rural.

O coração pode não sentir o que os olhos não veem, mas maquiar a realidade nunca foi solução para problema algum.

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