ONG conclui primeira edição de programa de capacitação a jovens LGBTs+

Embaixadorxs capacitou em empreendedorismo social e liderança 26 jovens brasileiros

Enviado para o Portal Geledés 

O Programa Embaixadorxs, desenvolvido pela ONG TODXS concluiu a primeira edição do programa pioneiro em capacitação de jovens líderes e empreendedores LGBTs+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e outros) com oficinas, consultorias e a Conferência de Jovens Líderes, em São Paulo, no último final de semana.

Durante cinco meses, 26 pessoas de 18 a 25 anos participaram de workshops sobre empreendedorismo social, construção de projetos, liderança, comunicação e história do movimento LGBT+, pelo Programa Embaixadorxs. Todo o treinamento aconteceu de forma online. O evento do qual os jovens participaram em São Paulo foi a primeira vez que se viram presencialmente.

O evento de finalização do programa começou na quinta-feira, dia 2. A quinta e a sexta-feira foram reservadas para oficinas e consultorias. A primeira delas, depois da dinâmica de autoconhecimento que os levou a pensar quais são seus propósitos de vida, foi sobre Sistemas Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos. A oficina apresentou ao “Embaixadorxs” ferramentas e caminhos para garantir direitos. Caminhos que, muitas vezes, são barrados pelos governos municipais, estaduais ou federais e necessitam de instâncias internacionais para serem percorridos.

Em seguida, receberam capacitação sobre como potencializar seus projetos através das redes sociais; política e comunidade LGBT+, metodologia Design Thinking, encerrando o dia com um show de talentos dos participantes, no Hostel Alice, na Vila Madalena em São Paulo.

As oficinas continuaram na sexta-feira, dia 3, sobre construção de pitches e formas de vender projetos para possíveis investidores, como falar em público, promotores e detratores nas redes sociais, inclusão no mercado de trabalho, UX Design e experiência do usuário e sobre influenciadores. Essa última oficina foi oferecida pela ex-apresentadora Regina Volpato, por Estevão do canal Ezatamentchy e Marcell, do canal Chá dos 5.

No sábado, dia 4, os “Embaixadorxs” puderam expor os projetos que desenvolveram durante os cinco meses do programa, na Conferência de Jovens Líderes, que aconteceu no espaço do Impact Hub, em São Paulo. No mesmo dia, aconteceu o painel “Família, Diversidade e Educação”, que contou com a terapeuta especialista em diversidade sexual e questões de gênero, Edith Modesto; a publicitária, diretora de arte e mulher transgênero Neon Cunha; e o jovem “Embaixador” Levi Mota para debater sobre a importância e o papel da família e da educação na relação e aceitação das pessoas
LGBTs+.

Toda a programação dos três dias contou com o patrocínio da Embaixada da Suíça, da Microsoft e Global Changemakers. Os patrocinadores ainda doarão R$ 1.500,00 para três dos 26 projetos desenvolvidos durante o Programa Embaixadorxs que serão selecionados. Trata-se da fase IN-PACTO, que deve acontecer no início de 2018.

Projetos elaborados
Entre os projetos que foram desenhados nesses meses estão: uma Casa de Acolhimento para gays, lésbicas, bissexuais e transexuais expulsos de casa pela família, em Manaus, um programa de integração para pessoas migrantes e refugiadas por motivo de perseguição por conta de orientação sexual e identidade de gênero, no Rio de Janeiro, e um programa de capacitação de professores e alunos sobre orientações de gênero e sexual, em Salvador.

Gabriel Mota, 25 anos, foi um dos participantes do Embaixadorxs. O estudante de Letras da Universidade Federal do Amazonas, inspirado pela Casa 1, que acolhe a população LGBT+ em vulnerabilidade social na cidade de São Paulo, escreveu um projeto para criação de uma casa de acolhimento para abrigar LGBTs+ que foram expulsos de casa por suas famílias em Manaus.

A casa de acolhimento está sendo desenhada para acolher de seis a oito jovens por um período de até seis meses. O local deverá oferecer oficinas de empreendedorismo e recolocação no mercado de trabalho, em parceria com a Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento de Manaus, e contará com o apoio da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) oferecendo aulas para continuação dos estudos, muitas vezes interrompidos. “Principalmente para a população trans, que tem enorme dificuldade de ser contratada pelo mercado formal de trabalho, as aulas de empreendedorismo serão fundamentais para que elas pensem em criar seus próprios negócios”, diz Gabriel.

Além das pessoas LGBTs+ expulsas de casa, é grande o número daquelas que migram em busca de lugares menos discriminatórios. Em 2016, o Brasil recebeu 250 solicitações de refúgio por conta de perseguições relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero. O dado é do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Marina Siqueira

“O que muitas vezes acontece é que as pessoas chegam em seus locais de destino e continuam se sentindo repreendidas em relação a suas identidades e orientações porque não sabem se podem falar sobre isso com qualquer pessoa ou como será sua recepção ao afirmar que é um LGBT+”, explica Marina Siqueira, 23 anos.

Marina desenvolveu, durante o Programa Embaixadorxs, um projeto chamado LGBT+ Movimento. O trabalho visa sensibilizar e articular redes de afeto que facilitem a integração, o acolhimento e expressão das pessoas LGBTs+ deslocadas, migrantes e refugiadas na cidade do Rio de Janeiro.

O projeto inclui pesquisas com a população migrante e a criação de um site com informações importantes para a população LGBT+, como direitos conquistados no Brasil e no Rio de Janeiro, locais mais seguros para a população LGBT+ frequentar, organizações de auxílio, entre outras informações. Além disso, está prevista a produção de conteúdos para cartilhas orientativas destinadas a organizações que atendam pessoas migrantes e refugiadas e sensibilização dessas mesmas organizações em relação às especificidades da população LGBT+.

 

Vanessa Cerqueira

Em outra frente, trabalhando com a educação para prevenção da discriminação de gênero e orientação sexual, Vanessa Cerqueira, 21 anos, de Salvador escreveu um projeto que pretende levar às escolas estaduais de ensino básico de Salvador oficinas e rodas de conversa sobre a comunidade LGBT+, envolvendo professores, alunos e gestores.

“Devemos pensar em uma educação que promova o respeito à diversidade, o direito à educação e a não discriminação por orientação sexual. Há uma extrema necessidade do enfrentamento da LGBTfobia nas escolas””, afirma Vanessa.

De acordo com pesquisa realizada, em 2016, pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), dos 1.016 estudantes com idade entre 13 e 21 anos entrevistados, 60,2% afirmaram ter insegurança na instituição educacional por causa de sua orientação sexual, e 42,8% devido a sua identidade de gênero. 73% deles afirmaram ter sido agredidos verbalmente por causa de sua orientação sexual.

“Combater a LGBTfobia é absolutamente diferente de doutrinar pessoas, como alguns grupos costumam se referir às discussões. Trata-se de educá-los pelo respeito e pelo entendimento das diferenças”, conclui.

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