ONU cita Lei Maria da Penha como pioneira na defesa da mulher

Sancionada em 2006, a lei aumentou as punições em casos de violência doméstica

Um relatório sobre a situação das mulheres no mundo, divulgado nesta quarta-feira pela ONU, cita a Lei Maria da Penha, criada no Brasil para combater a violência doméstica, como uma das pioneiras no mundo na defesa dos direitos das mulheres.

A versão 2011/2012 do relatório Progresso das Mulheres no Mundo tem como foco o acesso da mulher à Justiça. O texto foi elaborado pela UN Women, entidade da ONU em favor da igualdade de gêneros e do fortalecimento da mulher.

Sancionada em 2006, a Lei Maria da Penha aumentou o rigor nas punições aplicadas em casos de violência doméstica. Ela impede, por exemplo, a aplicação de penas alternativas, além de possibilitar a prisão preventiva e a prisão em flagrante dos agressores.

A lei foi batizada a partir do caso da biofarmacêutica Maria da Penha Fernandes, que ficou paraplégica depois de sofrer duas tentativas de assassinato por parte de seu marido, o economista colombiano Marco Antonio Heredia Viveros.

O colombiano foi preso somente em 2002, depois de vários anos de recursos na Justiça e de uma decisão do Tribunal Interamericano de Direitos Humanos, instando o governo brasileiro a tomar medidas em relação ao caso.

Após passar 16 meses na prisão, Heredia passou ao regime semiaberto. Em 2007, o colombiano ganhou liberdade condicional. Atualmente, Maria da Penha atua na defesa dos direitos das mulheres.

– Identificando falhas ou mudando leis que violam princípios constitucionais ou os direitos humanos, tais casos [como o de Maria da Penha] podem motivar ações governamentais para prover aos cidadãos, garantir direitos iguais das minorias ou acabar com a discriminação.

Delegacias da mulher

Além da Lei Maria da Penha, o relatório cita ainda a liderança do Brasil e da América Latina na criação de delegacias especiais para mulheres. O texto afirma que 13 países latino-americanos e caribenhos possuem postos policiais especializados.

– O Brasil abriu a sua primeira delegacia da mulher em 1985, em São Paulo. Hoje existem 450 delegacias da mulher em todo o país. Elas ajudaram a aumentar a conscientização e levaram a uma alta nas denúncias de violência contra mulheres.

O relatório apresenta uma série de recomendações para fazer com que a Justiça funcione com mais eficiência em favor das mulheres. Entre elas, está o maior apoio às organizações femininas, a adoção de cotas para mulheres nos parlamentos, aumentar o número de mulheres na força policial e implementar programas de reparação voltadas para o gênero.

Segundo a diretora-executiva da UN Women e ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, milhões de mulheres ainda vivem uma realidade de distância em relação à Justiça, apesar das garantias de igualdade atualmente disseminadas pelo mundo.

– [O relatório] Mostra que, onde as leis e os sistemas judiciários funcionam bem, eles podem prover um mecanismo essencial para que as mulheres tenham concretizados os seus direitos humanos.

BBC Brasil – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Fonte: R7

+ sobre o tema

Senado aprova dois projetos que endurecem a Lei Maria da Penha

Um assegura prioridade nos processos de divórcio das vítimas,...

Explosão de casos de feminicídio leva a onda de protestos no México

Casos de feminicídio aumentaram 136% nos últimos cinco anos...

para lembrar

Vídeo de assediador agredindo mulher na rua choca a França

Um homem assediou uma estudante francesa em uma rua...

Casos de assédio em trens são enquadrados como importunação sexual

Os casos ocorreram em São Paulo por Camila Maciel no...

Entenda o gaslighting, estratégia de defesa de João de Deus

A estratégia da defesa de João de Deus em...
spot_imgspot_img

Grupo de mulheres brasileiras atua nas Nações Unidas contra o racismo

Em reportagem da TVT, Maria Sylvia de Oliveira, advogada e coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade de Gênero e Raça de Geledés- Instituto...

Geledés reforça a diplomatas brasileiros em NY ideia de formar Major Group na ONU

Nesta terça-feira, 19, em seu último dia de participação na Cúpula dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) 2023, que aconteceu em Nova York, Geledés-...

Anielle Franco defende igualdade racial na lista dos objetivos da ONU para o desenvolvimento sustentável no Brasil

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, defendeu nesta segunda-feira (18) que seja estabelecida uma meta de busca pela igualdade racial no âmbito das...
-+=